Os dias seguintes foram uma sequência de silêncios cortantes e palavras afiadas.
Isabella fazia questão de deixar claro que estava ali contra a vontade. Caminhava pelos corredores da mansão como se cada passo fosse um desafio. Não pedia nada, não sorria para ninguém. Mas sempre tinha uma resposta na ponta da língua — e quanto mais Alessandro tentava impor autoridade, mais ela provocava.
Naquela manhã, durante o café, Alessandro desceu as escadas já de terno, pronto para resolver os assuntos do dia. Isabella estava sentada à mesa, de robe de seda, saboreando uma taça de morangos com calma e ironia.
— Bom dia, esposo. Dormiu bem com sua consciência limpa? — ela perguntou, sem olhar para ele.
Ele a ignorou no primeiro momento, mas ao perceber o tom debochado, parou ao lado da cadeira dela.
— Seria um ótimo começo de dia se você calasse a boca pelo menos uma vez.
— Uau. Que educação refinada para alguém que se considera um cavalheiro da máfia. — Ela sorriu, mordendo um morango lentamente. — Aposto que suas amantes adoram isso.
Alessandro se inclinou para perto dela, os olhos estreitados.
— Eu não tenho amantes.
— Ah, claro. Agora tem uma esposa sequestrada. Que evolução impressionante. — Ela ergueu a sobrancelha. — Quer um prêmio ou só um espelho?
Ele respirou fundo, claramente contendo o impulso de responder com mais que palavras. Mas então fez pior. Sorriu. Um sorriso cruel.
— Continue provocando, Isabella. E eu juro que vou transformar sua vida aqui em um verdadeiro castigo.
Ela o encarou, ainda sorrindo.
— Você já transformou, querido. Só está piorando o que já é um inferno.
⸻
No início da noite, Isabella caminhava pelo jardim da mansão, vestida com um conjunto leve de cetim e pele à mostra, o cabelo preso de qualquer jeito. Estava exausta, mas ainda assim… viva.
Ela sentia o olhar dos seguranças quando passava. E, mais que isso, sentia o dele.
Alessandro observava da varanda superior, com um copo de uísque na mão. Os olhos escuros não desgrudavam dela, mas não era raiva. Era algo mais.
Desejo. Curiosidade. Frustração.
Ela era indomável. Era um espinho cravado em seu orgulho.
Isabella sentiu os olhos dele e ergueu o rosto, encarando-o de volta à distância. Levou o dedo indicador aos lábios e mandou um beijo no ar com deboche.
Ele virou o rosto, com a mandíbula travada.
— Insolente… — murmurou para si mesmo.
⸻
Naquela noite, ela foi chamada ao escritório dele.
— O que foi agora? Mais uma regra? Outra humilhação pública? — disse, cruzando os braços na frente da escrivaninha.
Alessandro estava sentado, revisando documentos. Quando ergueu o olhar, havia impaciência, mas também algo mais intenso. Algo que nem ele queria nomear.
— Você vai aprender que desafiar meu controle tem consequências, Isabella.
— E você vai aprender que me prender aqui não te torna um homem. Te torna um covarde com medo de uma mulher que não se dobra.
Ele se levantou de súbito, contornando a mesa até ficar bem próximo dela.
— Você me chama de covarde, e ainda assim está aqui, vivendo sob meu teto, comendo da minha comida, usando minhas roupas, dormindo sob meu teto. É engraçado como o orgulho feminino desaparece quando o luxo entra em cena.
Ela riu — um riso amargo e debochado.
— Acha mesmo que isso aqui me compra, Moretti? Pode me cobrir de joias, vestir meu corpo com seda, mas nunca vai ter o que realmente importa. Porque no fundo, você sabe: não controla nada em mim. Nem minha boca… — Ela se aproximou ainda mais, encarando-o. — …nem meu coração. Nem meu prazer.
Ele fechou os olhos por um segundo, como se aquilo o tivesse atingido mais do que queria admitir.
E foi nesse instante que Isabella percebeu:
Ela o afetava.
Ele sentia. Lutava contra isso… mas sentia.
A forma como ele respirava mais pesado. Como os olhos percorriam o rosto dela com fúria e desejo ao mesmo tempo. Como ele rangia os dentes, tentando não ceder.
Ela não era só uma moeda de troca. Era um incêndio ambulante.
E ele estava prestes a se queimar.
⸻
Na madrugada, Alessandro entrou no próprio quarto e bateu a porta com força. Jogou a jaqueta sobre uma cadeira, passou as mãos pelos cabelos com raiva.
— Por que diabos você me afeta tanto? — murmurou para o vazio.
Do outro lado do corredor, Isabella ainda estava acordada. Sentada na cama, abraçada aos próprios joelhos, encarava a escuridão.
Ela odiava aquele homem.
Mas, por Deus… ele era lindo. Alto, forte, olhos que intimidavam, voz grave, presença dominadora.
E ela?
Estava começando a odiar a si mesma por ter reparado nisso.
⸻
O campo de batalha estava armado.
Mas nem Alessandro, nem Isabella sabiam…
Que às vezes, o amor nasce exatamente assim:
entre a faísca e o veneno.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 43
Comments