Capítulo 3

 A História por Trás de Dante e Julián

Dante

A primeira vez que vi Julián, ele ainda era só um garoto de olhos arrogantes e postura limpa demais pro mundo onde crescemos.

A favela do Capim Seco não era lugar pra sonhos. Mas ele tinha um. E um orgulho do tamanho de uma cidade.

A gente cresceu lado a lado. Ou melhor: quase lado a lado.

Ele com as roupas passadas pela mãe costureira. Eu com os tênis furados e a mão no bolso pra esconder a fome.

Mas mesmo diferentes, éramos iguais demais pra nos ignorar.

Trocávamos socos e silêncios. Gritávamos e nos protegíamos.

E à noite... dividíamos segredos num canto escuro do telhado onde ninguém via.

Ele era meu primeiro tudo.

Meu primeiro beijo. Meu primeiro desejo proibido.

— Isso é errado — ele dizia, depois de me beijar como se o mundo fosse acabar. — A gente nunca vai ter paz vivendo assim.

— A gente já não tem paz, Julián — eu respondia, encostado no peito dele. — Então foda-se.

Mas o tempo passou. E o mundo levou ele embora.

E me deixou… com sangue nas mãos e o nome do meu pai estampado nos jornais como um monstro.

Quando ele voltou, anos depois, de terno e gravata, com ares de juiz, fingindo que não me conhecia...

A raiva virou algo ainda mais podre.

Traição.

Porque ele não só me deixou.

Ele se tornou tudo o que dizia odiar.

E eu nunca perdoei.

Julián

A primeira vez que beijei Dante, eu soube que estava ferrado.

Ele tinha os olhos mais perigosos que eu já tinha visto. E o coração mais ferido também.

A gente cresceu cercado de lama e tiros. Enquanto eu me agarrava aos livros, ele se agarrava às ruas.

Mas nas noites em que nos encontrávamos escondidos, nada disso importava.

Eu o amava. Com uma intensidade que me assustava.

Mas a gente sabe como é: o mundo não perdoa amor entre dois meninos da favela. Principalmente quando um deles tem o sobrenome Salvatore.

Quando meu pai descobriu, me mandou pra longe. E eu fui.

Covarde. Fraco. Desgraçadamente quebrado por dentro.

Anos depois, voltei.

Agora eu era o juiz. Ele, o novo Don do crime. E entre nós, uma barreira que jamais deveria ter existido.

Mas quando nossos olhos se cruzaram de novo, num corredor frio de audiência...

Eu soube que o que havia entre nós nunca morreu.

Só tinha virado algo mais perigoso.

Mais quente.

E completamente fora de controle.

Dante

Ele me olha como se me odiasse.

Mas sei exatamente como ele respirava quando gemia meu nome entre dentes.

Sei onde o corpo dele estremece. Sei o gosto da raiva misturada com tesão.

Ele me abandonou.

E agora paga de herói.

Mas eu vou destruir essa pose limpa dele.

Vou fazê-lo lembrar quem ele era. Quem nós fomos.

E dessa vez... ele não vai escapar.

Nem do passado.

Nem de mim.

Nem do garoto de olhos doces que apareceu no meio disso tudo — e que tem o dom de despertar o pior em mim… e talvez o melhor nele.

Noah

— Você vai ao centro hoje? — perguntou Léo, meu colega da faculdade.

— Não. Tenho um... compromisso — respondi, meio sem saber explicar o que Dante significava agora.

Ele me hospedou. Me deu comida. Silêncio. E um quarto com tranca do lado de dentro.

Mas também olhares longos demais. Presença pesada demais. E um controle que eu fingia não perceber.

Naquela tarde, ele mandou um motorista me buscar. Disse que queria me mostrar “algo importante”.

Mas quando o carro parou em frente ao tribunal federal, meu estômago revirou.

— O que eu tô fazendo aqui?

O segurança apenas disse:

— O juiz pediu pra conversar com você. Em particular.

Meu coração quase parou.

Julián.

Julián

Noah entrou com passos curtos e olhos assustados. Mas ainda assim, manteve o queixo erguido.

Ele tinha a mesma coragem nos olhos de quando se defendeu no tribunal. E também uma inocência que me desarmava.

— Noah — falei baixo, quase num sussurro.

— Senhor... juiz — ele hesitou.

— Julián — corrigi. — Aqui, somos só nós dois.

Ele se sentou. As mãos trêmulas seguravam a borda da camisa.

— Por que eu tô aqui?

— Porque eu sei onde você está se metendo.

Ele me olhou, confuso.

— Dante Salvatore não é um homem comum, Noah.

— Eu sei disso. Mas ele me ajudou quando ninguém mais... — sua voz falhou. — Ele me deu abrigo.

Senti a raiva queimar minha garganta. Não de Noah. Mas de Dante.

— Ele não ajuda ninguém sem querer algo em troca.

— E o senhor? — retrucou. — Também me ajudou. Mas nunca mais olhou na minha cara.

Engoli seco.

Porque ele estava certo.

— Eu só quero te proteger.

— Mas parece que vocês dois estão me disputando. E eu nem sei por quê.

Ah, se ele soubesse...

Dante

Eu esperei do lado de fora.

Encostado no carro, fumando um cigarro que já tinha perdido o gosto.

Sabia que Julián o chamaria. Sabia que tentaria parecer o herói mais uma vez.

Mas Noah era meu.

Não porque eu o possuía.

Mas porque, pela primeira vez em anos, alguém me fez querer ser outra coisa além de um monstro.

Quando Noah saiu, seus olhos vinham marejados. E quando me viu, hesitou.

— Ele falou coisas sobre você — murmurou.

— Eu sei — respondi. — Julián fala demais. Mas nunca teve coragem de ficar.

— Ficar onde?

— Comigo.

Ele arregalou os olhos.

— Vocês dois...?

— Tivemos um passado — disse, aproximando-me dele. — Mas ele escolheu fingir que nunca existiu. Agora está tentando roubar o que ainda não é dele.

— E eu sou o quê? Um prêmio?

— Não, Noah — murmurei, tocando de leve seu rosto. — Você é a única coisa real que apareceu entre nós em anos.

E é por isso... que ele não vai te ter.

Julián

Quando vi Noah entrar no carro de Dante, com os olhos perdidos e o coração dividido, senti algo que não sentia desde a juventude:

Ciúme.

Mas não era só ciúme de Dante com ele.

Era do que eles estavam construindo.

Do que eu perdi.

E talvez... do que ainda queria ter de volta.

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Arenzhya

Arenzhya

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2025-06-30

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