...Miguel González...
Meu coração está acelerado, como da primeira vez em que a vi…
Sentada no canto da biblioteca, tão concentrada na leitura. Seus cabelos negros como a noite voavam ao vento, acariciando o rosto claro, levemente rosado. Alguém a chamou — Julia. Ela se desprendeu do livro e sorriu para a garota que a chamava. Que sorriso… tão linda.
Fiquei tanto tempo a observando conversar com a menina — que julgo ser sua amiga — que nem percebi Matheus se aproximar.
— Ei, cara, tudo bem? Miguel? Alô! Planeta Terra chamando!
Matheus bateu as mãos na frente do meu rosto, me tirando do transe.
— Oi... tava falando comigo? — perguntei, confuso.
— Ah, não! Com meu amigo imaginário. Ele tá aqui do seu lado. Ei, parça, se você ver o Miguel por aí, avisa que eu fiquei esperando ele por horas na cafeteria! — disse, olhando para o nada como se conversasse com alguém. Revirei os olhos com seu sarcasmo.
— Foi mal, me distraí com o livro.
— Não sabia que você tinha superpoderes… Só assim pra conseguir ler o livro que está na mão de outra pessoa, a uns três metros de distância — ele falou, sem abandonar a ironia. — "sua melhor amiga" — olhando descaradamente para as garotas do outro lado da sala.
— Para de encarar, elas vão perceber.
— Amigo, você estava fazendo a mesma coisa um minuto atrás. Olha só, tem até uma baba escorrendo aqui — Matheus fingiu limpar algo no canto da minha boca, colocando o braço em volta dos meus ombros, que eu fiz questão de afastar.
— Qual delas? — ele me olhou divertido.
— A de branco, com o livro. Os olhos dela parecem uma cachoeira no meio da floresta, não acha?
Ele gargalhou. Alto demais. Todos, inclusive as garotas, olharam para nós. Quis me enterrar vivo.
— Para! Estamos numa biblioteca. Silêncio! Que vergonha...
Matheus estava vermelho, lágrimas escorriam dos olhos de tanto rir. Quando tentou se acalmar, bebeu água e acabou engasgando. Dei alguns tapinhas em suas costas.
— Está bem?
Ele me olhou indignado.
— Tá mesmo preocupado? Você quase me deixou corcunda. Precisava bater tão forte? Queria me aleijar?
— Não era minha intenção... Mas bem que merecia. Olha! Tá todo mundo encarando a gente agora.
— Você devia me agradecer. Agora a sua garota tá olhando pra você. Ela nunca mais vai se esquecer do cara da biblioteca — disse, piscando de um olho.
— Ela nunca mais vai se esquecer é do palhaço que ficou rindo que nem uma hiena no meio da biblioteca — falei, tentando não levantar o rosto. Estava com medo de encarar Julia e ver um olhar de julgamento.
— Bom… vamos descobrir. Ela está vindo pra cá.
Meus olhos se arregalaram. Quis sair correndo, mas permaneci inerte. As garotas se sentaram à nossa mesa, e a amiga de Julia tomou a frente da conversa.
— Oi! Me chamo Mia, e essa é a…
— Julia — completei, sem perceber. Uma mania que adquiri por conviver com o Matheus, que sempre se esquece das coisas. Vi a garota sorrir e olhar de canto para a amiga, que ainda estava em silêncio.
— Você é…? — Julia perguntou, se referindo ao Matheus, sem olhar para mim. Por alguns instantes, meu coração parou. Matheus se remexeu desconfortável na cadeira e me lançou um olhar rápido. Comecei a juntar minhas coisas, com o olhar baixo, como quem se prepara para sair.
— Matheus. E o meu amigo é o…
— Miguel — minhas mãos travaram. Meu olhar encontrou o dela antes mesmo de eu levantar a cabeça.
— Eu sei — disse ela, olhando nos meus olhos como se pudesse enxergar minha alma.
Ela estendeu a mão e sorriu. O mundo se iluminou à sua volta, e eu quase podia jurar que vi borboletas voando.
— É um prazer, finalmente te conhecer — disse.
— Finalmente? Você me conhece? — perguntei, confuso, enquanto estendia a mão para apertar a dela. Senti um leve choque. Acho que ela também.
— Você é o presidente do clube de natação, não é? O aluno número 1 de arquitetura. Todos falam sobre você na universidade. Como eu não saberia? É um prazer conhecer alguém tão... famoso por aqui.
Meu queixo caiu, mas minha ficha não. Fiquei um bom tempo sem reação. Meu amigo me cutucou.
— Desculpa, ele tá chocado. Ainda não acostumou com as pessoas reconhecendo ele por aí.
Matheus me beliscou e eu dei um tapinha na nuca dele.
— Tá doido? Me beliscou por quê, imbecil?
— Eu que te pergunto: tá encarando a menina que nem um maníaco por quê, asno?
— Só estou surpreso. Não precisava me machucar — reclamei.
— Ah, não se preocupe. Da próxima vez eu ligo pra Nárnia e pergunto se alguém pode te avisar que eu tô chamando — debochou, fazendo um sinal de telefone com a mão.
Revirei os olhos e olhei para as garotas à minha frente. Meus olhos recaíram sobre Julia.
— Também foi um prazer te conhecer pessoalmente. Vice-presidente do clube de literatura. Aluna número 1 de engenharia civil. A garota mais popular da universidade...
Sorri. Ela devolveu o sorriso.
— Veja o que temos aqui: o Sol e a Lua do campus. E o que somos nós? Meras estrelas? Talvez nem isso — meu amigo resmungou para Mia.
...----------------...
Não sei descrever a sensação que tive naquela tarde.
Julia é perfeita. Doce, gentil, forte e determinada. Uma explosão de qualidades.
Agora, estou aqui, na cafeteria ao lado do campus, observando enquanto ela atravessa o pequeno salão com elegância, carisma e delicadeza. Seus olhos me procuram e me encontram — estou exatamente onde ela esperava que eu estivesse. Seu lindo sorriso cresce e, mais uma vez, juro que vejo as borboletas.
É quase irônico.
Ela está usando um vestido branco, rodado, com a saia repleta de borboletas coloridas.
Ela se aproxima e tudo desacelera. O mundo entra em câmera lenta. Meu coração esquece o ritmo certo e dispara como um maratonista.
Seria apressado — talvez até um equívoco — dizer que estou completamente apaixonado por essa garota?
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 24
Comments