O sol mal havia nascido quando Isabella foi acordada pelo som firme de batidas na porta.
— Levante-se. — A voz da mulher que a acompanhara no dia anterior ecoou do outro lado da porta. — O casamento será às 10h. Temos pouco tempo.
Isabella demorou alguns segundos para processar. Então se sentou na enorme cama com os olhos ainda turvos, o peito apertado. Não havia sido um pesadelo.
Ela realmente estava ali. E ia se casar com um homem que mal conhecia. Um homem que a comprou como se fosse um objeto.
Vestiram-na como se fosse uma boneca. Um vestido branco simples, mas absurdamente caro, com cortes elegantes e um véu curto preso aos cabelos soltos. Sem maquiagem pesada. Só o suficiente para esconder os olhos inchados de uma noite mal dormida.
Isabella não disse uma palavra. Não demonstrou emoção. Era como se tivesse construído um escudo invisível.
Mas por dentro, cada passo até o carro que a levaria ao cartório era uma ferida aberta. Sua garganta ardia de tanto engolir as palavras que queria gritar. Sentia-se engolida por uma tempestade silenciosa, prestes a explodir.
O cartório era discreto, reservado. Um lugar onde negócios sujos como aquele podiam ser oficializados com discrição.
Alessandro já a esperava na entrada. Trajava um terno escuro, impecável, e mantinha as mãos cruzadas atrás das costas. Seus olhos a analisaram de cima a baixo. Mas não disse nada.
Ela também não.
Caminharam lado a lado, como dois estranhos unidos por um destino cruel. Apenas o som dos sapatos no chão polido quebrava o silêncio opressor entre eles.
No interior da sala, o juiz de paz aguardava com a documentação pronta.
— Vamos começar? — ele perguntou, desconfortável ao notar a tensão no ar. — Nome completo da noiva?
Isabella olhou para Alessandro, depois para o juiz.
— Isabella Mancini. E estou aqui contra a minha vontade.
O juiz congelou por um segundo. Olhou para Alessandro, depois para um dos homens de terno que estava ali como “testemunha”.
Alessandro não disse nada. Apenas cruzou os braços e fitou Isabella, sério. Então se aproximou dela, devagar.
— Você pode dificultar isso o quanto quiser, Isabella. Mas no final, o resultado será o mesmo.
Ela o encarou, o queixo erguido. A voz saiu fria como gelo:
— Eu não tenho medo de você.
— Deveria. — Ele respondeu, sussurrando perto demais. — Mas prefiro assim. Gosto quando lutam. Dá mais sabor à conquista.
⸻
Os votos foram lidos. Automáticos. Sem emoção. Nenhuma troca de olhares. Nenhuma palavra além do necessário.
Quando o juiz declarou os dois como marido e mulher, Alessandro se virou lentamente para ela.
— Acabou. Agora você é minha.
Isabella respondeu com o mesmo tom gélido:
— Sou sua prisioneira. Isso não é casamento. É sequestro.
Alessandro se aproximou. Por um segundo, ela pensou que ele fosse beijá-la. Mas ele apenas passou os dedos pelo rosto dela, como se quisesse marcar território.
— Prisioneira ou esposa… depende de você. Eu ofereço um palácio. Mas posso fazer dele um inferno, se quiser.
Isabella segurou as lágrimas. Não daria esse prazer a ele.
— Então prepare-se. Porque eu sou fogo. E vou queimar tudo que tentar me apagar.
⸻
Na volta para a mansão, o clima era ainda mais denso. Alessandro não disse uma palavra. Apenas dirigiu o próprio carro, algo que Isabella achou estranho para alguém acostumado a mandar.
— Por que está dirigindo? — ela perguntou, quebrando o silêncio pela primeira vez.
— Porque não confio em ninguém no dia do meu casamento. — respondeu, sem olhar para ela. — Nem em você.
Ela olhou pela janela e murmurou:
— Nem eu confio mais em mim.
⸻
Ao chegarem, foram recebidos por empregados enfileirados. Alguns pareciam indiferentes. Outros, curiosos. Uma mulher mais velha, de olhar penetrante e postura firme, desceu as escadas da entrada.
— Finalmente. — ela disse. — Sou Donatella, governanta da casa. Senhora Moretti, será escoltada ao quarto. Seus pertences já foram trazidos.
Isabella subiu sem olhar para trás.
Naquela noite, não houve festa. Não houve brinde. Não houve lua de mel.
Apenas o som do vento soprando forte contra as janelas de pedra.
E no quarto trancado onde agora dormia, Isabella fez uma promessa a si mesma:
“Eu posso ter perdido a liberdade, mas não perderei minha alma. Um dia, ele vai me olhar e se arrepender de ter cruzado meu caminho.”
Do outro lado da mansão, sozinho em seu escritório, Alessandro segurava um copo de uísque. Seus olhos estavam fixos no retrato antigo de seu pai, que também fizera escolhas difíceis no nome da honra.
— O que eu fiz, velho? — murmurou. — Trouxe o caos para dentro da minha casa… com um vestido branco e olhos que me desafiam.
Ele tomou um gole.
Mas era tarde demais.
O juramento já estava feito.
O império já tinha sido infiltrado.
Por ela.
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Atualizado até capítulo 43
Comments
Vanessa Brunner Milantonio Silva
fotos
2025-07-24
0
Celia Aparecida
nossa marcante ,indecifrável
2025-07-22
0