Eh? Eu também não. Pessoas dessa categoria são tão irritantes.
[Ele não calava a boca nem por um segundo. Uma de minhas vontades era arrancar sua língua apenas por ouvir sua respiração. A outra era arrancar sua cabeça juntamente de todos os membros de seu corpo. Porém, entretanto, todavia, não foi aqui que meu instinto assassino se iniciou.
Estou te atrapalhando, não estou? Tudo bem, pode continuar lendo minha vida, desempregado.]
Ele é simplesmente insuportável. Seus lábios não se fecham por nada. Como consegue falar tanto? Eu quero dar um soco nele.
- Pare de me seguir!
- Eh? Hahahah! Você é de fato muito engraçado. – Falava aos risos.
Pude sentir um nervo se contrair em minha testa assim que sua mão pousou em meu ombro.
Abusado! Quem ele pensa que é?! Daqui a pouco vou dar uma porrada nesse imbecil. Insolente. Esse cara está me testando, se continuar assim, não vai demorar até eu explodir de raiva. Juro que um dia eu mato ele.
- Então, como você se chama?
- Não importa.
- Mas se vamos ser amigos, preciso saber seu nome. — Como?
- Eu tenho zero interesse em ser seu amigo, fui claro?
- Isso não é problema. Você não precisa ser meu amigo, mas eu quero ser um amigo para você, certo?
30
Esse “Kevin” tem algum problema mental? Retardado dos infernos, qual é a parte do “ZERO interesse” que ele não entendeu? Se ele não calar a boca, vou cometer um assassinato.
- O que está procurando? - Algo que certamente não te diz respeito.
- Irei ajudar.
Por quê continua me seguindo? Dou um passo à frente e ele faz o mesmo. Parece um cachorro correndo atrás do dono, patético.
- Você vem sempre aqui? – Perguntou.
- Mm?
- Nunca te vi nessas redondezas. Ei, pode guardar um segredo? Eu passo todas as noites nessa floresta. Gosto de colecionar coisas perdidas.
Huh? Será que esse desgraçado pegou meu precioso tesouro? É por isso que não estou encontrando? Só há uma maneira de saber.
Minha seta está apontando para a mesma direção na qual ele se encontra. Pode estar com ele ou pode estar mais à frente.
- Mm...
- O que está fazendo? – Perguntou em confusão. Coloquei uma de minhas mãos em inúmeros bolsos de seu agasalho. O que encontrei? Um anel de diamante, com certeza essa joia vale uma fortuna.
- ...Isso é meu.
- Era seu, agora pertence a mim.
- Hah! Você é muito legal.
Não é possível. Nem depois de ter sido roubado tão descaradamente, continua me seguindo? Já tenho uma amizade, duas é demais.
31
- Ainda não entendeu que não tenho interesse em ser seu amigo?
- Você não precisa ser meu amigo. Mas eu serei assim para você , certo?
- Mmph.
- Serei seu fiel melhor amigo, estarei sempre ao seu lado! – Juro que estou começando a me irritar, de verdade. – Sabe, essa é a primeira vez que faço um amigo. Por quê me sinto mal por ele? Por Deus.
- As pessoas sempre me disseram que sou esquisito, então não é muito legal estar perto de mim.
- Você é esquisito. Mas nem sempre isso é necessariamente ruim.
- Eh?
- As pessoas são diferentes, algumas até demais. E está tudo bem não ser “normal”, afinal, cada um tem seus defeitos. – Por quê estou falando essas coisas? Okay, não sou tão ruim quanto pareço.
Ninguém é perfeito, certo? Exceto eu. Eu sou perfeito. O restante da humanidade é deprimente, não passam de vermes, imundos, feios, irritantes, ridículos, fracos e por fim patéticos. Eu até diria que odeio a todos, mas estaria mentindo se proferir tais palavras, isso não é verdade. Porém, não os amo, o que tenho é apenas gratidão, nada a mais.
Ao menos tive uma casa e comida, por mais que não seja grande coisa. Ainda que seja assim, não consigo me imaginar aceitando uma família. Nem mesmo se forem aqueles que só desejam o meu bem, é impossível querer fazer parte de algo assim, odiaria até os compartilham meu próprio sangue.
- Então, qual é o seu nome? – Perguntou novamente. Ele realmente não pretende desistir, não é?
- Tsk. – Será que se eu responder, calará sua boca? – ...Thomas.
- É um prazer te conhecer, Thomas! – Seu sorriso nunca deixa seus lábios. Como consegue sorrir tanto? Mesmo depois de toda a minha ignorância, permanece feliz. Admirável ou patético? Talvez os dois.
- Estamos próximos ao que está procurando?
- Não sei. - Você gosta de explorar, certo?
- ...Certo.
- Parece solitário.
- ...
- Sou como você! Então somos iguais. — Seu sorriso permanece. —
Ele é solitário? É extrovertido e alegre, não faz sentido não ter amigos. Sim, o ouvi dizer que sou seu primeiro amigo, mas não consigo acreditar nisso.
Não somos iguais, sou rude e distante, não gosto de sorrir e afasto as pessoas. Somos completamente diferentes.
A noite seguiu, não cansei de procurar meu ouro até que o encontrasse. Não é muito, mas é alguma coisa, pelo menos não procurei a toa.
Acabei chegando em casa tarde, passou muito do normal. O sol já está nascendo. Bruce me esperava na porta, parecia bravo.
- Onde você estava?
- Lugar nenhum.
- Isso não é resposta.
- Não importa onde eu estava.
- Você só tem dezesseis anos, eu estava preocupado!
- Então não se preocupe!
- Onde você estava?
- Já falei que-
- Ele estava comigo. Pedi que me ajudasse porque minha mãe está doente e preciso cuidar dela, como filho eu jamais poderia deixá-la sozinha, então ele ficou com ela enquanto fui buscar comida.
Mmm? Ele está… tentando me ajudar? Não deveria se meter nisso, não é da conta dele.
- E quem é você?
- Me chamo Kevin, senhor.
- Não. Quem é você para o Thomas?
- Eu–
- É meu amigo.
-Não me convenceu.
- Papai! Ainda está aqui fora? Você vai ficar doente.
Alice... por quê ela está acordada à essa hora?
– Thomas, você está de volta. Que bom. Pai, você estava brigando com eles?
- Sem brigas. Bruce, querido...Thomas já está crescido, é normal que saia com os amigos. – Giselle como sempre calma. – Você fez um gesto muito nobre, Thom. Estou orgulhosa. – Falou ao acariciar meu rosto levemente.
- ...Obrigado.
- Vocês duas, estavam ouvindo? Pensei que estavam dormindo. Bruce entrou com Giselle e Alice, logo estarei com eles, entretanto, não entrarei agora.
- O que foi aquilo?
- Queria te ajudar.
- Ah
-...Tanto faz. Melhoras para a sua mãe.
- Eu não tenho mãe.
- Como?
- Eu sou órfão.
- ...
- ...
- Mmm...
- Mm?
- Está me dizendo que você inventou uma história absurda como essa em segundos? Para quê?
- Queria te ajudar. É isso que os amigos fazem, não?
- ...Boa noite, idiota.
- Huh? Boa noite, amigo!
Acredito que não há necessidade de me virar, sei que ele está sorrindo. Mmph, talvez ter um amigo a mais não seja tão ruim quanto pensei. Mmm, esse pensamento não é bom. Tudo bem, ele pode ser útil.
Suspiro
O manterei por perto, ele pode ser útil. Bem, eu deveria deixar isso de lado, já passou da hora de descansar minha mente.
.
.
Tudo que se passa na minha cabeça neste momento é o sonho que tive. Uma piscina de ouro, só minha. Não acredito que aquele maldito galo me tirou do paraíso.
- Tsk. Que pão duro.
- Está reclamando muito ultimamente.
- Mmph. E por acaso o que falei é mentira?
- É o que nós temos. – Alice disse com seu pão em mãos.
- Só porque isso é o que temos no momento, significa que é bom? Não.
Me sentei na mesa, juntando-me aos três para o café da manhã. Apenas por morder aquele pão, meu dente quase virou pó. O silêncio entre nós era constrangedor. Não me atrevia a dizer uma palavra sequer, não quero piorar o que já está ruim. Sei que minhas reclamações estressam as pessoas desta casa. Mas o que posso fazer? É ruim, isso é um fato. Tudo que falo, sendo o reflexo de minha frustração, não passam de verdades que a maioria não tem coragem de dizer. É uma realidade deplorável. Guardo muito ouro, todas as relíquias que encontro, escrevi isso praticamente no início desse diário. Porém, eu não quero usar esse tesouro, ainda não.
Me recuso a comer essa porcaria. Meu dente não aguenta isso. Me levantei de meu assento, coloquei o pão em seu lugar, de onde o peguei e me direcionei até a porta.
- Onde está indo? – Bruce perguntou ao se levantar assim que coloquei minha mão na maçaneta.
- Lugar nenhum, só...vou caminhar um pouco.
- Tome cuidado.
- ...
Olhei-o nos olhos durante longos segundos, me retirei logo em seguida. Não existe nada melhor que uma caminhada pela manhã, geralmente não há ninguém por perto, então é mais silencioso. Ah...estou estressado.
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Atualizado até capítulo 31
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