Naquela tarde abafada de domingo, Jun estava em seu quarto, o novo celular em mãos, deitado de lado na cama, encarando a tela como se ela fosse lhe dar respostas. O ventilador girava preguiçoso no teto, e o mundo lá fora parecia tão barulhento quanto sua mente.
Ele já havia enviado mensagens para Jessie. Já tinha tentado ligar. Mas o silêncio dela o cortava por dentro.
Jun (em pensamento):
Será que é pelas mensagens não respondidas? Mas eu já expliquei… Eu não fiz por mal. Eu não sumi de propósito. Será que… ela não acredita em mim? Será que eu estraguei tudo?
Ele apertava o celular entre os dedos, angustiado, com o peito pesado.
— “Eu realmente gosto muito dela.”
A voz dele, baixa, vazava pela sala vazia.
— “Eu não sei o que vai ser de mim se ela nunca mais falar comigo.”
Foi então que viu a notificação do Instagram.
“@ki_kiara te marcou em uma publicação.”
Abriu...
Era a foto.
Aquela.
Ele e Kiara, sorrindo, próximos, como se fossem um casal. A legenda brincava com um sentimento que não existia de verdade — pelo menos, não da parte dele.
“Meus dias com você têm sido leves 💛”
Jun sentiu o estômago revirar. O coração acelerou com uma mistura de medo e raiva.
— “Não…” — sussurrou.
Sem pensar duas vezes, Jun se levantou, calçou os tênis, pegou o celular e saiu batendo a porta.
— “Kiara… não.”
—
Quinze minutos depois, Jun tocava a campainha do apartamento de Kiara. As mãos estavam trêmulas. O rosto, quente. O coração, apertado como nunca.
Ela abriu a porta com um sorriso doce.
Kiara:
— Jun! Que surpresa. Quer entrar?
Jun:
— Não. Eu quero saber por que você postou aquela foto.
O sorriso dela vacilou por um segundo.
Kiara:
— Que foto?
Jun:
— Você sabe qual. A que me marcou. A legenda. A intenção.
Você sabia o que aquilo podia causar?
Kiara encostou-se à porta, cruzando os braços.
Kiara:
— Eu só postei porque achei a foto bonita, Jun. Nós estávamos felizes naquele dia. E… eu gosto de você. Achei que… talvez você sentisse o mesmo.
Ele deu um passo para trás, como se tivesse levado um soco no estômago.
Jun:
— Kiara… não. Você é minha prima. Não de sangue, mas… crescemos juntos.
A tia te criou. A minha família te criou. Eu nunca… nunca te vi dessa forma.
Ela desviou o olhar, mordendo o lábio inferior.
Kiara (baixa):
— Mas eu te vejo assim. Há muito tempo. E achei… que talvez, depois que aquela garota foi embora, você se abrisse pra mim.
Jun sentiu a dor subir no peito.
Jun:
— Aquela garota? Kiara… o nome dela é Jessie.
E eu estou apaixonado por ela.
Os olhos de Kiara marejaram. Mas ele continuou.
Jun:
— E por causa da sua foto, ela entendeu tudo errado.
Ela acha que eu tava com você esse tempo todo.
Ela sumiu. Não me responde. Não fala comigo.
E eu tô… eu tô desesperado. Porque ela foi a melhor coisa que me aconteceu nos últimos tempos.
E agora eu posso ter perdido ela.
Kiara tentou disfarçar a dor.
Kiara:
— Você nunca vai sentir por mim o que sente por ela, né?
Jun balançou a cabeça, firme mas com gentileza no olhar.
Jun:
— Kiara, eu te respeito. Muito. Te tenho como parte da minha vida. Mas não como você quer.
Por favor… apaga aquela foto.
E, se puder… não faz isso de novo. Nem comigo, nem com você.
Ela assentiu em silêncio, engolindo o orgulho.
Kiara (sussurrando):
— Tudo bem.
Jun virou de costas e desceu as escadas com passos apressados, a cabeça cheia, o coração ainda mais.
No caminho de volta pra casa, mandou uma última mensagem para Jessie:
Jun 🐰:
“Aquela foto… foi um erro. Ela postou sem me avisar. Ela não é minha namorada. Nem minha ficante. Nem nada. Eu só vejo ela como prima, porque crescemos juntos. Mas você… Jessie, você é quem eu queria do meu lado. Só você.”
Ele olhou para o celular. Nenhuma resposta.
Mas, mesmo assim, decidiu esperar.
Dois dias depois da última mensagem ignorada, Jun não aguentava mais esperar.
O coração pesava como se estivesse sendo espremido entre as próprias costelas. O celular permanecia mudo, e aquela última frase que ele enviou para Jessie — “Só você” — agora ecoava como um grito sem eco.
Ele tomou uma decisão.
Conseguiu, com um pouco de insistência e sinceridade, o contato de Larissa, uma das amigas de Jessie. Explicou tudo: o sumiço, o celular quebrado, a foto com Kiara, o mal-entendido... e, principalmente, o quanto ele estava arrependido.
Jun (mensagem de voz para Larissa):
— Eu juro que só quero uma chance de falar com ela. Não me deixa perder isso… por favor. Mas não diz nada pra ela. Só me ajuda a chegar perto, pra eu olhar nos olhos dela e explicar.
Larissa, embora desconfiada no início, percebeu a sinceridade na voz dele.
E topou ajudar.
Dois dias depois, Jun estava dentro de um avião, observando nuvens se moverem pela janela. No colo, o celular tremia nas mãos. O coração batia tão alto que parecia competir com o barulho dos motores.
— “Eu só quero ver ela de novo. Só quero uma chance…”
Ao chegar ao Rio de Janeiro, Larissa o guiou até o bairro onde Jessie morava, passando o endereço e indicando até uma lanchonete onde ela costumava parar depois do trabalho.
E foi ali… que tudo aconteceu.
Jun desceu do carro de aplicativo e começou a caminhar em direção ao prédio. Mas, antes mesmo de atravessar a rua, seu corpo travou.
Lá estava ela. Jessie.
Sentada na mesa externa da lanchonete, rindo…
Abraçada a um rapaz.
O coração dele gelou. O ciúmes, impiedoso, tomou conta de seu peito.
Jun:
— Jessie, quem é esse aí?
Jessie levantou os olhos, surpresa. A expressão dela congelou por um instante.
Jessie:
— Jun?! O que você tá fazendo aqui?
Jun:
— Eu… eu só queria te ver. Queria conversar com você. Queria te explicar tudo. Mas, pelo visto, você está bem, né?
Jessie:
— Como assim? O que você tá querendo dizer?
Jun (tomando fôlego, voz elevada):
— O que eu tô querendo dizer?
O que eu tô vendo com meus próprios olhos, né, Jessie?
( Ele lança um olhar direto para o rapaz ao lado dela. )
— Então é por isso que você não respondeu as minhas mensagens?
Jessie se levanta, o coração disparado, sem entender o que estava acontecendo. O rapaz também se levanta, confuso com a tensão no ar.
Jessie (tentando manter a calma):
— Não é nada disso que você está pensando, Jun, ele é o…
Jun (interrompendo):
— Quer saber? Não precisa explicar nada.
Agora eu entendo tudo.
Agora eu sei o porquê do seu silêncio.
Jessie (a voz embargada):
— Você tá mesmo fazendo isso? Você quer falar de silêncio?
Quem sumiu primeiro foi você!
Quem tinha algo pra explicar era você, não eu!
Jun (magoado):
— Eu tentei falar! Eu viajei até aqui porque você não quis ouvir!
Jessie (gritando, com os olhos cheios d’água):
— Quer saber, Jun?
Você não devia ter vindo.
Agora tá claro que isso… isso entre nós…
não vai dar certo.
Se é que existia algo entre nós.
Jun (desesperado):
— Jessie…
Jessie (a voz falha, lágrimas nos olhos):
— Esse rapaz aqui…
É o meu irmão, Jun.
Meu irmão.
Silêncio.
Jun congelou. Sentiu o chão sumir sob os pés.
Os olhos arregalados, o peito subindo e descendo rápido.
Jessie abaixou a cabeça, enxugando o rosto com raiva de si mesma e dele. Virou-se sem dizer mais nada e saiu caminhando rápido em direção ao prédio onde morava.
Jun deu um passo para segui-la, mas foi interrompido por Natanael, que segurou seu ombro com firmeza.
Natanael:
— Não agora.
Vocês dois estão de cabeça quente.
Vai só piorar.
Jun ficou ali, parado. A respiração pesada, o arrependimento escorrendo pelos olhos — mesmo que ele não chorasse.
Natanael (mais calmo):
— Eu sei o quanto você gosta dela. Mas, se for de verdade…
espera a hora certa.
Ela tá ferida. E você também.
Volta quando puder conversar… e ouvir também.
Jun assentiu lentamente.
Ficou ali por mais alguns minutos, encarando o caminho por onde Jessie havia ido, como se esperasse que ela voltasse…
Mas ela não voltou.
Naquela noite, o céu do Rio de Janeiro estava nublado.
A cidade ainda pulsava com sua agitação comum, mas o coração de Jessie estava em silêncio.
Um silêncio cheio de ruído.
Assim que entrou no apartamento, subiu correndo as escadas, abriu a porta e foi direto para o quarto. Trancou a porta atrás de si e desabou na cama.
Não chorava alto. Mas as lágrimas escorriam… quentes, amargas.
Ela abraçou o travesseiro e tentou sufocar aquele grito preso.
Lá fora, Jonathan caminhava pelo corredor, parando diante da porta fechada.
Natanael (baixo, com a testa apoiada na madeira):
— Quando quiser conversar, Jess… eu tô aqui, tá?
Mas ela não respondeu. Estava mergulhada no peso da decepção.
Ou talvez fosse orgulho ferido, misturado com medo de se machucar de novo.
—
Enquanto isso, do outro lado da cidade, Jun estava hospedado num pequeno quarto de hotel.
Sentado na beira da cama, o rosto entre as mãos, o celular no colo.
Havia escrito pelo menos dez mensagens para Jessie…
E apagado todas.
Jun (pensando):
"Como pude ser tão burro? Como pude desconfiar dela justo no momento em que precisava confiar mais?"
Ele se deitou, encarando o teto, como se tentasse encontrar as palavras que não soube dizer ali, frente a frente.
Abriu o bloco de notas do celular.
Escreveu.
“Jessie… se você ler isso um dia, só quero que saiba que eu vim até aqui por você. Porque não existe ninguém que me faça sentir o que você me faz sentir. Mas eu errei. Errei ao não confiar, ao não ouvir, ao não perguntar antes de julgar. Me desculpa por ter deixado meu medo falar mais alto. Por ter deixado meu coração gritar o que minha razão não confirmou. Eu não espero que me perdoe agora. Mas vou ficar esperando o dia em que você volte a confiar em mim. Mesmo que só pra me dar um oi. Mesmo que só pra dizer que está bem.”
Ele não teve coragem de enviar.
Apenas salvou.
—
No dia seguinte, Jessie tentou fingir que estava tudo bem.
Na faculdade, Larissa a observava de longe. E quando a viu mexendo no celular, distraída, perguntou:
Larissa:
— Ele falou com você?
Jessie (desviando o olhar):
— Tentou… mas eu não consigo responder.
Ele gritou comigo, Larissa. Desconfiou de mim.
achou que meu irmão era… sei lá.
Larissa:
— Mas você gosta dele, né?
Jessie mordeu o lábio. Não respondeu.
Mas o olhar dizia tudo.
Larissa (gentil):
— Então ouve o que ele tem pra dizer. Nem que seja só pra poder seguir em paz depois.
—
Naquela noite, deitada na cama, Jessie abriu a galeria do celular.
Passou pelas fotos tiradas com Jun no bairro coreano.
As selfies bobas.
O vídeo onde ele derrubava tteokbokki e ela ria como uma criança.
Suspirou.
Abriu o WhatsApp.
Leu as mensagens dele…
Mas ainda não tinha forças pra responder.
Ao mesmo tempo, Jun estava do outro lado da cidade, caminhando próximo da praia de Piratininga, sozinho.
No fone de ouvido, uma música suave em coreano — daquelas que ele gostaria de ter mostrado a ela.
Jun (pensando):
"Se ela quiser que eu vá embora… eu vou. Mas eu precisava tentar."
E ele continuou andando…
Esperando que o tempo trouxesse clareza.
Ou coragem.
—
Naquela madrugada, sem que nenhum dos dois soubesse… Os dois escreveram mensagens.
Ambos apagaram.
E ambos dormiram abraçados a uma saudade que não sabiam mais como cuidar.
O dia amanheceu nublado em Niterói.
O tipo de céu que combina com sentimentos embaralhados, com pensamentos que insistem em pesar.
Jessie chegou à faculdade mais cedo, tentando distrair a cabeça com os trabalhos de roteiro, mas nada fazia sentido. Cada vez que via o celular vibrar, seu coração pulava na esperança de ser Jun… e ao mesmo tempo temia que fosse.
Do outro lado do portão, Jun já estava parado ali há mais de vinte minutos.
O coração batia tão alto no peito que ele achava que qualquer um podia ouvir.
As mãos suadas, os olhos atentos. Até que, por fim, a viu.
Jessie.
Saindo de um dos prédios, com uma pasta nas mãos e os fones no ouvido, ela desceu os degraus apressada. Quando o viu parado à frente, os olhos se arregalaram.
Jessie (baixinho, pra si):
— Não… não aqui…
Ela virou de repente, andando em direção oposta, tentando escapar dele. Mas Jun, sem hesitar, seguiu atrás.
Jun:
— Jessie! Espera… por favor.
Ela apressou o passo, os olhos começando a marejar, Mas ele correu até alcançá-la no gramado lateral do campus, encostando suavemente a mão em seu braço.
Jun (ofegante):
— Por favor… me escuta só um pouco. Eu vim até aqui por você.
Me deixa explicar tudo… por favor.
Jessie parou, de costas para ele. Ficou em silêncio por alguns segundos. Então respirou fundo… e virou-se devagar.
Os olhos estavam brilhando. Não caíam lágrimas, mas estavam ali, presos no canto, esperando permissão pra escorrer.
Jessie (a voz falha):
— Você me magoou, Jun. Você gritou comigo. Desconfiou de mim.
— E eu… eu tava tentando lidar com tudo. Com a saudade, com a distância, com a espera.
E, no fim, fui tratada como culpada… de algo que eu nem fiz.
Jun baixou os olhos, sentindo o coração apertar.
Jun (com a voz baixa e sincera):
— Eu sei… e eu me odeio por isso. Eu deixei o ciúmes me cegar. Fui impulsivo, bobo, imaturo…
E você não merecia isso.
Ele deu um passo à frente, mais próximo.
Jun:
— Jessie, eu não consegui parar de pensar em você. Mesmo sem respostas, mesmo com medo de ter te perdido.
— Eu precisava te ver. Precisava tentar.
Jessie mordeu o lábio, sentindo as lágrimas escaparem, finalmente. Tentou limpar com a manga da blusa, mas Jun, com toda delicadeza, estendeu a mão e enxugou uma lágrima que descia pela bochecha dela.
Jun (sussurrando):
— Eu não vim pra te fazer chorar…
Eu só queria que você soubesse que é importante pra mim. Que eu errei…, mas que quero consertar.
Jessie olhou nos olhos dele, profundamente, como se buscasse respostas entre cada piscada.
E pela primeira vez em dias, o olhar dele transmitia paz. Verdade. E arrependimento.
Jessie:
— Eu também senti sua falta. Só não sabia mais como falar com você… depois daquilo.
— Eu pensei que você tinha seguido em frente… e que eu tinha sido só mais uma garota da viagem.
Jun (balança a cabeça com firmeza):
— Você não foi só mais uma. Você foi a única que me fez comprar uma passagem, atravessar o país, e pedir desculpas de coração aberto.
Eles se olharam por um tempo… e o clima de antes parecia começar a se desfazer, pouco a pouco. Então Jun sorriu, aquele sorriso leve que ela lembrava dos dias no bairro coreano.
Jun:
— Mas, agora que tô aqui… acho justo inverter os papéis.
— Hoje… você é minha guia turística.
Jessie franziu o cenho, rindo entre as lágrimas.
Jessie:
— Ah é? E você vai aguentar andar por Niterói inteira a pé?
Jun (com um olhar brincalhão):
— Se for com você… eu vou até o fim do mundo.
Ela riu, aliviada. O peito já doía menos. A presença dele… trazia de volta o brilho que ela estava tentando esconder nos últimos dias.
Jessie:
— Então me encontra às sete… ali no ponto perto da mercearia.
Vou te mostrar a cidade com meus olhos agora.
Jun (segurando a vontade de abraçá-la):
— Às sete. Ok, eu não vou me atrasar.
Jessie:
— Tá bom, agora eu vou estudar, ainda tenho aquele trabalho pra terminar, nos vemos as sete.😊
Jun:
— Vou esperar ansioso por esse horário. (Sorriu.)
Por fim, com um abraço ambos se despediram e caminharam por direções opostas… mas com os corações quentinhos.
CONTINUA...
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Atualizado até capítulo 29
Comments
Jaku jj
Essa é a melhor história que já li em muito tempo. Parabéns pela criatividade, autora!
2025-06-30
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