Capítulo 3: A despedida e a distância...

Depois daquele dia, Jessie e Jun continuaram se falando pelas redes sociais. Trocaram mensagens, memes, playlists. Às vezes conversavam por horas, outras vezes se bastavam em um “bom dia” seguido de um emoji. Mas sempre havia algo doce na forma como se procuravam.

Nas duas semanas seguintes, se encontraram mais algumas vezes — almoços casuais, passeios curtos, uma tarde em uma livraria no centro. Mas agora era sábado à noite, e esse encontro teria um gosto diferente.

Jessie estava prestes a voltar para sua cidade no domingo. O tempo em São Paulo havia passado rápido demais, e o que era pra ser só uma visita à capital se transformou em algo mais… algo que ela não esperava encontrar.

Eles se encontraram na mesma praça onde haviam dividido o primeiro bingsu, mas agora, a feira havia fechado. O local estava mais silencioso, com luzes baixas e o som distante da cidade preenchendo os espaços.

Jessie vestia um casaco leve por cima de seu vestido florido, e Jun a esperava encostado num poste, com as mãos nos bolsos e o olhar baixo. Quando a viu, o sorriso surgiu automaticamente, mas os olhos… ah, os olhos diziam outra coisa.

Jun:

— Você veio.

Jessie:

— Eu não deixaria de vir. Ainda mais hoje.

Eles caminharam devagar até um banco de madeira sob uma árvore iluminada pela luz amarelada de um poste. O ar estava fresco, com um ventinho tímido que balançava os cabelos dela.

Sentaram-se lado a lado. Por um momento, ficaram em silêncio.

Jessie:

— Jun… amanhã eu vou embora.

Ele olhou para frente, sem encará-la, como se já soubesse, mas estivesse tentando atrasar o momento em que teria que aceitar.

Jun:

— Eu imaginei. — ele suspirou. Eu sabia que esse dia ia chegar… só não achei que ia ser tão cedo.

Jessie:

— Eu também não.

Mais um silêncio. Mas era um daqueles silêncios cheios de significado, onde as palavras pesam demais para serem ditas de imediato.

Jun:

— Eu queria dizer que tô feliz por ter te conhecido. Que valeu cada segundo. Mesmo que tenha sido pouco tempo… você deixou uma marca em mim.

Jessie:

— Jun… você me salvou de um tropeço. E eu nem tô falando só do buraco da rua. Eu tava meio perdida… e esses dias com você foram um respiro.

Ele sorriu com os olhos marejados, mas sem lágrimas. O sorriso de quem quer ser forte, mesmo quando algo dentro dele queria pedir pra ela ficar.

Jun:

— Vai ser difícil não te ver por aqui. Mas tudo bem. A gente pode continuar conversando… me chama quando quiser, a qualquer hora.

E quem sabe… um dia você volta. Ou eu vou até você.

Jessie respirou fundo, tentando guardar tudo que sentia naquele instante. As luzes em volta pareciam mais suaves, o mundo girando devagar só pra que aquele momento não passasse tão rápido.

Jessie:

— Eu vou sentir falta do seu sotaque. Das suas piadas ruins. E da sua calma.

Jun:

— Eu vou sentir falta do seu sorriso. E do jeito que você me olhava como se eu fosse mais do que sou.

Eles se entreolharam, mais intensamente agora. Os olhos diziam o que os lábios não precisavam dizer. Não houve beijo, nem promessas exageradas. Mas houve uma conexão. Forte. Real.

Jun se levantou e estendeu a mão para ela.

Jun:

— Vem. Quero te mostrar uma última coisa.

Caminharam até o alto de uma pequena escadaria de pedra no final da praça, onde era possível ver parte da cidade, iluminada e viva.

Jun:

— Aqui é onde eu venho quando preciso pensar. E hoje… quis trazer você.

Jessie encostou a cabeça no ombro dele.

Jessie:

— Obrigada. Por tudo.

Jun:

— Obrigado a você. Por ter aparecido.

Ficaram ali por longos minutos, apenas sentindo o vento, a noite e o silêncio cheio de emoção.

Quando desceram, pararam diante da entrada da estação. Hora da despedida. Mas nem um dos dois queria dar o primeiro passo.

Jessie:

— Acho que é aqui que a gente diz “até logo”.

Jun:

— “Até logo”… e nunca “adeus”. Certo?

Jessie:

— Certo.

Jun:

— Vai em paz, Jessie. E leva com você tudo o que vivemos. Eu vou guardar aqui… — ele colocou a mão no peito …bem aqui.

Ela assentiu, engolindo o nó na garganta, e se aproximou para um último abraço. Firme. Quente. Longo.

Jessie (sussurrando):

— Tchau, Jun.

Jun (sussurrando de volta):

— Tchau… moça que me fez sorrir.

Ela se virou e entrou na estação, mas antes de descer as escadas, olhou uma última vez para trás. Jun ainda estava lá. Parado. Com o mesmo sorriso triste, mas verdadeiro.

Um dia depois...

De volta ao Rio de Janeiro.

Jessie chegou no fim da tarde de domingo em Niterói, cansada da viagem, mas com o coração apertado de saudade. Assim que passou pelo portão do prédio onde morava com o irmão, sentiu um sopro familiar de vida voltando ao lugar certo, mas também sentiu um vazio no peito que não sabia explicar.

Natanael, seu irmão mais velho, veio recebê-la na porta do apartamento com um sorriso caloroso e um copo de suco de manga na mão.

Natanael :

— Olha quem voltou! Trouxe lembrança ou só saudade?

Jessie (rindo):

— Só saudade mesmo. Mas posso contar cada detalhe da viagem… se me prometer não rir de mim.

Natanael:

— Rir de você? Nunca! — Ele ergue a sobrancelha. — Só se for por tropeçar em buracos e se apaixonar em feiras coreanas, aí talvez.

Jessie jogou a mochila no sofá e riu, se jogando ao lado dele.

Jessie:

— Eu não falei nada ainda! Como você sabe?

Natanael:

— Irmão mais velho sente. E você tá com aquele sorrisinho bobo… Não me engana.

Ela escondeu o rosto no travesseiro, rindo e envergonhada.

Na segunda-feira, a rotina recomeçou. Jessie acordou cedo, vestiu sua calça jeans preferida, uma camiseta preta básica e prendeu o cabelo num rabo de cavalo bagunçado. Pegou o ônibus com fone de ouvido e chegou na faculdade de Cinema, onde reencontrou as amigas Larissa e Alice no pátio arborizado.

Larissa:

— Menina, você voltou com um brilho no olhar! Conta, foi SP ou alguém de SP?

Jessie:

— Talvez os dois… — ela disse sorrindo com a xícara de café na mão.

Alice:

— E ele é bonito? Tem sotaque? É coreano? É educado? Ele existe mesmo ou você está escrevendo roteiro?

As três riram juntas.

Jessie:

— Calma! Sim, ele existe. E sim… tem um sotaque que faz meu coração querer escrever trilha sonora. Mas é só amizade… eu acho.

Larissa:

— “Eu acho”… Essa frase sempre vem antes de alguém se apaixonar de verdade.

Entre uma aula e outra, Jessie pensava nele. Relembrava o som da voz dele, os momentos compartilhados nas ruas de São Paulo. Mas nunca dizia com todas as letras que estava com saudade.

À noite, em casa, depois de jantar com Jonathan e ajudá-lo a lavar a louça, Jessie foi para o quarto. As paredes ainda estavam cobertas por pôsteres de filmes coreanos e fotos polaroid com frases escritas à mão. Se jogou na cama, pegou o celular e ali estava a mensagem de Jun, enviada minutos antes:

Jun 🐰:

“Como foi seu primeiro dia de volta? Ainda lembra de mim ou já esqueceu meu sotaque?”

Jessie:

“Nunca vou esquecer. Nem se eu ouvir 10 brasileiros me dizendo a mesma frase. Foi um dia cheio, mas pensei em você mais vezes do que deveria.”

Ela hesitou antes de mandar. Mas mandou.

A resposta veio rápido:

Jun 🐰:

“Ainda bem… porque eu também pensei em você o tempo todo.”

Sorrindo sozinha no quarto, ela colocou o celular no peito, fechou os olhos por alguns segundos e suspirou. Depois, começaram uma videochamada. Jun estava em seu quarto em São Paulo, com as luzes apagadas e a janela aberta, deixando entrar o barulho da cidade.

Jun:

— Você parece cansada.

Jessie:

— Um pouco. Mas ouvir sua voz ajuda.

Jun:

— Então… posso ser seu calmante oficial agora?

Jessie:

— Pode. Mas só se continuar me mandando áudios falando “petisca”.

Ele riu alto, com aquele jeitinho meigo que a fazia rir de volta.

Conversaram sobre tudo e nada. Sobre os planos dela para um novo projeto de curta-metragem, sobre os clientes engraçados que ele atendia na cafeteria onde começou a trabalhar. Contaram seus dias como quem compartilha segredos.

Durante a semana, Jessie voltou ao trabalho de meio período na mercearia do bairro. Os corredores estreitos, o som do ventilador antigo e os clientes de sempre fizeram tudo parecer como antes… exceto que ela agora digitava mensagens escondidas entre uma reposição e outra:

Jessie:

“Acabei de derrubar um pacote de arroz tentando ver sua mensagem, olha o que você tá causando.”

Jun:

“Talvez eu queira causar mais bagunça ainda. Mas… só no seu coração.”

Ela riu baixinho enquanto o senhor da fila perguntava onde estavam os biscoitos.

Às noites, Jessie escrevia no caderno de roteiro enquanto ouvia as músicas que Jun indicava. Criava histórias, rabiscava ideias, mas se pegava sempre voltando ao rosto dele em pensamentos.

E assim os dias iam passando:

Distantes no mapa, próximos no sentimento.

Sem dizer “eu gosto de você” com todas as letras… mas dizendo com cada gesto, cada palavra enviada no fim do dia, cada “você tá aí?” seguido de um “tô, sempre tô”.

CONTINUA...

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Comments

Ermintrude

Ermintrude

Totalmente inesperado!

2025-06-30

2

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