Resistência e desejo

📘 Capítulo 2 –

A cafeteria estava mais movimentada naquela manhã. Isabelle atendia clientes com um sorriso discreto, enquanto tentava ignorar o nome que ecoava em sua mente desde o dia anterior: Gael.

Ela havia passado a noite inteira revivendo a conversa. O olhar dele, a forma como falava, o arrepio que sentiu ao tocar sua mão. Mas ela precisava manter os pés no chão. Já havia acreditado demais no amor — e pagado caro por isso.

Enquanto servia um cappuccino para uma senhora, ouviu o sininho da porta novamente. Não precisava nem olhar. O ar ficou mais denso. Seu coração apertou antes mesmo que sua mente aceitasse: ele estava ali de novo.

Gael se aproximou do balcão com aquele mesmo sorriso calmo e perigoso.

— Bom dia, Isabelle.

— Gael... voltou rápido.

— Ontem você me deixou curioso. Acho que posso querer fazer disso um hábito.

Ela desviou os olhos, fingindo concentrar-se na máquina de café. Não podia permitir que ele quebrasse a parede que havia construído com tanto esforço.

— Posso oferecer o de ontem, ou quer algo diferente hoje?

— Pode me surpreender de novo. Gosto do seu gosto.

“Gosto do seu gosto.” A frase reverberou em seu peito como se tivesse sido dita ao pé do ouvido, no escuro.

Ela tentou ignorar.

Preparou um latte cremoso com canela e entregou sem dizer nada. Ele pegou a xícara, observando-a como se enxergasse além da fachada de mulher forte que ela usava todos os dias.

— Trabalha sozinha? — perguntou, casualmente.

— Por enquanto. É o começo, não posso bancar uma equipe grande.

— Corajosa. Poucas pessoas têm coragem de recomeçar do zero.

Ela ergueu os olhos.

— Eu não tive escolha.

— Às vezes, os recomeços nos levam exatamente aonde deveríamos estar — respondeu ele, com seriedade. — E às vezes... a quem deveríamos encontrar.

O coração de Isabelle bateu mais forte. Aquele homem mexia com seus sentidos de um jeito que ela detestava admitir.

Ela foi interrompida por outro cliente, e Gael aproveitou para se sentar novamente na mesma poltrona do dia anterior. Quando ela olhou de relance, viu-o observando uma fotografia na parede — uma Isabelle mais jovem, sorrindo com uma xícara na mão.

Depois que o movimento diminuiu, ela limpava as mesas quando ele se aproximou novamente, agora com o olhar mais intenso.

— Posso te fazer uma pergunta pessoal?

Ela hesitou.

— Pode tentar.

— Por que você evita tanto o que sente?

Ela ficou paralisada por um instante. Era como se ele tivesse aberto uma ferida com uma palavra.

— Porque sentir já me custou caro demais — respondeu, firme. — E eu não estou pronta pra pagar de novo.

Gael assentiu, respeitando o espaço que ela exigia. Mas seus olhos diziam que ele voltaria. Que aquela conversa não terminaria ali.

— Então eu só vou tomar café. Amanhã. Depois de amanhã. E quem sabe um dia, você me permita ver além do balcão.

Ele saiu sem esperar resposta, deixando para trás um cheiro suave de colônia e um rastro de pensamentos bagunçados.

Isabelle encostou-se no balcão, respirando fundo.

Ela não queria se apaixonar. Não agora. Não por ele.

Mas algo dentro dela — algo que havia dormido por tempo demais — estava despertando.

E ela sabia que, mesmo tentando resistir, o desejo entre eles era mais forte que o medo.

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Hairunisa Sabila

Hairunisa Sabila

Início empolgante!

2025-06-24

3

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