Capítulo 3 – Lisboa, ou o Começo do Incômodo

O avião tocou a pista suavemente. Aurora abriu os olhos, endireitou-se na poltrona executiva e soltou um longo suspiro. Não sabia se o que pesava mais era o cansaço da viagem ou a decisão de ter aceitado a proposta de Noah Bastien.

Lisboa era linda mesmo vista de cima. O sol começava a descer no horizonte, pintando os telhados vermelhos da cidade com tons de ouro e laranja.

Um carro com motorista particular a aguardava na saída do aeroporto. Quando ela entrou, encontrou um envelope no banco.

“Apartamento 1912. Cobertura executiva. Primeiro andar reservado para escritório. O restante, para seu conforto. Sem câmeras. Sem obrigações fora do horário comercial. Mas, se quiser jantar comigo, há vinho no armário. — N.”

Aurora revirou os olhos.

— Arrogante até nos bilhetes.

Mas não conseguiu impedir o sorriso discreto que surgiu no canto da boca.

---

O apartamento era de tirar o fôlego. Amplo, moderno, com janelas do chão ao teto e uma vista espetacular da cidade. Tudo branco, cinza e madeira clara. Um luxo discreto. Ela largou as malas no quarto e foi até a cozinha. E sim — lá estava o vinho, junto com duas taças já separadas.

“Presunçoso.” Ela pensou, mas abriu mesmo assim.

Na primeira noite, decidiu descansar. Ligou para Bianca, deu notícias e garantiu que estava bem. A amiga a provocou até que ambas acabaram rindo da situação.

Na manhã seguinte, às 8h em ponto, desceu até o andar inferior, onde já havia secretárias, técnicos e gerentes reunidos.

E claro, Noah estava lá.

Impecável.

Camisa branca dobrada até os cotovelos, calça social escura e aquele ar de superioridade que parecia vir com ele desde o nascimento.

— Bom dia, Aurora. — Ele disse seu nome como se saboreasse cada sílaba.

— Sr. Bastien. — Ela respondeu seca.

— Pensei que pudesse me chamar de Noah, agora que somos colegas de equipe.

Ela cruzou os braços.

— Colegas não se chamam por apelidos. E eu gosto de manter distância profissional.

Ele inclinou a cabeça, sorrindo.

— Então vai ser uma convivência interessante.

Eles passaram o dia em reuniões. Aurora liderava as estratégias com pulso firme, surpreendendo todos ao redor. Noah assistia de longe, de braços cruzados, como quem observa uma peça rara sendo leiloada e já sabe que vai vencer o lance.

Ao fim da tarde, ele a abordou no elevador.

— Jantar?

— Não. Tenho coisas para organizar.

— A cozinha está pronta. E prometo não ser intrusivo.

Ela o olhou de cima a baixo.

— Você não sabe não ser intrusivo.

— Me dê uma chance. — Ele sorriu. — Estou tentando ser gentil.

— Está tentando me amaciar. E não funciona.

— Talvez eu esteja tentando conquistar sua curiosidade.

Ela deu um meio sorriso.

— Conquistou meu desgosto. Já é algo.

O elevador chegou. Ele segurou a porta para que ela saísse primeiro.

— Uma hora dessas, Aurora, você vai parar de me resistir.

Ela parou de costas para ele e disse:

— E você vai perceber que eu não sou uma das suas conquistas fáceis.

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Na terceira noite, ela o encontrou na cozinha, descalço, camisa de linho meio aberta, cozinhando algo perfumado.

— Achei que estava sozinho no andar — disse, surpresa.

— A cozinha é do prédio. A comida é minha.

— Você cozinha?

— É uma das poucas coisas que faço sem planilhas. Quer provar?

Ela hesitou, depois pegou um garfo e experimentou o molho na panela.

— Está... bom.

— Só bom?

— Eu prefiro ser exigente. É um hábito.

Ele se aproximou, encostando a cintura na bancada onde ela estava.

— E o que mais você prefere? — A voz dele abaixou um tom.

Ela o olhou. Os olhos dele estavam mais escuros, intensos.

— Prefiro que respeitem meus limites.

Noah deu um passo para trás, erguendo as mãos.

— Claro. Você deixa claro onde estão.

— E você continua tentando empurrá-los.

— Admito. Mas só porque você é a primeira mulher que me olha como se não estivesse interessada.

Aurora bebeu o vinho que ele havia servido. Estava tensa. Mas não queria mostrar.

— Talvez porque eu realmente não esteja.

— Talvez. — Ele a encarou por um segundo mais longo. — Ou talvez esteja com medo de estar.

Ela se levantou, pegando a taça.

— Boa noite, Sr. Bastien.

— Boa noite, Aurora.

A tensão no ar era quase palpável. Mas nenhum dos dois recuava.

---

Nos dias que se seguiram, a convivência se tornou um jogo não declarado. Pequenos gestos, toques acidentais, provocações veladas.

Na sexta-feira, ela saiu da reunião e pegou um documento na mesma hora que ele. Suas mãos se tocaram.

Rápido.

Mas quente.

Ela não tirou a mão imediatamente. Nem ele.

— Você sente, não sente? — ele murmurou.

— Sinto o papel entre nós. — Ela retrucou, mesmo com o coração acelerado.

— E o calor da minha pele. Não mente, Aurora. Você sente também.

Ela tirou a mão devagar.

— E você continua achando que tudo gira ao seu redor. Não se cansa?

— Só quando não vale o esforço.

— E eu valeria?

Ele a olhou como se a resposta fosse óbvia.

— Você vale mais do que qualquer mulher que já conheci. E exatamente por isso... ainda estou aqui.

Aurora desviou o olhar e saiu da sala, respirando fundo.

---

Naquela noite, demorou a dormir.

O rosto dele vinha à mente. O cheiro. O toque. As palavras.

Ele era um problema.

E ao mesmo tempo, uma tentação.

Mas ela havia prometido a si mesma que não se envolveria com homens como Noah.

E agora, pela primeira vez em anos, sentia que estava começando a perder o controle que tanto prezava.

Capítulos
1 Capítulo 1 – Olhares que Cortam
2 Capítulo 2 – Proposta Inconveniente
3 Capítulo 3 – Lisboa, ou o Começo do Incômodo
4 Capítulo 4 – Limites Tênues
5 Capítulo 5 – O Gosto do Proibido
6 Capítulo 6 – Entre Paredes de Vidro
7 Capítulo 7 – Faíscas em Terreno Inimigo
8 Capítulo 8 – Quando o Controle se Rompe
9 Capítulo 9 – O Jogo Silencioso
10 Capítulo 10 – A Cidade das Máscaras e Verdades
11 Capítulo 11 – À Beira do Abismo
12 Capítulo 12 – Sob Proteção
13 Capítulo 13 – Rastros e Sombras
14 Capítulo 14 – Entre Espiões e Promessas
15 Capítulo 15 – Retorno, Sabotagem e Desejo
16 Capítulo 16 – Marca, Promessa e Perigo
17 Capítulo 17 – A Explosão
18 Capítulo 18 – O Inimigo na Mira
19 Capítulo 19 – A Primeira Jogada
20 Capítulo 20 – O Alívio Antes da Tempestade
21 Capítulo 21 – Movimentos nas Sombras
22 Capítulo 22 – Sombras e Entregas
23 Capítulo 23– Manhã de Verdades
24 Capítulo 24 – Um Pedido Inesquecível
25 Capítulo 25 – Turbilhão de Pensamentos
26 Capítulo 26 – Distância e Desejo
27 Capítulo 27 – Desejos nas Ruas de Belo Horizonte
28 Capítulo 28– Silêncios e Cuidados
29 Capítulo 29 – A Verdade Vigiada
30 Capítulo 30 – Caçada Silenciosa
31 Capítulo 31 – Silêncio, Desejo e Justiça
32 Capítulo 32 – Interrogatório e Revelação
33 Capítulo 33 – Calmaria e Estratégia
34 Capítulo 34 – Após a calmaria
35 Capítulo 35 – Recuperação e Vingança
36 Capítulo 36 – Novos Desafios, Nova Aurora
37 Capítulo 37 – Um Novo Começo e Desejos à Flor da Pele
38 Capítulo 38 – Um Novo Começo e Desejos à Flor da Pele
Capítulos

Atualizado até capítulo 38

1
Capítulo 1 – Olhares que Cortam
2
Capítulo 2 – Proposta Inconveniente
3
Capítulo 3 – Lisboa, ou o Começo do Incômodo
4
Capítulo 4 – Limites Tênues
5
Capítulo 5 – O Gosto do Proibido
6
Capítulo 6 – Entre Paredes de Vidro
7
Capítulo 7 – Faíscas em Terreno Inimigo
8
Capítulo 8 – Quando o Controle se Rompe
9
Capítulo 9 – O Jogo Silencioso
10
Capítulo 10 – A Cidade das Máscaras e Verdades
11
Capítulo 11 – À Beira do Abismo
12
Capítulo 12 – Sob Proteção
13
Capítulo 13 – Rastros e Sombras
14
Capítulo 14 – Entre Espiões e Promessas
15
Capítulo 15 – Retorno, Sabotagem e Desejo
16
Capítulo 16 – Marca, Promessa e Perigo
17
Capítulo 17 – A Explosão
18
Capítulo 18 – O Inimigo na Mira
19
Capítulo 19 – A Primeira Jogada
20
Capítulo 20 – O Alívio Antes da Tempestade
21
Capítulo 21 – Movimentos nas Sombras
22
Capítulo 22 – Sombras e Entregas
23
Capítulo 23– Manhã de Verdades
24
Capítulo 24 – Um Pedido Inesquecível
25
Capítulo 25 – Turbilhão de Pensamentos
26
Capítulo 26 – Distância e Desejo
27
Capítulo 27 – Desejos nas Ruas de Belo Horizonte
28
Capítulo 28– Silêncios e Cuidados
29
Capítulo 29 – A Verdade Vigiada
30
Capítulo 30 – Caçada Silenciosa
31
Capítulo 31 – Silêncio, Desejo e Justiça
32
Capítulo 32 – Interrogatório e Revelação
33
Capítulo 33 – Calmaria e Estratégia
34
Capítulo 34 – Após a calmaria
35
Capítulo 35 – Recuperação e Vingança
36
Capítulo 36 – Novos Desafios, Nova Aurora
37
Capítulo 37 – Um Novo Começo e Desejos à Flor da Pele
38
Capítulo 38 – Um Novo Começo e Desejos à Flor da Pele

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