...Narrado por Carolina Vasconcelos...
O sol ainda nem havia nascido por completo quando me sentei à mesa da cozinha. Tia Cida preparava café com seus gestos firmes e silenciosos. Havia algo reconfortante no som da chaleira, no aroma do pão quente... e no modo como ela cuidava de mim sem dizer muito.
Mas naquele dia, eu não consegui esconder o que me consumia por dentro.
— Tia... — comecei, hesitante. — Posso te falar uma coisa?
Ela se virou, olhos atentos e coração sempre aberto.
— Claro, meu bem. Aconteceu alguma coisa?
Demorei alguns segundos para conseguir dizer. A voz saiu quase num sussurro:
— Eu tenho medo.
— Medo? De quê, menina?
Baixei os olhos para a xícara de chá.
— Desse lugar... da mansão... dele.
Tia Cida puxou uma cadeira e se sentou à minha frente.
— Está falando do Sebastián?
Assenti, sentindo meu rosto esquentar.
— Ele me olha de um jeito, tia. Como se... como se pudesse me devorar sem tocar em mim. E eu fico toda estranha por dentro. Não sei explicar. Eu nunca... eu nunca senti isso.
Ela segurou minhas mãos, com carinho.
— Você é jovem, Carolina. Está conhecendo o mundo agora. E homens como ele... sabem usar o olhar. Sabem causar efeito.
— É que... eu nunca namorei, tia. — minha voz tremeu. — Nunca fui beijada. Nunca tive nada com homem nenhum. Eu... eu sou virgem. Nunca nem me apaixonei.
Os olhos dela se encheram de ternura.
— Minha menina... você é pura. E esse mundo, esse ambiente... pode te machucar se não tomar cuidado. Sebastián é um homem perigoso. Não digo que ele vá te ferir... mas ele carrega um mundo escuro nas costas. Você precisa proteger seu coração.
Assenti, tentando engolir a ansiedade que crescia no peito.
— Eu só quero terminar minha faculdade. Ajudar a senhora. Ser alguém. Não quero me perder aqui dentro...
Tia Cida beijou minha testa com delicadeza.
— Então se mantenha firme. E lembre-se: você não está sozinha.
Algumas horas depois, eu saía apressada da mansão. Vesti uma calça jeans simples, camiseta branca e uma mochila com meus cadernos e livros. Meu primeiro dia de aula desde que cheguei.
Caminhava em direção à parada do ônibus, com o sol aquecendo levemente minha pele e o vento bagunçando meus cabelos. Estava distraída com pensamentos... quando ouvi o som de um motor elegante atrás de mim.
Um carro preto luxuoso desacelerou ao meu lado. A janela traseira foi abaixada. E então, lá estava ele.
Sebastián.
— Vai a pé até o ponto? — perguntou com a voz calma, mas direta.
— Sim... O ponto é logo ali. O ônibus deve estar chegando. — tentei sorrir, educada, evitando seu olhar.
— Entre. Eu levo você.
— Não precisa, senhor... Eu...
— Não gosto de ver você andando sozinha nessa rua. Entre.
Olhei para os lados, incerta. O motorista permaneceu impassível ao volante. Eu sabia que seria grosseiro recusar. E, no fundo... algo em mim queria aceitar. Sentir sua presença mais uma vez.
Assenti devagar e abri a porta traseira.
O estofado era macio, o perfume dele preenchia o espaço como um feitiço. Sebastián estava ao meu lado, elegante, os olhos fixos na estrada à frente... mas eu sentia o calor do seu olhar em mim.
— Que curso faz? — ele perguntou, quebrando o silêncio.
— Arquitetura — respondi, ajeitando os dedos sobre o joelho.
— Hm. Sempre quis isso?
— Sim. Gosto de desenhar. Construir. Organizar espaços.
Ele assentiu, pensativo.
— Uma garota de traços delicados... e mente afiada. Isso é raro.
Aquelas palavras me fizeram prender a respiração por um segundo. Havia algo na forma como ele me olhava. Como se já tivesse me imaginado sem barreiras, sem armadura.
— E você, senhor...? — ousei perguntar, desviando o olhar. — Sempre quis ser... o que é?
Ele sorriu de lado. Mas o sorriso não foi de prazer. Foi triste.
— Nem tudo é escolha, Carolina.
O carro parou em frente ao portão da universidade. Meu coração batia como se quisesse fugir do peito.
— Obrigada pela carona.
— Carolina...
Me virei, já com a mão na maçaneta.
— Sim?
— Evite sair sozinha por essas ruas. Nem todos têm boas intenções.
Assenti, sentindo o corpo inteiro estremecer.
Desci. E mesmo andando rumo à entrada, senti o olhar dele me seguindo até desaparecer entre os alunos. O mundo podia parecer o mesmo... mas eu já não era.
Dentro do carro, Sebastián permaneceu observando. Algo em seus olhos dizia que o controle escapava por entre os dedos.
Porque aquela garota — doce, ingênua, pura — começava a destruir lentamente o império de gelo que ele havia construído por dentro.
E isso... o assustava mais do que qualquer inimigo.
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Atualizado até capítulo 60
Comments
Nilzete Amorim
amando autora nanda um desse pra mim kkkk
2025-07-02
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