Capítulo 5

A mansão dos Fontes ficava em um bairro nobre, cercada por portões de ferro ornamentado e um jardim que mais parecia cenário de um filme europeu. Era a casa onde Gabriel crescera — mas havia anos que evitava passar por ali sem um motivo obrigatório.

Naquela noite, o motivo era claro: o jantar de boas-vindas à sua esposa.

O carro preto parou diante da entrada principal. Lívia olhava pela janela, imóvel. Vestia um vestido azul-petróleo de tecido fluido, com um decote discreto e as costas parcialmente nuas. Seus cabelos estavam presos em um coque solto, com alguns fios soltos estrategicamente.

— Se quiser, ainda dá tempo de ir embora — disse Gabriel, ao notar seu silêncio.

Ela virou o rosto e o encarou.

— E perder a chance de encarar a elite como a esposa de Gabriel Fontes? Jamais.

Ele sorriu. Gostava daquela ousadia contida que surgia nas horas certas. Aquela mulher podia ter sido traída, desmoronada e julgada... mas havia algo nela que ninguém conseguiria apagar: presença.

Entraram no saguão de mármore da mansão como uma pintura viva. Braço com braço, alinhados, com passos firmes.

Logo foram recebidos por Carolina Fontes, a mãe de Gabriel — uma mulher de meia-idade elegante, cabelos presos em coque impecável e um colar de pérolas que parecia pesar tanto quanto seu julgamento.

— Gabriel — disse ela com um beijo no rosto dele, sem sequer olhar para Lívia. — Estávamos todos ansiosos.

Então, seus olhos se voltaram para Lívia.

— E essa deve ser…?

— Minha esposa — disse Gabriel, sem hesitação. — Lívia Fontes.

Carolina sorriu. Ou algo parecido com um sorriso.

— Que nome forte. Muito… sonoro. Bem, entrem. A família está curiosa.

O salão principal estava lotado. Empresários, políticos, gente da mídia, primos de nomes compostos e olhares afiados. Sorrisos forçados, cumprimentos ensaiados. Era um desfile — e Lívia era o novo objeto de análise.

— Você está indo bem — sussurrou Gabriel, com a mão pousada suavemente nas costas dela.

— Já fui alvo de gente mais cruel — respondeu ela, com um meio sorriso. — Sabrina era pior.

Eles atravessaram o salão como um casal seguro, e mesmo que tudo fosse recente, ali havia algo orgânico entre eles. Como se, no meio da mentira, algo estivesse se tornando real.

Durante o jantar, as perguntas começaram.

— E como vocês se conheceram? — perguntou uma tia curiosa demais, com um sorriso açucarado.

— Na clínica — respondeu Lívia, com calma. — Eu era médica. Ele era um paciente teimoso que não queria tomar os remédios que eu indicava.

— E decidiram se casar assim… tão rápido? — indagou um primo, com tom de desdém.

— Algumas coisas a gente não precisa ensaiar pra saber que são certas — respondeu Gabriel, sem piscar.

Carolina observava em silêncio, de longe, tomando vinho e medindo cada palavra da nora. Até que, finalmente, chamou Lívia para “um minuto no jardim”.

As duas saíram para a varanda, onde a brisa noturna soprava entre as trepadeiras.

— Você deve me achar fria — disse Carolina, sem rodeios. — Mas mães protegem. Gabriel já sofreu o suficiente com… envolvimentos anteriores.

— Eu entendo — respondeu Lívia. — E se eu tivesse um filho como o seu, também teria medo de ver alguém se aproximar por interesse.

Carolina arqueou uma sobrancelha.

— Ao menos é sincera.

— Sempre serei. E não sou perfeita. Mas não estou aqui por dinheiro. Estou porque ele me ofereceu algo que ninguém mais ofereceu: respeito. E, sinceramente? É mais do que muita gente com sobrenome importante me deu na vida.

Carolina não respondeu. Apenas voltou os olhos para o jardim, em silêncio.

Mais tarde, quando os convidados começavam a se despedir, Gabriel e Lívia estavam sozinhos na biblioteca da mansão. Sentados em poltronas opostas, os sapatos abandonados, os corpos cansados.

— Você foi brilhante — disse ele.

— Me senti numa arena romana.

— E saiu viva. Intacta. — Ele a observou com uma expressão que ia além do respeito. Havia admiração ali. — Meu pai, se estivesse vivo, teria gostado de você.

Ela sorriu, sincera pela primeira vez naquela noite.

— E sua mãe?

— Minha mãe… vai demorar.

— Tudo bem. Eu também.

O silêncio que se formou entre eles não era desconfortável. Era cheio. Carregado de algo que ainda não tinha nome. Talvez parceria. Talvez o princípio de algo novo.

Gabriel se levantou, estendeu a mão para ela.

— Vamos embora. Já cumprimos nossa parte nessa ópera.

Lívia segurou a mão dele, com firmeza.

— Você acha que estamos enganando bem?

— Eu acho que, se não estivermos, já não importa mais.

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Comments

Sandra Camilo

Sandra Camilo

mais capítulos por favor autora linda, apaixonada pelo livro

2025-06-26

0

Marisa Sampaio

Marisa Sampaio

a história está ótima parabéns autora!

2025-06-28

0

Dulce Gama

Dulce Gama

ainda não entendi porque Gabriel ficou com esse problema que precisou ser medicado 👍👍👍👍👍♥️♥️♥️♥️♥️♥️♥️🎁🎁🎁🎁🎁🎁🎁🌹🌹🌹🌹🌹🌹🌟🌟🌟🌟🌟🌟

2025-06-26

0

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