O Colapso da Lua

O sol ainda estava alto, mas Luna sentia-se mais fraca a cada respiração. Sua visão estava embaçada, como se estivesse submersa em água fria e densa.

Ela já sabia o que estava acontecendo. O médico avisara, mas a realidade não havia se concretizado até aquele momento. A dor estava tomando conta de sua carne, mas, mais doloroso ainda, era perceber que, de alguma forma, já não se importava.

Havia algo libertador no fim iminente. Algo que a fazia sentir que finalmente poderia soltar as amarras que a prendiam a um amor perdido.

Mas ainda havia uma carta a ser escrita.

A caneta tremia entre seus dedos, e a página em branco parecia se estender como um abismo. Ela não queria escrever mais nada. Não queria mais nada que fosse direcionado a ele. Mas o que mais ela poderia fazer? Deixar-se consumir sem luta? Não. Ela escreveria até o último suspiro. Até o último vestígio de sua alma.

Ela apertou os olhos, tentando se concentrar, mas a visão ficou turva, e sua cabeça girou. Um grito abafado se formou em sua garganta. Ela se levantou, tentando caminhar, mas suas pernas falharam. A luz da janela se distorceu, e ela caiu no chão, de joelhos, ofegante, mas ainda ciente de tudo ao seu redor.

O som dos passos de Elias ecoou no corredor. Ela tentou se levantar, mas não conseguiu. O corpo pesava como se fosse feito de pedra.

— Luna? — A voz dele veio do outro lado da porta.

Ela não respondeu. Não poderia. A última coisa que ela queria era a sua piedade. Não agora. Não quando ela já havia feito tudo o que podia, e ele, mesmo sendo o alfa, não conseguira perceber a dor de sua luna até que fosse tarde demais.

---

Elias sentiu a tensão no ar. Algo não estava certo. Ele havia acabado de retornar de uma reunião com a matilha e encontrou o silêncio. O jantar estava intacto, e o ambiente da casa parecia deserto.

— Luna? — Ele chamou mais uma vez, ao se aproximar da porta do quarto. Não houve resposta.

Com a testa franzida, ele abriu a porta lentamente e foi até o centro do quarto.

Ali, no chão, estava ela. A mulher que ele havia chamado de esposa, mas que, de alguma forma, ele mal conhecia.

Ela estava pálida, os olhos fechados, respirando com dificuldade. Um arrepio percorreu sua espinha. Ele se ajoelhou ao lado dela, tentando tocá-la, mas Luna balançou a cabeça lentamente, como se o simples contato fosse demais para suportar.

— Luna, o que aconteceu? Você está bem? — sua voz agora era mais suave, mas havia uma angústia crescente.

Luna abriu os olhos por um instante, focando nele com um esforço visível. Mas ela não disse nada. Apenas fitou-o com um olhar vazio, quase como se ele fosse um estranho. A dor que ele viu nos olhos dela o atingiu com força.

Elias não sabia o que fazer. Ele a levantou com cuidado, levando-a para a cama. Ela se deixou levar, mas seu corpo estava frio e rígido. Ele observou os sinais de fraqueza. O colar com a pedra vermelha já não brilhava como antes. A magia da ligação entre eles estava enfraquecendo.

Elias colocou Luna com cuidado sobre a cama. O corpo dela parecia mais leve do que ele se lembrava. Quase frágil.

Ela murmurava coisas desconexas, com os olhos semiabertos, e por um instante, ele se viu envolto por uma sensação que há muito não experimentava: medo.

Medo de perdê-la.

Mas foi então que seu celular vibrou no bolso. Ele o tirou com pressa, achando que fosse uma mensagem urgente da matilha. Não era.

Era de Helena.

Um conjunto de fotos — íntimas, provocantes. Ela, nua, no quarto de hóspedes, com uma legenda que apenas dizia:

> “Te esperando. Como ontem. Só nós dois.”

O sangue de Elias ferveu. Um misto de desejo e fuga percorreu suas veias. Olhou para Luna — pálida, inconsciente, vulnerável. O coração pesou. Mas o corpo reagia a outro chamado.

A covardia falou mais alto.

Ele levantou-se devagar e ajeitou o cobertor sobre ela.

— Eu volto logo — murmurou, mesmo sabendo que ela não podia ouvi-lo.

Desceu as escadas em silêncio, cruzou os fundos da casa e saiu pela lateral da propriedade. Não queria ser visto. Não queria dar explicações.

Mas o que ele queria... era Helena.

Ou o que ela representava.

Ali, na lateral da casa da matilha, sob a sombra das árvores e longe de olhos curiosos, ele se deixou levar.

A intensidade do momento apagou da mente qualquer resquício de culpa.

Helena o envolveu com os braços, os lábios, os sussurros.

Ele não pensava. Apenas cedia.

E enquanto isso, no quarto, Luna abriu os olhos por um breve momento.

O colar em seu pescoço soltou um estalo fraco — a pedra agora era quase cinza.

A ligação estava à beira de se romper por completo.

Ela não sabia onde ele estava.

Mas sentia.

A dor da traição mágica era diferente de todas as outras.

Ela segurou a carta inacabada com dedos trêmulos e escreveu, ainda que mal conseguisse manter os olhos abertos:

> Carta 4

Não importa mais onde você está.

Eu consigo sentir.

Toda vez que você toca outra, algo dentro de mim morre.

Talvez essa seja a última.

Mas se for... então é isso que você merece:

O silêncio de quem você matou em vida.

As palavras foram ficando tortas, manchadas pela tinta e pela força que esvaía.

Mas estavam lá.

Para serem entregues.

Para sangrarem no coração dele... tarde demais.

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Comments

Glaucia Marques Gomes

Glaucia Marques Gomes

ela não pode morrer,por favor autora... não deixe Luna morrer.... ansiosa por mais mais mais mais mais mais mais mais

2025-06-20

0

Cleusa Dias Do Amaral

Cleusa Dias Do Amaral

Que história triste estou até chorando muito triste/Sob//Sob//Sob/

2025-06-26

0

Lourdinha Martins

Lourdinha Martins

meu coração está apertado

2025-06-28

0

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