Aurora acordou com o gosto dele ainda em seus lábios.
O beijo. A maneira como Noah a tocara com calma e desejo contido. A forma como seus corpos haviam se encaixado, mesmo que apenas por um instante. Era o suficiente para desestabilizar tudo o que ela havia construído dentro de si.
E ela odiava isso.
Odiava como ele entrava sob sua pele.
Odiava ainda mais o fato de que, em nenhum momento, ela quis recuar.
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No escritório, na manhã seguinte, ela chegou com os cabelos soltos e um vestido bege de linho. Elegante. Reservado. Mas com um ar mais leve, como se estivesse tentando convencer a si mesma de que nada havia mudado.
Ele já estava lá. Sempre o primeiro.
Camisa azul dobrada nos braços fortes, os olhos no computador. Quando a viu entrar, ergueu o olhar devagar. E sorriu.
Um sorriso discreto. Confiante.
Ele sabe. Ela pensou. Sabe o efeito que causou.
— Bom dia. — ele disse, sem disfarçar o tom rouco.
— Bom dia. — respondeu seca, sem olhar muito.
Mas o coração dela já estava acelerado.
Durante a reunião de equipe, ele fazia questão de elogiá-la na frente de todos. Suas análises, suas decisões rápidas, sua forma de apresentar números.
Ela não sabia se era real ou manipulação.
Quando todos saíram da sala, ela ficou para recolher seus papéis. Ele se aproximou por trás, e sua voz veio baixa, quase como uma carícia no ouvido.
— Sonhou comigo?
Ela se virou, cruzando os braços.
— Isso é assédio, sr. Bastien.
— Isso é curiosidade sincera.
— E se eu dissesse que não?
— Eu diria que está mentindo. — Ele se aproximou um pouco mais. — Porque eu sonhei com você.
Ela não respondeu.
Apenas virou-se, pegou os papéis e saiu da sala com passos firmes, sem dar a ele a vitória de ver o sorriso que quase escapou.
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Mais tarde, naquela tarde, receberam a visita de investidores estrangeiros. Noah decidiu que eles teriam que apresentar juntos o projeto final da fusão das empresas.
O detalhe?
A apresentação seria feita em um resort nos arredores de Lisboa, no fim de semana.
Dois dias isolados. Hospedados no mesmo local.
Aurora quase recusou.
Mas não podia parecer fraca ou descontrolada. E se convenceu de que poderia lidar com Noah. Como sempre lidou.
Mas lidar com desejo era outra história.
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O resort era à beira-mar, moderno e luxuoso. Cada executivo tinha seu quarto, mas Noah e Aurora estariam juntos o tempo inteiro nas reuniões, apresentações e jantares com os empresários.
No sábado à noite, depois do jantar, ela subiu para o quarto tentando evitar qualquer tipo de proximidade fora do profissional. Mas mal fechou a porta e ouviu batidas suaves.
Era ele.
Camisa escura, sem paletó, dois botões abertos no colarinho.
— Você esqueceu seu tablet na sala de reunião. — Ele disse, estendendo o objeto.
Ela pegou com cuidado, sem encostar nele.
— Obrigada.
— Posso entrar um segundo?
— Noah…
— Só conversar. Juro. — Ele ergueu as mãos. — Estou tentando me conter. Mais do que nunca.
Ela suspirou… e deixou a porta se abrir.
Ele entrou, os olhos percorrendo o ambiente. Era um quarto espaçoso, decorado com tons claros e vista para o mar. Uma garrafa de vinho branco repousava sobre a bancada, fechada.
— Quer um pouco? — Ela ofereceu, tentando não parecer afetada.
— Só se for com você.
Ela serviu duas taças e sentou-se no sofá. Ele ficou ao lado, respeitando a distância. O silêncio entre os dois era carregado. Tenso. Mas não desconfortável.
— Você é muito diferente de mim, sabia? — ele disse, encarando o líquido dourado da taça.
— Isso é bom ou ruim?
— É o que me faz perder o sono.
Ela o olhou. E ele retribuiu com um olhar direto, íntimo.
— Noah… Eu não sei lidar com você.
— Não precisa lidar. Só sentir.
— Isso é o problema. Eu não sou alguém que vive com o coração exposto. — Ela baixou o olhar. — Eu perdi muito cedo. Tive que me proteger. Aprendi a confiar só em mim.
Ele a observava com atenção. Sem interromper.
— Quando meus pais morreram, tudo virou… controle. Agenda. Mérito. Estudo. Nunca houve espaço para mais ninguém.
Ela suspirou, como se soltar aquilo a deixasse mais leve.
— E agora você vem, com esse seu jeito de destruição silenciosa. E eu sinto tudo que nunca permiti sentir antes.
Noah colocou a taça sobre a mesa, inclinou-se e pegou as mãos dela.
— Eu não quero destruir você, Aurora. Quero conhecer cada parte. Até as que você tenta esconder.
— E se eu fugir?
— Eu te sigo. Mas não vou te forçar. Nem pressionar. Só quero... uma chance.
Ela ficou em silêncio por um tempo. Então, ele se aproximou mais, e os rostos ficaram a poucos centímetros. Um momento de hesitação. Um espaço onde tudo podia acontecer — ou ser evitado.
— Posso? — ele sussurrou.
Ela respondeu apenas com um leve movimento de cabeça.
O beijo foi diferente do anterior. Mais urgente. Mais intenso. A respiração se misturou, as mãos dele agora tocavam sua cintura, subindo pelas costas nuas expostas pelo vestido.
Ela arfou quando sentiu os dedos dele deslizarem por sua pele, mas não recuou. Em vez disso, puxou-o pela nuca, aprofundando o beijo. O mundo inteiro parecia girar naquele instante.
Ele a deitou devagar no sofá, os corpos colados, mãos explorando sem pressa. Mas quando a respiração começou a ficar pesada demais e as mãos a tocar demais… ela interrompeu.
— Noah… — disse, com dificuldade. — Eu não posso… Ainda não.
Ele parou imediatamente, respirando ofegante, com a testa encostada na dela.
— Tudo bem. Eu espero. Por você… eu espero.
Ela tocou o rosto dele, surpresa com a entrega. E ele sorriu, sincero.
— Boa noite, Aurora.
— Boa noite, Noah.
Quando ele saiu do quarto, o silêncio pareceu mais barulhento que antes. Ela fechou os olhos, deitando no sofá, ainda sentindo os lábios dele nos seus.
Sim, ela estava caindo.
E não sabia se conseguiria parar.
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Atualizado até capítulo 38
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