O som do mar não saía da cabeça de Jhenifer. Nem a imagem da pulseira enterrada, nem o nome de Ana Sofia. A noite chegou e, mesmo em casa, no quarto improvisado com parede fina e guarda-roupa inacabado, ela não conseguiu dormir. Passou boa parte do tempo pesquisando sobre a tal Ana Sofia.
Não havia muito na internet. Apenas uma nota de jornal local com a foto de uma menina sorridente e cabelos castanhos claros: “Estudante desaparece após passeio com colegas na Praia Azul”. A reportagem era breve e superficial. A investigação havia sido arquivada por falta de provas. Nenhum corpo. Nenhum sinal. Nada.
Mas o que mais a impressionava não era o desaparecimento. Era a expressão de Luca ao contar. A mistura entre tristeza e medo.
No dia seguinte, as aulas pareceram durar semanas. Luca não comentou nada sobre a noite anterior. Agia normalmente, como se a conversa nunca tivesse existido. Mas quando o último sinal tocou, ele apenas disse:
— Mochila leve. Tênis de boa aderência. Encontro você na entrada da trilha, 17h.
Jhenifer hesitou, mas foi.
Ela chegou dez minutos antes, o coração disparado, os pensamentos a mil. Luca apareceu pontualmente, com sua velha mochila de lona, a câmera e uma lanterna pequena pendurada na cintura.
A trilha até a Caverna das Conchas começava onde a praia terminava. Eles caminharam por quase uma hora, atravessando pedras escorregadias, vegetação fechada e passagens estreitas.
Jhenifer ficou surpresa com a quantidade de lugares escondidos naquela região.
— Como você conhece tudo isso? — ela perguntou, ofegante.
— Meu irmão mais velho costumava vir aqui. Antes de ir embora da cidade... — respondeu Luca, com um ar distante. — Foi ele quem me mostrou a caverna.
Quando chegaram, o sol já estava baixo. A maré havia recuado o suficiente para revelar uma passagem entre as pedras. Uma abertura estreita, quase invisível para quem não soubesse procurar.
A entrada era feita de rochas cobertas por limo. A passagem era escura, estreita e gelada. Jhenifer engoliu em seco, mas seguiu Luca. Dentro, o som do mar era abafado. A caverna tinha um cheiro forte de maresia, misturado a um leve odor de terra molhada.
— Não fale muito alto — disse Luca, acendendo a lanterna. — O som ecoa de um jeito estranho aqui.
A luz revelou uma parede com marcas riscadas, como se alguém tivesse arranhado a pedra com alguma ferramenta. Havia desenhos, símbolos e nomes. Um deles chamou a atenção de Jhenifer: "Ana S."
Ela se agachou, tocando levemente o nome gravado.
— Isso foi ela?
Luca se aproximou. — Eu acho que sim. Ou foi deixado por alguém que a conheceu.
Eles exploraram o interior da caverna por cerca de quinze minutos, até chegarem a uma segunda câmara, onde havia uma pequena abertura no teto. A luz do entardecer filtrava-se, criando uma iluminação surreal. No chão, coberto por conchas, havia uma mochila velha.
Jhenifer se aproximou com cuidado e a abriu. Dentro, havia:
Um caderno com capa preta.
Uma chave enferrujada.
Uma foto amarelada de três adolescentes: Ana Sofia e dois rapazes.
Ela folheou o caderno. Era um tipo de diário misturado com anotações. Havia nomes, datas, e uma lista de lugares. Trechos que pareciam parte de uma investigação.
"Encontros no galpão abandonado."
"Professor E. desvia verbas da escola."
"Tem mais gente envolvida."
"Eles têm cópias."
Jhenifer e Luca se entre olharam.
— Era mais do que um desaparecimento, não era? — ela sussurrou.
Luca assentiu, a expressão sombria.
— Parece que Ana descobriu algo grande demais.
E então, da parte mais profunda da caverna, veio um estalo. Um barulho seco de pedra contra pedra.
Eles se viraram ao mesmo tempo.
— Tem mais alguém aqui... — disse Luca, apagando a lanterna.
Ficaram em silêncio. O som de respiração abafada ecoou na caverna.
Jhenifer segurou o diário contra o peito.
Um vulto se moveu nas sombras.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 30
Comments