A História por Trás de Dante e Julián
Dante
A primeira vez que vi Julián, ele ainda era só um garoto de olhos arrogantes e postura limpa demais pro mundo onde crescemos.
A favela do Capim Seco não era lugar pra sonhos. Mas ele tinha um. E um orgulho do tamanho de uma cidade.
A gente cresceu lado a lado. Ou melhor: quase lado a lado.
Ele com as roupas passadas pela mãe costureira. Eu com os tênis furados e a mão no bolso pra esconder a fome.
Mas mesmo diferentes, éramos iguais demais pra nos ignorar.
Trocávamos socos e silêncios. Gritávamos e nos protegíamos.
E à noite... dividíamos segredos num canto escuro do telhado onde ninguém via.
Ele era meu primeiro tudo.
Meu primeiro beijo. Meu primeiro desejo proibido.
— Isso é errado — ele dizia, depois de me beijar como se o mundo fosse acabar. — A gente nunca vai ter paz vivendo assim.
— A gente já não tem paz, Julián — eu respondia, encostado no peito dele. — Então foda-se.
Mas o tempo passou. E o mundo levou ele embora.
E me deixou… com sangue nas mãos e o nome do meu pai estampado nos jornais como um monstro.
Quando ele voltou, anos depois, de terno e gravata, com ares de juiz, fingindo que não me conhecia...
A raiva virou algo ainda mais podre.
Traição.
Porque ele não só me deixou.
Ele se tornou tudo o que dizia odiar.
E eu nunca perdoei.
Julián
A primeira vez que beijei Dante, eu soube que estava ferrado.
Ele tinha os olhos mais perigosos que eu já tinha visto. E o coração mais ferido também.
A gente cresceu cercado de lama e tiros. Enquanto eu me agarrava aos livros, ele se agarrava às ruas.
Mas nas noites em que nos encontrávamos escondidos, nada disso importava.
Eu o amava. Com uma intensidade que me assustava.
Mas a gente sabe como é: o mundo não perdoa amor entre dois meninos da favela. Principalmente quando um deles tem o sobrenome Salvatore.
Quando meu pai descobriu, me mandou pra longe. E eu fui.
Covarde. Fraco. Desgraçadamente quebrado por dentro.
Anos depois, voltei.
Agora eu era o juiz. Ele, o novo Don do crime. E entre nós, uma barreira que jamais deveria ter existido.
Mas quando nossos olhos se cruzaram de novo, num corredor frio de audiência...
Eu soube que o que havia entre nós nunca morreu.
Só tinha virado algo mais perigoso.
Mais quente.
E completamente fora de controle.
Dante
Ele me olha como se me odiasse.
Mas sei exatamente como ele respirava quando gemia meu nome entre dentes.
Sei onde o corpo dele estremece. Sei o gosto da raiva misturada com tesão.
Ele me abandonou.
E agora paga de herói.
Mas eu vou destruir essa pose limpa dele.
Vou fazê-lo lembrar quem ele era. Quem nós fomos.
E dessa vez... ele não vai escapar.
Nem do passado.
Nem de mim.
Nem do garoto de olhos doces que apareceu no meio disso tudo — e que tem o dom de despertar o pior em mim… e talvez o melhor nele.
Noah
— Você vai ao centro hoje? — perguntou Léo, meu colega da faculdade.
— Não. Tenho um... compromisso — respondi, meio sem saber explicar o que Dante significava agora.
Ele me hospedou. Me deu comida. Silêncio. E um quarto com tranca do lado de dentro.
Mas também olhares longos demais. Presença pesada demais. E um controle que eu fingia não perceber.
Naquela tarde, ele mandou um motorista me buscar. Disse que queria me mostrar “algo importante”.
Mas quando o carro parou em frente ao tribunal federal, meu estômago revirou.
— O que eu tô fazendo aqui?
O segurança apenas disse:
— O juiz pediu pra conversar com você. Em particular.
Meu coração quase parou.
Julián.
Julián
Noah entrou com passos curtos e olhos assustados. Mas ainda assim, manteve o queixo erguido.
Ele tinha a mesma coragem nos olhos de quando se defendeu no tribunal. E também uma inocência que me desarmava.
— Noah — falei baixo, quase num sussurro.
— Senhor... juiz — ele hesitou.
— Julián — corrigi. — Aqui, somos só nós dois.
Ele se sentou. As mãos trêmulas seguravam a borda da camisa.
— Por que eu tô aqui?
— Porque eu sei onde você está se metendo.
Ele me olhou, confuso.
— Dante Salvatore não é um homem comum, Noah.
— Eu sei disso. Mas ele me ajudou quando ninguém mais... — sua voz falhou. — Ele me deu abrigo.
Senti a raiva queimar minha garganta. Não de Noah. Mas de Dante.
— Ele não ajuda ninguém sem querer algo em troca.
— E o senhor? — retrucou. — Também me ajudou. Mas nunca mais olhou na minha cara.
Engoli seco.
Porque ele estava certo.
— Eu só quero te proteger.
— Mas parece que vocês dois estão me disputando. E eu nem sei por quê.
Ah, se ele soubesse...
Dante
Eu esperei do lado de fora.
Encostado no carro, fumando um cigarro que já tinha perdido o gosto.
Sabia que Julián o chamaria. Sabia que tentaria parecer o herói mais uma vez.
Mas Noah era meu.
Não porque eu o possuía.
Mas porque, pela primeira vez em anos, alguém me fez querer ser outra coisa além de um monstro.
Quando Noah saiu, seus olhos vinham marejados. E quando me viu, hesitou.
— Ele falou coisas sobre você — murmurou.
— Eu sei — respondi. — Julián fala demais. Mas nunca teve coragem de ficar.
— Ficar onde?
— Comigo.
Ele arregalou os olhos.
— Vocês dois...?
— Tivemos um passado — disse, aproximando-me dele. — Mas ele escolheu fingir que nunca existiu. Agora está tentando roubar o que ainda não é dele.
— E eu sou o quê? Um prêmio?
— Não, Noah — murmurei, tocando de leve seu rosto. — Você é a única coisa real que apareceu entre nós em anos.
E é por isso... que ele não vai te ter.
Julián
Quando vi Noah entrar no carro de Dante, com os olhos perdidos e o coração dividido, senti algo que não sentia desde a juventude:
Ciúme.
Mas não era só ciúme de Dante com ele.
Era do que eles estavam construindo.
Do que eu perdi.
E talvez... do que ainda queria ter de volta.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 30
Comments
Arenzhya
mais .mais mais mais
2025-06-30
0