Capítulo 4

O Julgamento de Si Mesmo (Passado de Julián)

Seis Anos Atrás

Dante me esperava na laje. Os olhos dele brilhavam sob o céu nublado, e o cigarro pendia dos lábios enquanto ele fingia que não se importava com nada — como sempre fazia.

Mas eu conhecia aquele olhar. Ele estava com medo.

Medo de mim.

— O que houve? — perguntei, sentando ao lado dele, os joelhos encostando por descuido.

— Seu pai descobriu, não foi? — ele soltou, amargo.

Eu não respondi. O silêncio foi minha única resposta.

Dante soltou um riso sem humor. — Sabia que isso ia acontecer. Você é bom demais pra esse mundo. Demais pra mim.

— Cala a boca.

— Você vai embora.

— Eles querem que eu vá pra Brasília, estudar Direito. Dizem que posso ser alguém...

— Já é alguém pra mim.

Meus olhos se encheram de água. E quando o abracei, ele não resistiu. Apertou meus ombros como se quisesse gravar meu corpo em suas mãos. E talvez quisesse.

Naquela noite, fizemos amor como se fosse a última vez. E foi.

Na manhã seguinte... eu fui.

Julián – ( Depois da Partida )

Brasília era tudo o que eu sonhava. E tudo o que eu odiava.

Salas brancas, rostos de terno, palavras difíceis e olhares vazios.

Lá, eu podia ser “Julián Albuquerque, futuro juiz federal”.

Mas por dentro, continuava sendo o menino que deixou o amor da sua vida pra trás.

Nos primeiros meses, tentei escrever. Mas as mensagens nunca foram enviadas. A vergonha me impedia.

E quando soube que o pai de Dante havia morrido em um tiroteio... eu soube o que viria a seguir.

Ele herdaria o trono. O sangue. A guerra.

E eu não estaria lá.

Fiz o que sabia fazer: mergulhei nos livros. Me tornei o melhor aluno. O mais frio. O mais técnico. O mais... intocável.

Mas à noite, quando fechava os olhos, o cheiro da pele dele ainda estava comigo.

Julián – ( Agora )

Hoje sou juiz federal.

Tenho respeito, cargo, status...

E uma vida vazia.

Nunca me casei. Nunca confiei em ninguém o bastante pra me despir de novo.

E então... Noah apareceu.

Com os olhos doces de quem ainda acredita nas pessoas.

Com a mesma coragem que Dante tinha. E a mesma pureza que eu destruí dentro de mim.

E ver os dois juntos...

Era como reviver uma ferida.

Era como ser forçado a olhar no espelho.

Era como… ser julgado todos os dias pelo que fui covarde demais pra manter.

Julián – ( Voz Interna )

> “Eu não fui embora porque quis.

Eu fui porque meu amor era um crime.

E no fim, o sistema me venceu.

Agora… é tarde demais pra pedir perdão.

Mas talvez… não seja tarde pra impedir Dante de arrastar Noah pro mesmo abismo que me engoliu.”

Julián

O que me assusta não é o poder de Dante.

É o fato de que... ele ainda me conhece.

Mesmo depois de tudo. Mesmo depois dos anos, dos silêncios, das escolhas. Ele olha pra mim e me desmonta como se cada camada da minha armadura fosse de vidro.

Mas agora, não é só ele.

Noah.

Esse garoto me bagunça.

Talvez por me lembrar de quem eu fui. Ou talvez porque me mostra tudo o que eu poderia ter sido, se não tivesse fugido.

Ele tem a inocência que o mundo me roubou.

E a coragem que Dante nunca perdeu.

E entre nós três... há uma linha tênue de desejo, medo e algo que ninguém quer nomear.

Noah

— Ele te magoou? — perguntei a Dante naquela noite, com os dedos trêmulos sobre a xícara quente.

Ele me olhou de canto, os olhos escurecidos por lembranças que eu não conhecia.

— Ele me deixou — respondeu, simples.

— Você o amava?

Silêncio.

E então:

— Como um homem ama outro homem quando o mundo inteiro diz que é errado.

Meus lábios secaram.

Porque, por mais que eu tentasse ignorar, algo dentro de mim também ardia por ambos.

Dante era sombra, calor e perigo.

Julián era controle, honra e silêncio.

E eu... estava me afogando no meio deles.

Julián

Naquela noite, bebi mais do que deveria. Revirei o celular cinco vezes. Toquei a tela, abri a imagem de Noah na audiência.

O rosto dele, quando me olhou pela primeira vez, estava gravado em mim.

Fechei os olhos. Imaginei seus dedos sobre os meus. Seus olhos perdidos nos meus.

Minha mente me traiu: por um segundo, foi Dante quem apareceu atrás de Noah, puxando-o pela cintura, sussurrando algo em seu ouvido.

E os dois... me olhando.

Meu coração acelerou. Minha pele ardeu.

E eu soube.

A verdade cruel e inevitável.

> Eu nunca parei de amar Dante.

E agora... estou começando a amar Noah também.

Isso não é amor. É loucura.

Mas talvez, só talvez...

A loucura seja o único lugar onde nossos três mundos possam se encontrar sem ruir.

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