Essa noite tinha tudo para ser o momento mais feliz em minha vida, confesso que eu estava me divertindo bastante com meus amigos. Eu estava alegre como nunca.
Estava tudo ocorrendo bem, como eu queria.
No momento em que eu menos esperava, meus pais se aproximaram de mim. Assim como os pais da Mary pegaram sua filha no colo, os meus fizeram o mesmo comigo.
- Sinto muito, meu filho. Quero que saiba que seu pai e eu te amamos muito! Você é nosso maior presente, mas isso é necessário, perdoe-me, meu pãozinho de mel. – Minha mãe estava com uma expressão na qual eu nunca tinha visto em seu rosto, estava séria. – É pelo sacrifício. Peço-lhe que me perdoe.
“Sacrifício” ? O que ela quer dizer com isso?
- Nós te amamos muito meu pequeno, mas isso é necessário.
Antes que eu pudesse responder qualquer coisa, meu pai me arremessou aos mares. Não demorou para que Mary fosse lançada depois de mim.
Entrei em estado de choque, eu estava completamente paralisado. Por que estão fazendo isso? O que eu fiz pra vocês me abandonarem assim?
Eu chorava de forma incontrolável, estava apavorado. Pois nunca em minha vida pensei que meus pais teriam coragem de cometer tamanha atrocidade. Olharam por um tempo antes de se virarem e irem embora.
.....Nojentos, traidores malditos. Eu senti tanto ódio nesse momento. Como podem ter jogado suas crianças para morte e nem sequer olhar para uma mísera vez?!
- MARY! – Gritei seu nome na esperança de encontrá-la nessa bagunça, a única coisa que eu conseguia sentir era preocupação, era tanto desespero. Eu tentava me manter na superfície da água. Permiti que meu corpo mergulhasse, avistei Mary afundando cada vez mais. Claro, ela não sabe nadar. Nadei em sua direção o mais rápido que pude, agarrei seu braço e puxei para cima. Ela precisava respirar. Algo óbvio, não sei por que falei isso.
Ainda estava acordada, graças a Deus avistei um tronco de árvore não muito grande, me prendi a ele enquanto segurava Mary com meu braço livre.
Quanto mais eu pensava em uma solução, mais longe ficávamos de casa. Chegou em um ponto onde eu só via água, era água e mais água. Estava perdido, com frio....e sem saída.
O corpo da Mary estava tão franco, eu sentia isso. Esse foi apenas o começo do inferno que eu ia viver.
Perdi todas as minhas esperanças ao ver minha melhor amiga morrer. Monstros marinhos se aproximaram de nós em um velocidade tão rápida que não fui capaz de fazer nada, ambos a puxaram com seus dentes enormes. Tudo que eu podia fazer era assistir, o que eu poderia fazer? Sou apenas uma criança?....Eu sou só....uma criança. Por que eu tenho que passar por isso? Por quê?
Meu sangue borbulhava de ódio. Eu senti tanta raiva e tristeza. As lágrimas caíam dos meus olhos cada vez mais.
Sem esperança, eu já não lutava mais. Deixei a força do meu corpo se esvair por completo. Não tinha mais força para me segurar no tronco, apenas senti meu corpo afundando cada vez mais até apagar por completo.
Não entendia...eu não conseguia entender. O que está havendo? Estou morto? Mas...
- Garoto? Você está bem? Consegue me ouvir?
-...Eh? – Quem é este homem? Estou vivo...mas como? Havia tanta água, estava tão fundo, tão frio, tão....distante. Os monstros.....Mary! – Mary....
- Hein? – Olhou-me em confusão. –
-...Cadê a Mary- Quem?- .....
Não. Aquilo...aquilo era um sonho, não era? A Mary...ela não está morta, está? Não...ela tem que estar viva. Ela não morreu, era tudo um pesadelo. Isso é um sonho!
Era nisso que eu queria acreditar, que minha melhor amiga estava viva em algum lugar. Eu não entendia o que estava acontecendo, nem como vim parar neste lugar. Essa terra é desconhecida por mim.
O homem me levou para sua casa. Era manhã, estava em um quarto enrolado em uma toalha marrom. Estou com frio.
- Olha garoto, pra te ajudar eu preciso saber seu nome. – Falou o homem.
- .... – Devo confiar nele?... – Thomas.
- Mmm, Thomas. Thomas de?
- Èkils...Thomas Èkils.
- Pequeno Thomas, quantos anos você tem?
- Oito.
- Oito.... – Ele me olhava curioso. – Thomas, poderia me dizer como você foi parar no mar?
Como eu fui parar lá?.....Não quero falar sobre isso.
-Eu...eu caí - Caiu? - Sim. – Não gosto de lembrar da noite passada...Mary....
- Sabe onde é sua casa? Vou te levar para sua família.
- NÃO! Por favor, não me leve de volta....eu não quero voltar. – Acho que medo é o que me define neste momento.
- Não? Por quê não quer ir para a sua casa?
- É muito longe daqui. E....e..
- Prossiga.
-...
Não sei se eu deveria confiar isso a ele, não sei se devo contar o que de fato aconteceu. Talvez eu possa confiar nele, ele pode ser bom.
- Eu...foram meus pais que me jogaram no mar.... – Neste momento, meus olhos estavam cheios de lágrimas com tais lembranças.
- ...O quê?
-...
- Céus! Quem faria algo tão cruel com o próprio filho? – O homem acariciou meus cabelos ao se ajoelhar em minha altura. – Você vai ficar bem, garoto. Eu prometo.
O que ele quer dizer com isso? Tanto faz, nada mais importa.
.
O homem desconhecido me deu roupas, mas eram muito grandes para mim, largas demais Mas as usei mesmo assim.
Disse que seu nome era Bruce. Mais tarde, duas pessoas entraram naquela casa.
-Thomas, esta é minha mulher, Giselle. E esta é minha filha, Alice. Vocês duas, este é o Thomas, e irá morar conosco daqui em diante.
- Oi! – A loira falou ao segurar minhas mãos alegremente. Tinha um sorriso enorme em seu rosto.
-....Oi.
- Eu sou Alice!
- Eu ouvi.
- Quantos anos você tem?
- Por quê quer saber?
- Curiosidade.
- Mmph. Oito.
-Jura?! Você tem minha idade! Vem! Vamos ser melhores amigos! – Ela falou ao puxar minha mão.
Mas no fundo, lá no fundo, eu sabia que ela jamais seria minha melhor amiga. Ela não é a Mary. Não é minha melhor amiga número um.
- Seja bem vindo, Thomas. – Disse Giselle.
- Obrigado.
Talvez morar aqui não seja tão ruim afinal. Me serviram janta quentinha, água e um quarto para dormir. Como eu não estaria agradecido?
E assim foram o resto dos meus dias. Não era uma família rica em dinheiro, mas certamente era muito mais rica de carinho que meus pais. Até mais dinheiro eles tem.
Bruce me levava para pescar quase todos os dias. Confesso que eu me sentia triste por matar aqueles pobres seres. Afinal, não é de hoje que tenho uma profunda conexão com a água.
E eu demorei dias, meses, bastante tempo até me recuperar do meu trauma. Quase ser assassinado pelos próprios pais não é nada fácil. Mas ele me ajudou a passar por cima disso, é claro que não me recuperei totalmente. Aquelas memórias me assombravam todas as noites.
Toda vez que fecho meus olhos, eu volto naquela noite, eu volto para o exato momento em que vi Mary morrer.
Alice é legal, mais do que eu imaginava, e por mais que seja difícil admitir, nos tornamos bons amigos. Comecei a treinar com o passar do tempo. Motivo; as roupas SEMPRE ficam largas demais em mim. O segundo motivo é que eu ajudo o Bruce no bar dele. Na verdade, eu ajudo ele em muitas coisas.
E sendo o segundo homem da casa, também cuido de Giselle e Alice, assim como Bruce sempre fez.
Eu trabalho no bar do Bruce desde os meus treze anos, a idade em que comecei a me exercitar. Bem, sempre sou eu quem vai aos fundos para pegar mais bebida, são caixas pesadas, sem contar que vou atrás de água no poço todos os dias. Não apenas isso, mas também carrego dois baldes de cachaça para servir para aqueles velhos irritantes.
- Feliz aniversário, Thom! Eh? O que está fazendo logo pela manhã?
- Treinando. O que você quer, Ali? – Perguntei ainda pendurada em um galho grosso de uma árvore, esse exercício é cansativo.
- Eu vim te parabenizar.
- Não. Eu não comemoro meu aniversário, você sabe.
- Mas....Thomas, hoje é especial! Está completando dezesseis anos.
- Então? Como se isso fizesse alguma diferença.
- Mas faz! É especial.
- Não.
Acho que não preciso elaborar o motivo pelo qual odeio esse dia, certo? Não é possível que você que está lendo isso seja burro ao ponto de não saber. Você certamente sabe o motivo.
[Aliás, você deve ser bem desocupado para estar lendo o diário enorme mesmo sabendo que foi escrito por um pirata.
“Qual é o motivo para escrever isso?” Você me pergunta. A resposta é: tédio. E eu quero que o mundo saiba quem foi o maior tirano dos mares.
Certo, certo. Eu vou deixar você continuar a história. Boa leitura, desocupado.]
.
- Por favor. Thom!
-Por qual motivo você quer que eu comemore meus dezesseis tanto assim?
- Porque você nunca comemora.
- E qual é o problema?
- Eu só quero comemorar com você.
- Desculpa Ali,, mas a resposta é não.
- Tsk.
- Até porque eu preciso trabalhar. Tchau.
- ....Tchau. E se cuida.
- Claro, claro.
Apesar de querer treinar mais, infelizmente tenho trabalho a fazer. O velhote não aguenta mais tantas tarefas sozinho. Ah, idosos.
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Atualizado até capítulo 31
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