Entre Dois Fogo
Noah
Tudo estava fora do lugar dentro de mim.
A casa de Dante era grande demais. Silenciosa demais. E ultimamente... observada demais.
Eu percebia os olhos dele em mim. Queimando. Como se estivesse à beira de algo que ele tentava controlar — e não conseguia.
Mas o que eu não esperava era acordar naquela manhã e dar de cara com Julián na sala.
De camisa social dobrada nos braços, ele parecia deslocado ali. E ainda assim, pertencia.
— O que você tá fazendo aqui? — perguntei, surpreso.
Ele me olhou, hesitante, mas sincero.
— Eu vim te ver.
Antes que eu pudesse responder, ouvi o estalar da porta pesada atrás de mim.
Dante entrou. E a tensão invadiu o cômodo como um veneno invisível.
Dante
Ele teve a audácia de vir até minha casa.
De olhar pro garoto que eu protejo, que eu sustento, que eu quero — como se tivesse direito.
— Você perdeu a noção, juiz? — rosnei, caminhando até eles.
— Vim conversar com Noah — respondeu, calmo. — Não preciso da sua permissão.
— Mas precisa da minha paciência. E ela tá se esgotando.
Julián me olhou com aquele velho desprezo que só ele sabia exibir — e por trás disso, o mesmo desejo maldito que ele escondia desde os 17.
— Você não sabe amar, Dante. Só sabe possuir.
— E você? Ama com distância? Com toga e julgamento?
Noah estava no meio. Literalmente.
De pé entre nós dois. Os olhos arregalados. A respiração curta.
— Chega! — ele explodiu. — Eu não sou território! Nem troféu de guerra entre vocês dois!
O silêncio foi cortante.
Mas o que veio em seguida... foi pior.
Julián
Ele me encara como se eu fosse o vilão.
Mas o vilão foi ele.
O vilão é ele.
— Você não percebe, Noah? — disse, me aproximando do garoto. — Ele não aceita dividir. Nem o poder. Nem você.
Dante avançou um passo.
— E você não aceita que eu o conheço melhor do que qualquer um. Ele precisa de alguém que lute por ele. Não que o julgue.
— Eu não o julgo. Eu o admiro — murmurei, olhando direto nos olhos de Noah.
Dante fechou os punhos.
Noah... corou.
E naquele instante, percebi que ele também me desejava.
Assim como desejava Dante.
E isso foi o estopim.
Noah
Os dois se encaravam como predadores.
E eu… como a presa.
Mas no fundo, algo dentro de mim queria ser tocado por ambos.
Queria saber como seria a dor de Dante em meus lábios.
E a gentileza contida de Julián me invadindo em silêncio.
Eu queria os dois.
E isso... era o meu maior pecado.
Dante
Ele se aproximou demais.
O juiz arrogante, a droga do homem que partiu meu coração como se eu fosse descartável, agora estava ali... a centímetros de Noah. O garoto que, sem perceber, acendeu tudo o que eu jurei enterrar.
— Afasta — rosnei, dando um passo. Meu corpo inteiro vibrava com raiva e... com medo.
— Por quê, Dante? — Julián me encarou. — Porque ele escolheu me ouvir?
— Porque você não merece nem o ar que ele respira.
Julián riu, amargo. — E você merece?
Meu punho fechou. A respiração ficou rasa. Eu não ia aguentar muito mais.
E então... Noah tocou minha mão.
— Para, Dante... — sussurrou. — Por favor.
Meu olhar caiu sobre ele. O toque era leve. Mas me desarmou mais do que qualquer golpe.
Ele não me temia. Não ainda.
Mas se eu não parasse... ele teria medo.
E isso eu não suportaria.
Afastei um passo.
Mas Julián não.
Ele se virou para Noah. — Você precisa sair daqui. Ele vai te engolir. Te transformar em mais uma peça desse império sujo.
— E você? Vai me salvar com regras, com leis que nunca funcionaram pra gente? — Noah retrucou, com a voz embargada.
Silêncio.
Ele estava cansado. Perdido. Entre dois homens que o puxavam para lados opostos, com promessas que nem eles mesmos sabiam se poderiam cumprir.
Noah
Eles me olhavam como se eu fosse algo precioso. Como se... eu fosse o que restava do que eles foram um dia.
Mas eu não queria ser símbolo de redenção de ninguém. Eu só queria... ser visto.
— Vocês me querem? — perguntei, com a voz baixa. — Então olhem pra mim. Me escutem.
Caminhei até Julián. Acariciei seu peito sobre o tecido engomado. Ele fechou os olhos, tremendo.
— Você tem medo do que sente, né?
Ele assentiu, quase imperceptível.
Virei-me para Dante. Toquei seu rosto, áspero e quente.
— E você… tem medo de perder o controle.
Ele me puxou pelo pulso, de forma instintiva. Rápida. Intensa.
Ficamos ali, os três.
Eu entre eles.
Entre o passado que nunca morreu...
E um futuro que ninguém sabia se era possível.
Julián
Noah era o centro.
E eu e Dante... orbitávamos ao redor dele. Com medo. Com desejo. Com raiva.
A boca de Dante estava perto demais. Sua respiração atingia meu pescoço como um raio antigo, familiar, maldito.
— Isso vai nos destruir — murmurei.
— Já tá nos destruindo — ele respondeu, com um meio sorriso cansado.
E naquele instante... pensei em beijá-lo.
Ou socá-lo.
Ou ambos.
Mas Noah nos impediu.
— Eu não quero ser motivo de guerra. Mas... se for pra ser de vocês, que seja inteiro. Sem jogos. Sem máscaras.
Meu coração deu um pulo.
Dante o encarou, surpreso.
E eu... me rendi.
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Atualizado até capítulo 30
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