Os dias se passavam.
Jessie dividia seus dias entre as aulas de cinema, as tardes na mercearia, os jantares tranquilos com Jonathan… e as noites com Jun, mesmo que só por uma tela.
Eles não falavam em amor. Nunca disseram sentir saudade com todas as letras. Mas havia uma frequência invisível entre os dois — como se o coração de um já tivesse aprendido a acompanhar o ritmo do outro, mesmo separados por cidades diferentes.
Era comum que, entre uma aula e outra, Jessie digitasse rápido no celular:
Jessie:
📲💬“Acabei de ver um comercial com uma atriz coreana e pensei em você.”
Jun 🐰:
📲💬“Espero que ela não tenha tropeçado, senão já sei porque pensou em mim.”
E ela ria sozinha na sala de aula, ignorando o olhar curioso de Larissa ao lado.
—
À noite, quando o silêncio tomava conta do quarto, Jessie se acomodava com o notebook no colo e os pés cobertos pela manta fina. Ligava o abajur com luz âmbar, colocava o celular ao lado e esperava.
Ele sempre chamava antes das 22h. E naquela noite, não foi diferente.
Jun (chamada de vídeo):
— Boa noite, diretora Jessie. Como anda o projeto do curta?
Jessie:
— Travado… igual minha inspiração. Mas vendo você, talvez volte a fluir.
Jun:
— Precisa que eu atue? Posso fazer papel de barista bonito que entrega bingsu e rouba corações.
Jessie:
— Desse você já fez teste e passou. Só não sei se o personagem vai ter um final feliz.
Ele sorriu, levemente. Jessie também. Um daqueles sorrisos que ficam no canto da boca, guardando o que os olhos já confessaram.
Conversavam por horas. Sobre tudo. Sobre nada.
Ela mostrava partes do roteiro, ele falava das pessoas engraçadas que apareciam na cafeteria. Às vezes ele cozinhava durante a chamada e ela fingia que o ajudava. Às vezes só ficavam em silêncio, ouvindo juntos a mesma música.
Havia noites em que Jessie se pegava olhando para ele pela tela com o coração apertado. Queria tocar sua mão, sentir o calor da presença dele, mas o máximo que conseguia era ouvir sua risada ou observar o movimento lento das sobrancelhas dele quando falava sério.
Jessie:
— Jun… você já pensou em como seria se estivéssemos na mesma cidade?
Jun (em voz baixa):
— Todo dia.
O silêncio que veio depois dizia mais que qualquer resposta.
—
Os dias continuavam.
Ela saía da mercearia e, assim que virava a esquina da rua de casa, já desbloqueava o celular.
Jessie:
📲💬“Hoje atendi uma senhora que jurou que eu parecia com a neta dela, que mora em Seul. Me deu vontade de perguntar se ela conhecia você.”
Jun 🐰:
📲💬“Provavelmente sim, a Coreia é bem pequenininha, né?”
E mais uma gargalhada surgia. Uma conversa puxava outra. Uma piada boba virava confissão velada.
—
Num sábado à noite, ela estava deitada no quarto, o ventilador girando devagar no teto. A janela aberta deixava entrar o som distante do mar e de um pagode animado vindo de algum bar próximo. A ligação com Jun estava ativa, mas os dois estavam em silêncio.
Jessie:
— Ainda aí?
Jun:
— Sempre. Tô só ouvindo sua respiração. Acho que virou minha trilha favorita.
Ela sorriu, sem graça, mas com o coração aquecido.
Jessie:
— Você já pensou… se a gente tivesse se conhecido antes? Ou em outro lugar?
Jun:
— Já. Mas se fosse diferente, talvez não fosse tão especial assim. Acho que foi o tempo certo… mesmo que o tempo não ajude.
Ela queria dizer mais. Ele também. Mas nenhum dos dois forçava o momento. Não era a hora de promessas, nem de decisões.
E assim seguiam:
Entre mensagens diárias, ligações longas, áudios de “bom dia” com voz sonolenta, recomendações de filmes e playlists com títulos disfarçados.
Era amor?
Talvez.
Era carinho demais pra ser só amizade?
Com certeza.
Era o momento certo pra algo sério?
Ainda não.
Alguns dias depois...
Já fazia uma semana.
Sete dias sem uma notificação. Sem uma ligação, sem um “como foi seu dia?”. Jessie ainda pegava o celular antes de dormir, encarava a tela escura e deixava os áudios dele rodando em pensamento, tentando entender o que tinha mudado.
No fundo, ela sabia:
Algo estava diferente.
Mas não queria admitir.
Naquela noite de sexta, depois do expediente na mercearia, Jessie chegou em casa com a cabeça baixa, entrou direto no quarto e jogou a mochila no chão. Natanael, sentado no sofá com uma tigela de pipoca, a viu passar e franziu a testa.
Natanael :
— Ué… hoje nem o “boa noite, mano”? Tá acontecendo alguma coisa?
Jessie (forçando um sorriso):
— Cansaço. Só isso.
Mas ele sabia que aquele cansaço tinha nome. E sotaque.
Jessie se trancou no quarto, apagou a luz, deitou na cama e ficou mexendo no celular, deslizando o dedo sem parar pelo Instagram. Até que parou.
Uma notificação.
Uma marcação recente:
@jun.park.juny foi marcado em uma foto.
Ela abriu.
Era uma foto dele com uma garota.
Rostos colados, sorrisos amplos, clima de proximidade. Ela segurava um copo de café igual ao que ele costumava levar para Jessie. E a legenda dizia:
“Meus dias com você têm sido leves 💛”
Jessie ficou olhando para a imagem por longos segundos. O peito apertado, o estômago virado. Aquela dorzinha fina que mistura tristeza com decepção e uma pitada de raiva.
Ela largou o celular no colchão e virou o rosto para o travesseiro.
Jessie (em pensamento):
— Por que ele não disse nada? Por que sumiu? Por que me fez acreditar que eu era especial?
Desde aquela noite, ela parou de mandar mensagens.
Não respondeu mais nada.
Fingiu que não ligava.
Mas se perguntava todos os dias: "Será que ele sequer notou meu silêncio?"
—
No sábado à noite, enquanto estava no sofá da sala, com a TV ligada no volume baixo, o celular vibrou.
Notificação de Jun 🐰:
📲💬“Jessie... acabei de conseguir um celular novo. O antigo quebrou depois de um acidente no metrô. Eu fiquei sem conseguir responder ninguém… mas você foi a primeira que pensei quando liguei esse novo.”
Jessie ficou olhando para a tela. As mãos segurando o celular, mas o coração… inseguro.
Nova mensagem:
📲💬“Vi suas mensagens. Me desculpa por ter sumido. De verdade. Eu devia ter dado um jeito de avisar, mas fiquei sem acesso a tudo.”
Nova mensagem:
📲💬“Senti sua falta. Muito.”
Ligação de Jun…📳
Ela recusou.
Deitou na cama e apertou os olhos. Estava ferida. Não queria admitir o ciúmes — nem o quanto aquilo tinha doído.
💭 "E ele… ele parecia tão tranquilo naquela foto com a garota."💭
—
No domingo, Natanael estava cozinhando macarrão com molho branco quando chamou por ela na cozinha:
Natanael:
— Jess, você tá esquisita. Não é só cansaço. Você vive no mundo da lua, não fala direito com ninguém.
—Tá com saudade de São Paulo? Ou é de alguém de lá?
Ela cortou um pedaço do pão e deu de ombros.
Jessie:
— É só coisa da minha cabeça. Vai passar.
Natanael:
— Se for coração partido, irmã… isso demora um pouco mais. Mas tô aqui, viu? Quando quiser desabafar sem virar meme, tô disponível.
Jessie sorriu, pequena, mas não disse nada.
—
Na segunda-feira, na faculdade, Larissa e Alice sentaram com ela na cantina. Jessie estava calada, mexendo no suco com o canudo.
Larissa:
— Você não respondeu nem no grupo da gente ontem.
Tá tudo bem mesmo?
Alice:
— Aposto que tem a ver com o coreano misterioso…
Jessie tentou rir. Tentou disfarçar. E conseguiu — mas por fora.
Jessie:
— Gente, eu tô bem. Só tô focando em mim agora. Tem muito roteiro pra escrever… e pouca cabeça.
Elas trocaram olhares, respeitando o silêncio. Mas sabiam que Jessie estava segurando algo E de fato estava. Guardando o que sentia. Não por orgulho. Mas porque tinha medo de parecer boba… De dizer “senti sua falta” e ouvir um “eu não”.
—
Enquanto isso, o celular vibrava no bolso.
Mais uma mensagem de Jun:
📲💬“Se você quiser parar de falar comigo, eu vou entender. Só queria que soubesse… que tudo entre nós foi real pra mim.”
Jessie leu, respirou fundo e deixou a notificação sem resposta.
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Atualizado até capítulo 29
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