— Você... tem no máximo três meses, Luna.
As palavras saíram como navalhas.
— Sinto muito — completou o médico, olhando para baixo, envergonhado da própria impotência.
Ela não respondeu. Só ficou ali, sentada na beira da maca fria, com os olhos fixos na parede branca à sua frente, como se o mundo tivesse perdido a cor.
A notícia não a surpreendeu. Ela já sentia algo errado há semanas. Cansaços que não passavam, calafrios mesmo sob o sol, a pedra em seu colar — antes vibrante — agora mal brilhava. Mas ouvir a sentença... era diferente.
O médico explicou que o desgaste era interno, que os exames não faziam sentido, que seu corpo estava simplesmente... desistindo. Mas Luna sabia o motivo. Aquilo não era biológico. Era mágico. Era o preço de uma promessa quebrada.
Ela apenas se levantou, agradeceu em voz baixa e saiu.
O vento gelado bateu contra seu rosto assim que cruzou a porta da clínica. Montserra estava coberta por nuvens carregadas, e a lua, sua eterna companheira, permanecia escondida. A cidade parecia cinza — assim como ela.
Mas não chorou.
Nem ali. Nem depois.
No caminho de volta para casa, o coração dela pesava mais do que a bolsa em seu ombro. Ainda era cedo. O céu indicava fim de tarde. O trânsito era leve. Ela poderia ir para qualquer lugar. Poderia sumir. Gritar. Correr até suas pernas falharem.
Mas não.
Hoje fazia exatamente três anos desde que se casara com Elias, o alfa da matilha Sombras da Lua.
O homem que, anos atrás, ela salvara.
O homem que, hoje, carregava outra mulher em seus braços — grávida de filhos que não eram dela.
Ainda assim, Luna voltou.
Voltou para casa.
Voltou para a alcateia.
Voltou para o lar onde seria esquecida em breve.
No portão da propriedade, os seguranças abriram passagem sem perguntas. Todos ali a respeitavam. Afinal, ela ainda era a luna. Pelo menos por enquanto.
A casa estava vazia quando entrou. Elias havia saído cedo e não deixara aviso. Como de costume.
Suspirando, Luna pendurou o casaco, prendeu o cabelo e caminhou até a cozinha.
Mesmo com o coração em ruínas, prepararia o jantar.
Ela temperou a carne preferida dele. Separou o vinho que haviam aberto na primeira noite juntos. Arrumou a mesa com as louças mais bonitas.
Pétalas de rosa.
Velas.
Detalhes que ninguém notaria, mas que ela ainda fazia questão.
Enquanto cortava os legumes, seus olhos ardiam, mas as lágrimas não vinham.
Não mais.
Três meses.
Era o que lhe restava.
E aquela noite, ela decidiu, seria perfeita.
Como um último suspiro.
O relógio marcava 22h17 quando a vela mais próxima de Luna se apagou. A cera escorria lenta, como se imitasse o que corria dentro dela: o tempo.
A comida esfriara há horas. O vinho seguia intacto. E o lugar de Elias... vazio.
Ele não voltaria.
Ela sabia.
Ele não estava em uma reunião. Nem em missão da matilha. Estava com ela — a mulher que voltara de um passado que Luna jamais conseguiu apagar dos olhos dele.
Mesmo grávida, a ex parecia ser prioridade.
E Luna?
Apenas a sombra de uma promessa antiga.
A “esposa de dever”...
Aquela que ele só tocava quando precisava manter aparências.
Ela se levantou com calma. Apagou as velas. Guardou a comida. O ritual se repetia. Como tantas outras vezes. Mas algo dentro dela mudara. A morte anunciada deixava tudo mais... nítido.
Quando subiu as escadas para o quarto, não chorava. Não tremia. Estava vazia. E naquele vazio, surgiu a clareza.
Ela abriu a gaveta da escrivaninha. Tirou folhas novas, pegou uma caneta e, com os olhos fixos no vazio à frente, começou a escrever.
> Carta 1
Para Elias, o lobo que me matou.
Você não vai lembrar do que me disse naquela manhã em que quase perdeu a vida.
Eu lembro.
Você disse que, se eu te salvasse, me amaria até o último sopro.
Eu salvei.
Você mentiu.
Esta é a primeira de muitas cartas. Não sei quantas conseguirei escrever antes que minha força acabe. Mas sei que você vai recebê-las.
Todas elas.
Uma por uma.
Após a minha morte.
E talvez, quando a última chegar, você entenda o que destruiu com as próprias mãos.
Ela parou. A ponta da caneta ficou suspensa por alguns segundos. Depois, ela continuou.
Carta após carta.
Dor após dor.
Lembrança após lembrança.
Naquela noite, Luna não dormiu.
Mas pela primeira vez em muito tempo...
Ela sentiu que estava fazendo algo por si mesma.
E enquanto a madrugada avançava, o colar em seu pescoço emitia um brilho cada vez mais fraco.
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Atualizado até capítulo 24
Comments
Glaucia Marques Gomes
tem que ter como quebrar o elo que liga a vida de Luna a de Elias,ao amor de Elias.... quando ele se arrepender, porque ele vai se arrepender pode ser tarde demais.... ansiosa por mais mais mais mais mais mais mais mais
2025-06-20
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Lourdinha Martins
espero que ela se salve e consiga ser feliz.
2025-06-28
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