A semana havia sido exaustiva. Aurora encerrava mais um dia no escritório em Lisboa, com os cabelos presos em um coque improvisado e os olhos cansados pelas horas diante de gráficos e contratos.
Na tela do celular, uma notificação inesperada.
“Evento de gala da Bastien & Co. – Traje de gala obrigatório – 20h”
Ela franziu o cenho.
— Ótimo. Agora ele quer desfile de máscaras também.
Noah havia comentado sobre um evento, mas ela não imaginava que seria obrigatório. Ainda assim, não podia recusar. Representava a nova filial e, gostando ou não, também representava o nome dele.
Suspirando, foi até o closet do apartamento e puxou um vestido que trouxera sem intenção de usar: longo, preto, com decote sutil e costas abertas. Elegante, discreto… e provocante na medida exata.
Às 19h55, desceu pelo elevador e encontrou uma limousine à sua espera.
Claro. Estilo Noah.
Quando chegou ao local, um antigo palácio transformado em espaço de eventos, ela desceu com passos firmes. Estava determinada a manter o controle da situação. Mas então o viu.
Noah usava um smoking impecável, os cabelos loiros levemente desarrumados, como se o caos lhe caísse bem. Quando a viu, seus olhos a seguiram como se ela fosse a única no salão.
Ele atravessou a multidão com passos calmos, imponentes, até parar diante dela.
— Aurora…
— Sr. Bastien. — Ela estendeu a mão, formal.
Ele ignorou a formalidade e se aproximou, pegando a mão dela e depositando um beijo lento no dorso.
— Você está inacreditável.
— Obrigada. Está tentando me desestabilizar?
— Não. Estou sendo sincero. O que, vindo de mim, é ainda mais perigoso.
Aurora sentiu o calor subir pelo pescoço, mas disfarçou com um gole de champanhe.
A noite seguiu com discursos, brindes e networking. Aurora manteve-se firme, sempre cortando as insinuações dele com respostas afiadas.
Mas perto da meia-noite, quando o salão esvaziava e a música tornava-se mais suave, Noah se aproximou novamente.
— Vem comigo. — Ele disse, estendendo a mão.
— Para onde?
— Para um lugar com menos vozes e mais verdades.
Ela hesitou por dois segundos.
E então aceitou.
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O jardim do palácio era um refúgio silencioso. Lanternas pendiam das árvores e o aroma de jasmim pairava no ar. Noah a conduziu até uma área reservada, onde havia um banco de madeira envolto por flores.
— Aqui ninguém vai interromper. — Ele murmurou.
Aurora sentou-se, o vestido moldando-se às curvas. Ele ficou em pé à sua frente, as mãos nos bolsos.
— Por que você faz isso? — ela perguntou, com a voz baixa.
— O quê?
— Me provocar. Testar. Jogar esse jogo que só você entende.
Ele se abaixou diante dela, apoiando os cotovelos nos joelhos, os olhos nos dela.
— Porque eu gosto de ver o que você esconde.
— Não escondo nada.
— Esconde. Esconde o que sente. Esconde o que quer. Esconde até de você mesma.
Ela desviou o olhar. Ele ergueu a mão e tocou uma mecha solta de cabelo, colocando-a atrás da orelha dela. O toque foi leve… mas desencadeou um turbilhão.
— Você é diferente de todas as mulheres que já conheci. Não tenta me impressionar. Não tenta me agradar. E mesmo assim, me fascina como nenhuma outra.
— Talvez porque eu não esteja tentando. — Ela murmurou.
— E isso me deixa louco.
Aurora o olhou. E naquele instante, não havia mais tensão. Só silêncio e o som do coração dela acelerado.
Ele se aproximou mais, o rosto a centímetros do dela.
— Posso te beijar?
Ela não respondeu. Mas também não se afastou.
Foi o suficiente.
Os lábios dele tocaram os dela com suavidade. Um toque breve, como se ainda pedisse permissão. Ela respirou fundo… e respondeu.
O beijo se aprofundou. Não havia pressa. Era lento, cheio de desejo contido, de vontades acumuladas. As mãos dele seguraram sua cintura, puxando-a com firmeza. Ela entreabriu os lábios, permitindo a invasão quente e habilidosa da língua dele.
O gosto de champanhe, o perfume dele, tudo misturado em uma dança silenciosa que fazia seu corpo vibrar.
Quando os lábios se separaram, ambos estavam ofegantes.
— Isso… — ela começou, com a voz rouca. — …não devia ter acontecido.
— Mas aconteceu. E foi inevitável.
Ela tentou se levantar, mas ele a segurou pelo pulso, gentilmente.
— Não fuja.
— Eu não fujo. Eu me protejo.
Ele se levantou junto.
— Eu não sou um risco, Aurora.
— Você é o risco inteiro. — Ela disse, com sinceridade. — Eu não sou como as outras mulheres com quem você já se envolveu.
— Eu sei. E talvez por isso eu queira tentar com você de um jeito que nunca tentei com ninguém.
— E se eu disser que não estou pronta?
— Então eu espero. Mas não vou fingir que não sinto.
Ela o olhou por um momento longo, respirando fundo.
— Você me desestabiliza.
Ele sorriu, com suavidade.
— E você me acalma… e me enlouquece ao mesmo tempo.
Ela deu um passo para trás.
— Boa noite, Noah.
— Boa noite, Aurora.
Mas dessa vez, havia algo nos olhos dela que não era rejeição.
Era medo. E curiosidade.
Era o começo de algo muito mais perigoso do que ela estava disposta a admitir.
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Atualizado até capítulo 38
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