capítulo 1: O Primeiro Dia de um Novo Começo.

O som do metrô era o mesmo de sempre: metálico, monótono e apressado. Mas naquela manhã, tudo parecia carregado de expectativa.

O vidro da janela refletia o rosto de Jhenifer, sério e atento, enquanto a cidade se movia ao fundo — prédios altos, buzinas, pessoas correndo com fones no ouvido.

Um mundo novo. Um recomeço.

Ela apertava a alça da mochila com força. Era seu primeiro dia no Colégio São Miguel, o mais tradicional da capital. Um colégio particular, enorme, cheio de alunos de nomes compostos, filhos de gente importante, e turmas que pareciam saídas direto de seriados adolescentes.

Ela não estava nervosa por causa do conteúdo, ou das provas. Era por outra coisa: o recomeço. Depois da separação dos pais, ela e a mãe tinham se mudado do interior para a cidade grande. Deixaram para trás a casa antiga, as amigas de infância e a pracinha de todos os dias. Agora, estavam em um apartamento pequeno no terceiro andar de um prédio velho, no centro.

Desceu do metrô e seguiu o fluxo. A mochila pesava, mas não tanto quanto a saudade. Ou a sensação incômoda de ser “a nova”.

Ao avistar os portões do colégio, parou por um instante.

— Tá tudo bem, Jen. Você consegue — sussurrou para si mesma.

Inspirou fundo e passou pelo enorme portão de ferro com o brasão dourado da escola. O pátio parecia uma mistura de shopping com campus universitário: quadras poliesportivas, uma cafeteria moderna com poltronas e luzes pendentes, paredes com grafites artísticos autorizados — e alunos que pareciam ter saído de capas de revista.

Ela sentia os olhares. Uns curiosos, outros indiferentes. Tentou não demonstrar o incômodo enquanto procurava a sala 3B no prédio principal. Caminhava apressada, segurando uma pasta e o celular com o mapa do colégio aberto, quando esbarrou com força em alguém na esquina do corredor.

— Ei! Cuidado aí... — disse uma voz masculina, enquanto segurava os cadernos dela antes que caíssem no chão.

— Ai, meu Deus, desculpe — disse Jhenifer, sem nem conseguir respirar direito, olhando para cima.

Foi então que ela viu.

Ele tinha olhos castanhos intensos, profundos, com um brilho meio preguiçoso. Cabelo escuro, meio bagunçado, e um sorriso torto que parecia desafiar o mundo. Usava o uniforme da escola com um moletom cinza por cima, e segurava uma câmera fotográfica pendurada no pescoço.

— Tranquilo. Você é nova, né? — ele perguntou, ainda com aquele meio sorriso.

Ela assentiu, ajeitando a pasta nos braços.

— Jhenifer. Acabei de me mudar.

— Eu sou o Luca. E, bem-vinda à selva — disse, rindo, fazendo um gesto com as mãos para o corredor cheio de alunos barulhentos.

Ela tentou sorrir de volta. Algo nele era diferente. Carismático sem esforço, como se vivesse num mundo paralelo, onde tudo era menos sério e mais interessante.

— Valeu — respondeu, já retomando o caminho, mas ele a seguiu alguns passos, ainda com a câmera no pescoço.

— Sala 3B?

— É. Como você…?

— Você está indo na direção errada — disse ele, apontando o caminho oposto. — Vem, eu te mostro. Eu também tô na 3B.

Enquanto caminhavam, ele fazia comentários sobre os professores ("Evite a professora de física antes do café"), sobre os alunos ("Aquele é o Matheus, acha que é o rei do colégio") e até sobre a própria escola ("Tem mais câmeras aqui do que num reality show"). Jhenifer não sabia se ria ou ficava em alerta. Ele falava como se já a conhecesse há anos.

Chegaram à sala. A professora de literatura já estava começando a chamada.

Luca entrou como se fosse dono do lugar e puxou a cadeira atrás dela. Durante a aula, Jhenifer tentava prestar atenção no conteúdo, mas o ambiente era novo demais, barulhento demais, cheio demais.

Foi quando ouviu a voz dele, suave atrás de si:

— Gosta de praia?

Ela virou lentamente, franzindo o cenho.

— Como assim?

— É que vai rolar uma “fugidinha” depois da aula. Coisa da turma: ir à Praia Azul, ver o pôr do sol, jogar conversa fora. É meio que tradição.

— E por que você tá me chamando? — perguntou, desconfiada.

— Porque você parece precisar de ar puro. E de ver que esse lugar pode ser menos sufocante do que parece.

Jhenifer hesitou. Ainda era cedo pra confiar em alguém. Mas havia algo naquele convite que lhe parecia mais uma chance de respirar do que um risco.

— Ok — ela respondeu. — Mas só hoje.

Luca sorriu. — Justo.

Enquanto ela voltava a encarar a lousa, fingindo prestar atenção, seu coração batia mais forte. E uma sensação estranha a envolvia — como se aquela escolha inocente escondesse algo maior.

Porque o que Jhenifer ainda não sabia era que a Praia Azul guardava segredos há anos. E que Luca não era exatamente quem dizia ser.

Nem ela

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