Jay Park olhava para a diretora com um olhar firme, determinado, coisa rara pra alguém normalmente tão calado.
— Eu posso tentar encontrar outros parentes dela — disse ele. — Mas até lá... ela pode ficar no meu apartamento. Eu moro com a minha mãe. Ela vai entender.
A SN olhou pra ele surpresa, os olhos arregalados. Ninguém nunca tinha oferecido isso antes. Ninguém nunca... se importou assim.
A diretora, mesmo hesitante no começo, viu a seriedade nos olhos do Jay. E então assentiu.
— Tudo bem, Jay. Mas ela vai precisar de roupas, tá muito frio lá fora. Você pode ir até a casa dela buscar algumas coisas?
Jay concordou imediatamente.
— Sim. Mas hoje ela não volta lá. Amanhã cedo eu passo lá sozinho e pego o que der. Agora... vamos pra casa.
SN ficou em silêncio. Mas, pela primeira vez, ela não sentiu medo de ir com alguém. Sentiu... segurança.
No apartamento de Jay Park
O apartamento era pequeno, mas aconchegante. Tinha cheiro de comida caseira e era bem arrumado. A mãe dele estava no trabalho, então a casa estava quieta.
Jay deixou a mochila dele no canto e olhou pra SN.
— Você quer tomar um banho primeiro? — ele perguntou, um pouco tímido. — Pode usar essa roupa. Minha mãe ia levar pra igreja amanhã pra doação… então, fica à vontade.
Ele entregou pra ela uma camiseta larga, calça de moletom e um casaco de lã quentinho, junto com um par de meias felpudas.
SN segurou as roupas com as duas mãos, como se estivesse recebendo um presente raro.
— Obrigada...
Ela entrou no banheiro e fechou a porta com cuidado. O banho quente caiu sobre os ombros dela como um abraço. Pela primeira vez em muito tempo, ela sentiu o corpo relaxar. Não havia gritos, nem olhares de desprezo, nem portas batendo. Só silêncio e vapor quente.
Enquanto isso, Jay estava na cozinha, preparando o jantar. Nada muito elaborado — arroz, ovos, legumes refogados e um pouquinho de kimchi. Simples, mas feito com carinho.
Ele olhou em direção ao banheiro e perguntou alto, mas com delicadeza:
— SN, tá tudo bem aí? Seu jantar tá pronto.
— Tô saindo! — ela respondeu, a voz mais leve do que antes.
Ela saiu do banheiro com o cabelo cacheado ainda molhado, preso de novo com a xuxinha. Usava as roupas largas que ele emprestou e segurava as mangas com as mãos. Jay sorriu de leve.
Sem falar nada, ele pegou um casaco de lã e entregou pra ela, junto com as meias quentinhas.
— Tá muito frio. Usa isso.
SN vestiu tudo sem reclamar. Depois, sentaram juntos à mesa.
Ela olhou o prato desconfiada e cheirou a comida.
— O que é isso...? — perguntou, franzindo o nariz. — Tem cheiro bom, mas... nunca comi.
Jay deu uma risadinha tímida.
— Nada demais. Só arroz com ovo e legumes. Minha mãe faz isso quando tá com pressa. É tipo... a nossa comida de conforto.
SN pegou o garfo e começou a comer devagar. Depois de algumas mordidas, ela parou e olhou pra ele de novo.
— Tá gostoso...
Jay olhou surpreso.
— Sério?
Ela assentiu.
— Sério. Muito melhor do que qualquer coisa que tinha na minha casa.
Os dois continuaram comendo em silêncio, mas era um silêncio confortável. Aquele tipo raro que existe só quando duas pessoas começam a se entender... sem precisar dizer tudo.
Jay a observou por um momento e pensou: ela merece muito mais que isso. Mas por enquanto... eu vou dar o que eu puder.
Depois do jantar, Jay e SN lavaram a louça juntos. Nenhum dos dois falava muito, mas o clima era calmo, tranquilo... coisa rara na vida dela.
Depois, eles foram pra sala e se sentaram no sofá. Jay pegou o controle remoto e ligou a televisão.
Passava um dorama qualquer, daqueles com dublagem engraçada. Eles riram de uma cena boba e, por um instante, esqueceram do mundo.
SN olhou em volta, abraçando as pernas e se encolhendo um pouco.
— Jay… — ela murmurou. — Sua mãe… ela vai ficar brava com você por eu estar aqui?
Jay olhou pra ela e balançou a cabeça com um sorriso leve.
— Não. Minha mãe faz dois turnos no hospital. Ela é médica, vive ocupada. Às vezes, só volto a ver ela no fim de semana. Mas se eu contar o que aconteceu, ela vai entender. Ela é o tipo de pessoa que cuida dos outros… igual ela me ensinou.
SN assentiu devagar.
— Ela parece legal… você tem sorte.
Jay deu um sorriso triste.
— Eu tenho sim. Mas também… tem coisa que falta, sabe?
Ele ficou em silêncio por um momento, olhando pro teto, como se buscasse alguma lembrança escondida.
— Meu pai era capitão da Marinha. Ele era tudo pra mim quando eu era pequeno. Forte, engraçado, meio bravo, mas... herói, sabe?
SN prestava atenção em cada palavra.
— O que aconteceu com ele?
Jay respirou fundo.
— Ele sumiu. Tava numa missão no mar, mas o navio enfrentou uma tempestade. Nunca encontraram o corpo. Nunca acharam ele. Só deram ele como desaparecido… presumido morto.
SN abriu a boca devagar, sem saber o que dizer.
— Sinto muito…
Jay balançou a cabeça, ainda olhando a TV, mas sem realmente prestar atenção no que passava.
— Eu... ainda acho que ele tá vivo. Sabe aqueles filmes onde o pai aparece anos depois numa ilha, barbudo e todo fodido, mas vivo? Às vezes eu penso isso. Que um dia ele vai bater na porta e dizer "filho, eu voltei".
SN sorriu de leve.
— Eu acho que, se alguém pode voltar assim, é o pai de alguém como você.
Jay olhou pra ela, surpreso com a resposta. Ela sorriu fraco, e ele retribuiu.
A sala ficou em silêncio de novo, mas não era mais o mesmo silêncio pesado do telhado. Era um silêncio de conforto. De companhia.
Os dois ficaram ali, lado a lado, assistindo qualquer coisa na TV, como se fosse algo normal. Como se fossem só dois adolescentes curtindo uma noite qualquer.
Mas no fundo… os dois sabiam que aquela noite mudaria tudo.
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Atualizado até capítulo 90
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