Algumas pessoas sonham com fama.
Outras com fortuna.
Eu só queria paz.
Mais uma segunda-feira, mais uma madrugada mal dormida.
O alarme tocou às 6h em ponto, e eu — como sempre — apertei o botão de soneca com mais força do que deveria.
Três sonecas depois, levantei com o cabelo bagunçado, vestindo a camiseta de dormir e as promessas de uma semana melhor. Não que eu acreditasse muito nisso, mas sonhar ainda era de graça.
Depois de um banho rápido e um café preto quase frio, corri para a floricultura. O bairro ainda acordava devagar. Os ônibus passavam pesados na rua, e o ar da manhã cheirava a pão assando misturado com escapamento. Mas ali, dentro da loja, tudo era mais calmo.
Mais leve.
Eu amo esse lugar.
Mesmo ganhando pouco, mesmo ficando em pé por horas… trabalhar entre flores me dava uma sensação de recomeço todos os dias.
— Isa, chegou o pedido de girassóis! — gritou dona Vânia do fundo, já suando às 7h30.
— Já tô indo!
Puxei o avental, prendi o cabelo e me joguei na rotina: cortar, regar, separar, etiquetar. E ouvir clientes contarem histórias demais só pra justificar um buquê.
“É pra minha ex. Quero ver se ela volta.”
“Comprei porque traí.”
“É desculpa, mas com estilo.”
As flores sempre sabiam mais do que pareciam.
Eu? Eu nunca recebi flores de verdade. Só uma vez, na formatura do ensino médio, de uma professora. Ainda as tenho secas dentro de um livro de poesias que finge não me conhecer mais.
Mas tudo bem.
Talvez minha história comece diferente.
Ou talvez… nem comece.
🖤 Enquanto isso, do outro lado da cidade...
O mundo inteiro pode ruir, mas eu permaneço firme.
Porque onde eu piso, ninguém ousa correr.
A fumaça do charuto subia devagar enquanto eu observava a cidade pela janela de vidro do escritório.
Luzes. Pessoas. Trânsito.
Tão ocupados tentando sobreviver.
Tão cegos pra quem realmente manda nisso tudo.
— O problema foi resolvido, senhor Leon — disse Marcus, meu segurança pessoal.
— Ninguém viu nada?
— Sumiu. Como o senhor pediu.
Assenti, impassível.
A mão que segura uma arma é a mesma que pode segurar um coração. A diferença é o peso.
Mas eu nunca me preocupei com corações.
Eu quebro antes que tentem bater perto demais.
> A mão que segura uma arma é a mesma que pode segurar um coração.
A diferença é o peso.
E eu não carrego o que não posso controlar.
Silêncio.
Lá fora, a cidade continuava viva — inocente demais pra perceber os monstros que a observavam de cima.
E eu?
Eu só observava.
Esperando o próximo erro de alguém… ou o meu.
Meus olhos continuaram fixos na avenida lá embaixo. Tudo parecia calmo.
Sempre parece.
Até o inferno abrir as portas.
— E o pagamento? — questionei, virando-me lentamente.
— A outra parte será entregue hoje à noite.
Caminhei até minha mesa, peguei um copo com uísque e tomei um gole. Marcus esperava em silêncio. Ele sabia que minha mente nunca descansava.
— Sabe qual o problema das pessoas, Marcus?
— Não, senhor.
— Elas confundem bondade com fraqueza.
E silêncio com submissão.
— Entendido.
— Mas uma coisa é certa… — completei, girando o copo na mão.
— Todos descobrem quem realmente sou.
Tarde demais.
O silêncio caiu como um tiro abafado.
Lá fora, a cidade seguia viva.
Inocente demais pra perceber os monstros que a observavam de cima.
E eu?
Eu só esperava.
Não pelo amor. Nem pela guerra.
Mas pelo erro de alguém.
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Atualizado até capítulo 53
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