🌒 Capítulo 4 – As Primeiras Chamas
Eu costumava acreditar que o fogo era algo exterior — algo que se acendia com um fósforo, que queimava florestas ou iluminava casas. Nunca imaginei que pudesse existir um fogo que nascesse dentro de mim. Um calor silencioso, vivo, faminto.
E naquela manhã, Bryan me disse que era hora de enfrentá-lo.
— Hoje você vai encontrar sua chama interior — disse ele, enquanto caminhávamos por uma trilha estreita, encoberta por galhos retorcidos. — Mas saiba: o que você vê lá dentro pode te mudar.
— Mudar como? — perguntei, sentindo a tensão nas pernas.
— Depois que o fogo desperta, você nunca mais é a mesma.
O caminho nos levou a um antigo círculo de pedras cobertas por musgo e símbolos esculpidos com precisão milenar. No centro, uma pedra maior, quase como um altar. A floresta ali parecia mais silenciosa, como se até os animais respeitassem aquele espaço.
— Este lugar é sagrado para os marcados pela luz — Bryan explicou. — Aqui, o fogo interior pode se manifestar com mais clareza. A torre vai exigir isso de você em breve.
Assenti, embora não compreendesse completamente. Sentei-me sobre a pedra, cruzando as pernas como ele instruiu. O ar parecia mais denso. Havia um cheiro de pinho, terra molhada e algo metálico, como eletricidade.
— Feche os olhos. Respire fundo. Lembre-se de tudo que já te quebrou... e de tudo que ainda te mantém de pé.
Respirei. E aos poucos, as lembranças começaram a surgir.
Vi minha infância solitária. Meu pai antes de desaparecer. As mãos da minha mãe calejadas de tanto trabalhar. Os olhos de Bryan me protegendo na noite em que a criatura de sombra quase me matou.
E então, vi a mim mesma — sozinha, cercada de trevas, mas com uma centelha de luz pulsando no peito.
A dor veio primeiro. Depois o calor.
Uma onda quente começou a crescer dentro de mim, partindo do centro do meu peito. Não era exatamente agradável, mas também não era insuportável. Era... verdadeiro. Cru. Quase como se minha alma estivesse queimando o que não precisava mais carregar.
Meus olhos ainda estavam fechados quando senti algo escapar das minhas mãos.
Luz.
Minhas palmas começaram a brilhar, douradas como brasas vivas. Quando abri os olhos, vi meu corpo envolto em uma aura quente, suave, como o primeiro raio de sol após a tempestade.
— Você fez isso sozinha — disse Bryan, sua voz embargada de admiração. — Está começando a despertar, Mary.
— Isso... é o fogo?
— O início dele. A luz que se acende quando aceitamos quem realmente somos.
O calor dentro de mim se expandia como uma fogueira que não queria se apagar. Mas, ao mesmo tempo, sentia meu corpo ficando fraco. A luz exigia muito. Mais do que eu esperava.
Cambaleei ao tentar me levantar.
— Fácil — disse ele, correndo até mim e me segurando. — É normal. Você moldou a luz de dentro para fora. É como renascer.
Me apoiei em seu braço. Seu toque era firme, seguro, e mesmo cercado de sombras, ele nunca pareceu tão... humano. Tão próximo.
— Bryan... você sente algo quando usa sua sombra?
Ele hesitou antes de responder.
— Sinto frio. Um vazio que se preenche com cada escolha errada que já fiz. A sombra é diferente da luz. Ela carrega peso. Mas também protege.
— E se eu usar os dois?
— É perigoso. Mas possível.
— Já tentou?
Bryan desviou o olhar.
— Não depois da última vez.
Ficamos em silêncio por um tempo, observando o brilho da minha luz desaparecer devagar. A floresta voltou a se mover ao nosso redor, como se finalmente aprovasse o que eu havia feito.
— Você está mudando, Mary — ele disse, com suavidade. — E o mundo está prestando atenção.
— Isso me assusta.
— Isso significa que você está viva.
Olhei para o céu acima de nós, entre as copas das árvores. As nuvens se afastavam, revelando a lua pela metade.
Luz e sombra dividindo o céu.
E pela primeira vez, comecei a entender: o fogo dentro de mim não queria apenas iluminar... ele queria decidir.
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Atualizado até capítulo 26
Comments
Shreya Das
Espero que você sempre continue nos presenteando com suas histórias maravilhosas.
2025-06-23
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