A lareira ainda ardia no quarto de Inês quando Leonor fechou a porta atrás de si. A ternura sumiu de seu rosto assim que a maçaneta se encaixou. Deixou para trás a irmã e voltou a ser a sombra dourada.
Desceu pelos corredores silenciosos do seu palácio-cárcere, ignorando seguranças e criados. Empurrou a porta blindada de sua sala de operações — um cômodo subterrâneo, repleto de telas, mapas, dossiês e fios cruzando informações como uma teia viva.
Ali, a esperava Benjamin, seu braço direito, rosto pálido, olhar fixo na tela central.
Leonor — Fale. — Sua voz cortou o ar como uma lâmina.
Benjamin pigarreou, hesitando apenas uma fração de segundo.
Benjamin — Invadiram os arquivos de Lisboa, madame. Pegaram tudo. A perícia, os registros do incêndio, relatórios bancários... até fotos da noite em que...
Ele calou-se ao ver o olhar dela escurecer, como se uma tempestade se formasse por trás daqueles olhos lilases.
Leonor deu um passo à frente. Na tela, imagem queimadas apareciam: jornais antigos, uma foto dela sendo carregada por bombeiros, chamas refletindo em olhos infantis.
Ela ergueu a mão, tocou o vidro frio do monitor. E, subitamente, não estava mais ali.
🌒 O passado — 10 anos atrás
O cheiro de fumaça ainda queimava em sua garganta. A pele, latejando de dor, pingava sangue na madeira negra do chão. Um estalo — vigas caindo — o calor que engolia tudo.
Ela se arrastava pelo corredor em chamas, chamando por um nome que não respondia mais.
"Pai!"
"Mateus!"
"NÃO ME DEIXEM AQUI!"
No final do corredor, uma explosão. Vidros quebrando. O gosto acre da traição rasgando a garganta mais do que a fumaça.
Então, ele apareceu: o traidor. O amante que prometeu salvar sua família e vendeu cada respiração deles por um punhado de poder. O rosto dele, iluminado pelo fogo, ainda a perseguiria mesmo anos depois.
E foi ali, entre labaredas e escombros, que Leonor morreu.
E a Leoa fantasma nasceu.
🌒 De volta ao presente
Ela piscou e a tela voltou a ser apenas um amontoado de dados. Mas dentro dela, tudo queimava de novo.
Benjamin esperou. Sabia que palavras não tinham lugar ali. Leonor respirou fundo, abriu um sorriso frio com a Sibéria.
Leonor — Rastreiem quem pegou essas provas. Não matem ainda. Quero ver quem tem coragem de brincar com fantasmas.
Ela virou-se devagar, o reflexo das chamas dançando em seus olhos lilases.
Leonor — E quando eu encontrar ele... — murmurou, mais para si do que para o homem atrás dela — vou fazê-lo assistir tudo que construiu ruir. Tijolo por tijolo. Com ele fez comigo.
A voz saiu baixa, calma, quase maternal.
Leonor — Depois vou lembrá-lo do gosto de fumaça enquanto suplica pelo perdão de uma morta.
No fundo da sala, uma das telas mostrava Inês dormindo, alheia a monstros, labaredas e pactos de sangue.
Por ela, Leonor seria o fogo que nunca se apaga.
E isso queridos(as) espero q eu tenham gostado, amanhã eu vou postar outra capítulo e vou apresentar o Benjamin também, beijos e até amanhã.
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Atualizado até capítulo 25
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