Capítulo 5

Entre Dois Fogo

Noah

Tudo estava fora do lugar dentro de mim.

A casa de Dante era grande demais. Silenciosa demais. E ultimamente... observada demais.

Eu percebia os olhos dele em mim. Queimando. Como se estivesse à beira de algo que ele tentava controlar — e não conseguia.

Mas o que eu não esperava era acordar naquela manhã e dar de cara com Julián na sala.

De camisa social dobrada nos braços, ele parecia deslocado ali. E ainda assim, pertencia.

— O que você tá fazendo aqui? — perguntei, surpreso.

Ele me olhou, hesitante, mas sincero.

— Eu vim te ver.

Antes que eu pudesse responder, ouvi o estalar da porta pesada atrás de mim.

Dante entrou. E a tensão invadiu o cômodo como um veneno invisível.

Dante

Ele teve a audácia de vir até minha casa.

De olhar pro garoto que eu protejo, que eu sustento, que eu quero — como se tivesse direito.

— Você perdeu a noção, juiz? — rosnei, caminhando até eles.

— Vim conversar com Noah — respondeu, calmo. — Não preciso da sua permissão.

— Mas precisa da minha paciência. E ela tá se esgotando.

Julián me olhou com aquele velho desprezo que só ele sabia exibir — e por trás disso, o mesmo desejo maldito que ele escondia desde os 17.

— Você não sabe amar, Dante. Só sabe possuir.

— E você? Ama com distância? Com toga e julgamento?

Noah estava no meio. Literalmente.

De pé entre nós dois. Os olhos arregalados. A respiração curta.

— Chega! — ele explodiu. — Eu não sou território! Nem troféu de guerra entre vocês dois!

O silêncio foi cortante.

Mas o que veio em seguida... foi pior.

Julián

Ele me encara como se eu fosse o vilão.

Mas o vilão foi ele.

O vilão é ele.

— Você não percebe, Noah? — disse, me aproximando do garoto. — Ele não aceita dividir. Nem o poder. Nem você.

Dante avançou um passo.

— E você não aceita que eu o conheço melhor do que qualquer um. Ele precisa de alguém que lute por ele. Não que o julgue.

— Eu não o julgo. Eu o admiro — murmurei, olhando direto nos olhos de Noah.

Dante fechou os punhos.

Noah... corou.

E naquele instante, percebi que ele também me desejava.

Assim como desejava Dante.

E isso foi o estopim.

Noah

Os dois se encaravam como predadores.

E eu… como a presa.

Mas no fundo, algo dentro de mim queria ser tocado por ambos.

Queria saber como seria a dor de Dante em meus lábios.

E a gentileza contida de Julián me invadindo em silêncio.

Eu queria os dois.

E isso... era o meu maior pecado.

Dante

Ele se aproximou demais.

O juiz arrogante, a droga do homem que partiu meu coração como se eu fosse descartável, agora estava ali... a centímetros de Noah. O garoto que, sem perceber, acendeu tudo o que eu jurei enterrar.

— Afasta — rosnei, dando um passo. Meu corpo inteiro vibrava com raiva e... com medo.

— Por quê, Dante? — Julián me encarou. — Porque ele escolheu me ouvir?

— Porque você não merece nem o ar que ele respira.

Julián riu, amargo. — E você merece?

Meu punho fechou. A respiração ficou rasa. Eu não ia aguentar muito mais.

E então... Noah tocou minha mão.

— Para, Dante... — sussurrou. — Por favor.

Meu olhar caiu sobre ele. O toque era leve. Mas me desarmou mais do que qualquer golpe.

Ele não me temia. Não ainda.

Mas se eu não parasse... ele teria medo.

E isso eu não suportaria.

Afastei um passo.

Mas Julián não.

Ele se virou para Noah. — Você precisa sair daqui. Ele vai te engolir. Te transformar em mais uma peça desse império sujo.

— E você? Vai me salvar com regras, com leis que nunca funcionaram pra gente? — Noah retrucou, com a voz embargada.

Silêncio.

Ele estava cansado. Perdido. Entre dois homens que o puxavam para lados opostos, com promessas que nem eles mesmos sabiam se poderiam cumprir.

Noah

Eles me olhavam como se eu fosse algo precioso. Como se... eu fosse o que restava do que eles foram um dia.

Mas eu não queria ser símbolo de redenção de ninguém. Eu só queria... ser visto.

— Vocês me querem? — perguntei, com a voz baixa. — Então olhem pra mim. Me escutem.

Caminhei até Julián. Acariciei seu peito sobre o tecido engomado. Ele fechou os olhos, tremendo.

— Você tem medo do que sente, né?

Ele assentiu, quase imperceptível.

Virei-me para Dante. Toquei seu rosto, áspero e quente.

— E você… tem medo de perder o controle.

Ele me puxou pelo pulso, de forma instintiva. Rápida. Intensa.

Ficamos ali, os três.

Eu entre eles.

Entre o passado que nunca morreu...

E um futuro que ninguém sabia se era possível.

Julián

Noah era o centro.

E eu e Dante... orbitávamos ao redor dele. Com medo. Com desejo. Com raiva.

A boca de Dante estava perto demais. Sua respiração atingia meu pescoço como um raio antigo, familiar, maldito.

— Isso vai nos destruir — murmurei.

— Já tá nos destruindo — ele respondeu, com um meio sorriso cansado.

E naquele instante... pensei em beijá-lo.

Ou socá-lo.

Ou ambos.

Mas Noah nos impediu.

— Eu não quero ser motivo de guerra. Mas... se for pra ser de vocês, que seja inteiro. Sem jogos. Sem máscaras.

Meu coração deu um pulo.

Dante o encarou, surpreso.

E eu... me rendi.

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!