Isabela caminhava apressada pelas ruas movimentadas do centro, equilibrando uma bandeja com vasos pequenos de suculentas. Já tinha se acostumado com o peso da rotina: acordar cedo, pegar dois ônibus e abrir a floricultura antes das nove. Mesmo cansada, ela sorria. Ali entre as flores, sentia-se viva.
Entrou na loja empurrando a porta com o ombro, como fazia todos os dias. O sininho tilintou no alto e o cheiro de rosas misturado com terra fresca a recebeu como um abraço antigo.
— Bom dia, Bela — disse Verônica, sem tirar os olhos do celular.
— Dia corrido, cheguei com dez minutos de atraso. Mas as plantinhas estão salvas!
Verônica sorriu, distraída.
— Teve um homem aqui mais cedo, perguntou por você.
— Por mim? — Isabela arqueou as sobrancelhas, intrigada. — Quem era?
— Não disse o nome. Só perguntou se você trabalhava aqui. Achei que era cliente, mas ele foi embora sem comprar nada.
Um arrepio percorreu a espinha de Isabela.
Estranho.
— Ele era velho? Tinha cara de vendedor? — insistiu, tentando parecer casual.
Verônica deu de ombros.
— Terno preto, alto, sério... cara de quem não sorri nunca.
Isabela riu, nervosa.
— Parece até um agente secreto. Ou... um cobrador.
Mas a verdade é que ela ficou com aquilo na cabeça pelo resto do dia.
Enquanto arrumava as flores na vitrine, sentiu algo. Uma sensação estranha. Como se estivesse sendo observada.
Olhou pela janela e viu um carro preto do outro lado da rua. Vidros escuros. Parado. Motor ligado.
Pestanejou.
Talvez fosse só coisa da cabeça. Talvez estivesse só cansada demais.
Mas o carro estava ali quando ela chegou.
E continuava ali quando ela saiu.
Pegou o celular, fingiu uma ligação, e caminhou firme até o ponto de ônibus. Sem olhar para trás. Mas o coração batia forte, rápido, avisando que algo estava diferente.
Ela só não sabia o quê.
Ou quem.
Mas o nome dela... já tinha sido sussurrado por alguém que ela nem conhecia.
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Em outro ponto da cidade...
Leon encostou-se à poltrona de couro no escritório, o olhar fixo no celular enquanto digitava:
> "Descubram quem é essa tal de Isabela."
"Quero foto, endereço, rotina, histórico. Tudo."
A resposta veio em menos de uma hora.
O celular vibrou com várias imagens.
Fotos da floricultura.
Fotos dela organizando flores.
Fotos dela sorrindo para uma cliente.
Leon aumentou uma das imagens.
Ela estava com o cabelo preso de qualquer jeito, usando um avental velho e segurando margaridas nas mãos.
Ele ficou parado. Olhando.
Tempo demais.
Havia algo naquela imagem que incomodava. Que... mexia.
— Essa é a garota? — murmurou.
A tela não respondia, mas algo dentro dele, sim. E era a primeira vez em anos que ele se sentia assim.
Pegou o telefone e mandou outra mensagem:
> "Não a toquem. Só observem. Quero relatório diário."
"Se alguém chegar perto dela sem minha ordem, eu mesmo acabo com vocês."
Bloqueou a tela, mas a imagem dela ainda estava na cabeça.
Isabela.
Florista.
Inocente.
Aparentemente inofensiva.
Mas alguma coisa nela... estava errada.
Ou talvez, fosse justamente isso o problema:
ela era certa demais num mundo errado.
E isso… ele não sabia lidar.
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Leon observava a foto com os olhos semicerrados. Isabela sorria para alguém fora do quadro, segurando um buquê de girassóis como se fosse algo precioso.
Ela era diferente.
E isso o desconcertava.
A porta do escritório se abriu sem aviso.
— Espero que eu esteja interrompendo algo importante — disse Alina, entrando com os saltos batendo no chão de mármore e o perfume caro dominando o ar.
Leon não desviou o olhar da tela.
— Você não bate mais na porta?
— Eu já bati em você muitas vezes — ela respondeu com um sorriso provocante, se jogando no sofá da sala como se fosse dona do lugar.
Usava um vestido colado, maquiagem impecável, e um olhar que gritava desejo.
Mas Leon mal levantou os olhos.
— Se veio por diversão, não tô com paciência.
— Uau. Frio até pra mim hoje? Que honra — ela zombou, cruzando as pernas devagar.
— O que você quer, Alina?
Ela ficou em silêncio por um instante, estudando-o.
— Você tá estranho. O que tá vendo aí nesse celular que te prendeu desse jeito?
Leon travou o maxilar e bloqueou a tela.
— Negócios — respondeu seco.
— Negócios têm nome de mulher agora?
Ela tentou se aproximar, mas ele levantou, indo até o bar para servir outro copo de uísque.
— Não começa, Alina.
— Não estou começando. Só tô tentando entender desde quando uma florista consegue mais atenção que eu.
Leon virou o copo em um gole só.
— Desde que você começou a achar que tinha espaço no que não é seu.
Alina riu, mas havia veneno no som.
— Cuidado, Leon... o jeito como você olhou aquela foto...
Ela se aproximou dele por trás, tocando seu ombro.
— Isso pode ser fraqueza. E você não combina com isso.
Ele virou-se lentamente, o olhar escuro.
— E você sabe muito bem o que acontece com quem tenta me controlar.
Ela ergueu as mãos, rindo falsamente.
— Só estou avisando.
Alina saiu deixando o rastro do perfume e do incômodo.
Leon ficou sozinho no escritório, em silêncio.
O celular ainda em sua mão, a tela escura.
Mas a imagem dela, da florista, permanecia viva na mente dele.
E pela primeira vez em muito tempo, ele não sabia se aquilo era um alerta ou um chamado.
Eai gente estão gostando 😍 e só o começo 🫠
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Atualizado até capítulo 53
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