O Jantar da Guerra

Narrado por Melissa

— Eu não quero ir.

Minha voz saiu firme. Fria. Sem nenhum espaço pra conversa.

Mas, como sempre, a minha mãe ouviu e ignorou como quem escuta uma criança dizendo que não quer tomar banho.

— Aurora, eu tô falando sério! — insisti, cruzando os braços. — Eu não vou me arrumar, eu não vou sorrir e eu definitivamente não vou jantar com aquele idiota.

Ela me olhou por cima da xícara de chá como se fosse a rainha da Inglaterra, com aquele olhar sereno que escondia o caos interior.

— Você vai sim, Melissa.

— E por quê, exatamente?

— Porque Giulia é minha amiga. Porque Lorenzo é um homem que merece respeito. E porque o mundo não gira ao redor do seu drama.

Eu ri. De escárnio mesmo.

— Meu drama?! Mamãe, você por acaso esqueceu que eu fui prometida num pacto de sangue quando ainda tava aprendendo a falar “papai”? Que eu fui trancada em um quarto como uma prisioneira? Que aquele psicopata aceitou tudo isso com a maior naturalidade do mundo?

— Ele não é um psicopata. É um rapaz sério. E o jantar é só uma tentativa de aproximação. Não é um casamento.

— Ainda.

Ela não respondeu. Porque sabia que eu tinha razão.

Suspirei, passei a mão no rosto e tentei me acalmar. Mas era impossível.

Desde que fui capturada tentando fugir, nada mais fazia sentido. Matteo andava pela casa como um rei ofendido. Meu pai me olhava como se eu tivesse traído a máfia inteira. E Aurora… ela tentava equilibrar tudo como sempre. Mas eu sabia que, no fundo, ela também achava aquilo um absurdo.

— Olha, filha… — ela começou, com a voz mais doce do mundo. — Eu sei que parece injusto. Eu sei que você tá assustada. Mas você precisa entender que nem tudo na vida vai acontecer do jeito que você quer.

— Ótimo. Então posso casar com um assassino por conveniência. Que maravilha.

Ela respirou fundo, colocou a xícara na mesa e se aproximou. Ajoelhou na minha frente e segurou minhas mãos. Aquelas mãos que sempre foram o meu refúgio quando eu era criança e tinha pesadelos.

— Me escuta, Melissa. Só dessa vez. Vai ao jantar. Sente-se. Escute. Observe. Se depois disso você ainda achar que Enrico é um monstro, a gente conversa. Mas me dê esse voto. Por mim.

Droga. Ela usou o argumento sujo. O “por mim”.

Eu poderia resistir a qualquer coisa. Menos à decepção nos olhos da minha mãe.

— Tá bom — murmurei, relutante. — Mas eu não vou sorrir. E se ele me olhar torto, eu jogo o vinho na cara dele.

Ela sorriu com alívio e beijou minha testa.

— Já é um começo.

Uma hora depois, eu estava no quarto, sentada na frente do espelho, encarando o vestido que ela deixou separado pra mim.

Bege. Clássico. Com um decote discreto e corte justo na cintura.

A mensagem era clara: “sou educada, sou elegante, mas sou perigosa”.

Botei o vestido com raiva. Como se cada alça fosse uma corrente. Passei batom como quem pinta guerra no rosto. E quando olhei meu reflexo… não vi uma noiva. Vi uma bomba-relógio.

Na sala, Matteo me esperava com aquele olhar de quem acha que fez tudo certo. Nem abri a boca pra ele. Preferia evitar um assassinato antes do jantar.

Entramos no carro em silêncio. Aurora tentou puxar assunto, mas eu só respondia com "hum" e "sei".

O caminho até a mansão dos Mancini parecia um trajeto direto pro inferno. E olha que eu nunca tinha medo de nada. Mas, naquela noite, eu não sabia o que me esperava. O que ele planejava. O que estavam tramando enquanto eu me vestia como uma boneca de porcelana prestes a ser colocada numa estante.

Quando chegamos, Giulia nos recebeu na porta com o sorriso mais caloroso do mundo. Como se nada estivesse fora do lugar.

— Melissa, que bom te ver! — ela disse, me abraçando como uma tia querida.

— Obrigada pelo convite — respondi com um sorriso falso o suficiente pra ganhar um Oscar.

Enrico estava parado atrás dela. De terno escuro, colarinho impecável e aquele ar de "fui forjado no mármore da máfia".

Ele me olhou.

Eu olhei de volta.

Por um segundo, achei que ele fosse falar algo. Pedir desculpas. Me oferecer flores.

Mas ele apenas assentiu com a cabeça. Como se eu fosse uma funcionária qualquer da empresa dele.

Ódio.

Giulia nos conduziu até a sala de jantar, toda decorada com velas, guardanapos bordados e uma mesa posta como se fosse Natal.

Domênico estava lá também, claro, já com um sorriso de canto, pronto pra fazer piada.

Nos sentamos.

O jantar começou.

E a paz… foi só aparência.

— Melissa, você está linda — Giulia comentou, me servindo vinho.

— Obrigada.

Silêncio.

Matteo limpou a garganta. Aurora tentou sorrir. Enrico estava com a expressão de tédio existencial.

Foi Lorenzo quem quebrou a tensão.

— Estamos muito felizes com a presença de vocês. Essa união entre as famílias é algo que vai fortalecer ainda mais nossos laços.

Eu queria levantar e ir embora.

Mas fiquei.

Porque minha mãe estava ali. Porque Giulia parecia realmente tentar. Porque, apesar de tudo, havia um fio mínimo de humanidade naquela cena.

Até Enrico abrir a boca.

— Então, Melissa… como está se sentindo?

Ergui o olhar, direto no dele.

— Presa.

Domênico engasgou com o vinho. Giulia fechou os olhos por um segundo. Lorenzo segurou a taça com mais força.

— Sabe, é engraçado — continuei, ainda encarando o demônio. — Quando uma pessoa foge de outra, normalmente o esperado seria que a segunda não quisesse forçá-la a casar. Mas estamos na máfia, né? Aqui tudo é na base do sangue, da força, da obrigação.

Ele abriu um sorriso de canto.

— Achei que você fosse mais criativa com ofensas.

— Achei que você fosse mais homem pra recusar um casamento forçado.

— E perder o trono? Não sou burro.

Giulia interveio com a voz doce, mas firme.

— Vamos manter a paz na mesa, por favor. Enrico, Melissa, esse jantar é uma tentativa de recomeço. De entendimento.

— Não tem recomeço onde nunca houve começo — murmurei, cortando o peixe com força.

— Então comece agora — ele rebateu. — Eu tô aqui, Melissa. Não fugi de você. Mesmo depois de você tentar fugir de mim.

— A diferença é que você aceitou essa prisão com gosto. Eu, não.

Os olhos dele cravaram nos meus. E por um instante, houve um silêncio que gritou mais alto que qualquer briga.

Eu sabia que o jantar não seria fácil. Mas ninguém me avisou que ele saberia mexer tanto comigo mesmo sem levantar da cadeira.

Giulia percebeu.

E foi por isso que, ao final do jantar, enquanto a sobremesa era servida, ela olhou pra mim com doçura e disse:

— Obrigada por vir, Melissa. Você é forte. E, no fundo, sabe que não está sozinha nisso.

Quase chorei.

Mas não. Eu não ia dar esse gosto a ninguém naquela casa.

Sorri. Firme. Fria.

E só pensei numa coisa:

Se eles acham que esse jantar foi paz…

Eles não fazem ideia da guerra que vem por aí.

Melissa

Enrico

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Comments

Elenice Martins

Elenice Martins

não gostei, achei feios, o Enrico tem cara de 40 anos ,e ele tem 19 ,nunca que esse tem 19 anos, podia mudar o personagem

2025-08-01

1

Maria Zelia

Maria Zelia

amei os personagem são lindos, e Enrico parece com a foto do pai apresentada no outro livro, esses dois já estão apaixonados so ainda não sebem.

2025-07-04

1

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1 Prometida ao Herdeiro
2 Sem Escapatória
3 Promessa ou Condenação
4 A mãe do Don
5 O Jantar da Guerra
6 A Verdade Não Dita
7 E Se Eu Não Quiser Ser Don?
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9 A Volta do Passado
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16 Fim das Ilusões
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21 Gravidez Calculada
22 O Baile de Máscaras
23 O Pedido e o Pai
24 Uma Semana
25 Não É Um Pedido
26 Facas Afiadas e Testes Invisíveis
27 Vestida para Amar
28 Até Que a Máfia Nos Separe
29 Pela Primeira Vez… Com Você
30 O Positivo
31 Brinde ao Escândalo
32 Antes do Baile / Início do Baile
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34 A Filha da Vergonha
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39 A Médica Quebrou o Juramento
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