Ecos da sombras

...🌒 Capítulo 5 – Ecos da Sombra...

Os dias passaram, e com eles vieram sinais que não consegui ignorar.

No início, era apenas uma sensação estranha, como se alguém me observasse. A cada passo pela floresta, sentia olhos invisíveis me acompanhando, mesmo quando Bryan não dizia nada. O ar ficava mais denso à medida que eu despertava a luz dentro de mim.

Mas então começaram os sussurros.

No começo eram quase imperceptíveis, como o farfalhar das folhas ao vento. Mas logo, vinham acompanhados de meu nome. E depois... de memórias que não eram minhas.

Imagens me invadiam à noite — um campo em chamas, vozes gritando, olhos escuros brilhando como carvões acesos no escuro. Sempre terminavam do mesmo jeito: Bryan ajoelhado diante de uma sombra maior que o mundo, e eu, sozinha, com as mãos cobertas de sangue.

— Bryan — disse numa manhã, enquanto treinávamos perto do lago —, tem algo me seguindo. Dentro de mim.

Ele parou, girando o corpo com atenção, como se a floresta tivesse respondido às minhas palavras.

— As sombras estão se aproximando mais rápido do que eu esperava.

— O que elas querem?

— Te impedir. E te testar.

Respirei fundo. O treinamento começou. Naquele dia, ele me ensinava a canalizar a luz para formar uma barreira, um escudo que pudesse me proteger de ataques diretos. Concentrei a energia na palma da mão, como ele tinha mostrado antes, e visualizei um campo à minha volta.

Mas quando fiz isso, algo deu errado.

A luz explodiu.

O impacto me lançou para trás e Bryan correu até mim antes que eu atingisse uma árvore. Caí em seus braços, o corpo ardendo como se tivesse sido incendiado por dentro.

— Você tentou forçar — ele disse, com a voz firme. — Não basta invocar a luz, Mary. Você tem que ouvi-la.

— Ouvi-la?

— A luz não é uma arma. É uma extensão da sua alma. Se você estiver em conflito, ela vai reagir.

Fechei os olhos. Estava cansada. Exausta. Mas acima de tudo... com medo.

— E se eu estiver errada, Bryan? Se essa luz... for demais pra mim?

— Então será exatamente o que Malcor quer: que você duvide.

Ele me ajudou a sentar. Estávamos ofegantes, e mesmo ferida, eu não queria parar. Mas Bryan olhava para a floresta com os olhos estreitos.

— Algo se moveu.

— O quê?

Ele não respondeu. Se colocou entre mim e a trilha.

Então ouvimos.

Um ruído. Como um rosnado abafado. E depois... olhos surgiram na escuridão das árvores.

Um ser de sombra.

Diferente das criaturas que havíamos enfrentado. Este parecia ter consciência. Sua forma era humanoide, mas feita de trevas líquidas. Os olhos eram completamente brancos e fixos em mim.

— Centelha — disse a criatura com uma voz que parecia um eco. — Ele ainda te protege?

— Saia! — gritou Bryan, já com a espada em mãos.

A criatura riu. O som era sufocante, como se arranhasse o ar ao redor.

— Ela brilha. Mas ainda não sabe queimar.

Num segundo, ela avançou.

Bryan reagiu no mesmo instante, bloqueando o golpe com sua espada feita de sombra solidificada. Os dois se chocaram com um estrondo. A criatura tentou alcançar meu pescoço, mas Bryan girou o corpo, golpeando-a no flanco.

Ela recuou.

Mas então seus olhos se voltaram pra mim — e dessa vez, falou diretamente comigo.

— Você terá que escolher. E quando o fizer... ele vai sangrar por você.

— Cale-se! — gritei.

Levantei as mãos. A luz que me queimava por dentro finalmente respondeu com força. Ela saiu de mim como um raio dourado, atravessando o peito da criatura, que gritou em agonia antes de desaparecer em fumaça.

A floresta silenciou.

— Você... conseguiu — disse Bryan, com olhos arregalados. — Usou a luz sem quebrar.

— Eu não ouvi a luz — respondi, ofegante. — Eu ouvi meu medo... e o transformei.

Ele me olhou como se visse algo novo em mim. Como se, naquele momento, eu tivesse deixado de ser apenas uma aprendiz.

— Agora Malcor sabe do que você é capaz — disse Bryan. — E ele virá. Com tudo.

Suspirei. Sabia que aquilo era apenas o começo.

E pela primeira vez... eu estava pronta.

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