(...Michael)
Olhei para a mão dela entrelaçada à minha… depois, para o rosto da Savena. O calor da pele dela parecia acender um canto dentro de mim que sempre ficou quieto… adormecido.
— Você dança, Savena? — perguntei, num tom mais leve.
(...Savena)
Sorri, meio surpresa com a pergunta.
— Um pouco… Gosto muito… mas nunca fiz aula. Minha irmã mais velha sempre dizia que eu inventava umas danças malucas quando era criança.
(...Michael)
— Eu adoraria ver isso. — falei, apoiando o queixo na palma da mão, com aquele sorriso de canto. — Quer dançar aqui?
(...Savena)
Arregalei os olhos.
— Aqui? Agora?
(...Michael)
— Por que não? O palco é nosso. — Levantei num salto leve, estendendo a mão pra ela. — Eu danço pra sobreviver. Você dança pra quê?
(...Savena)
Ri, nervosa, mas meu corpo já começava a querer se mover só com a ideia. Peguei meu walkman da mochila, tirei uma fita e mostrei pra ele.
— Eu gravei essa música do rádio… Não sei se você conhece…
Coloquei a fita no rádio de ensaio deles e dei o play. Um R&B melódico, meio lento, com aquele groove que parece abraçar a gente.
Fechei os olhos… deixei o corpo escutar antes da mente. Mexi os ombros com leveza… depois os quadris… os braços criavam formas… me abaixava… subia de novo… Como se cada movimento fosse uma palavra que eu sempre quis dizer.
(...Michael)
Fiquei sem palavras. Cada gesto dela… era como se ela estivesse contando uma história só com o corpo. Não era sobre técnica… Era verdade pura. Sentimento. Dor. Liberdade.
Quando a música terminou, ela abriu os olhos… e me pegou… parado… imóvel… com os olhos marejados.
(...Savena)
— Michael… você tá bem? — perguntei, preocupada.
(...Michael)
Limpei os olhos rapidinho com a manga da jaqueta jeans, tentando disfarçar.
— Desculpa… É que… você dança como se estivesse dizendo tudo que nunca conseguiu falar.
(...Savena)
Fiquei quieta. Aquilo me atravessou de um jeito estranho… bonito e dolorido ao mesmo tempo.
Depois de um tempo, perguntei baixinho:
— E o que você ouviu?
(...Michael)
Hesitei… Caminhei devagar até ela… parei a poucos centímetros.
— Ouvi solidão… mas também coragem. Vi você dançando com seus fantasmas… mas sem fugir deles.
(...Savena)
Baixei o olhar… tentando não chorar também.
— Eu cresci cercada de silêncio… Minha mãe trabalhava muito… Meus irmãos brigavam… Meu pai… bom… ele nunca ficou pra ver a dança… — dei uma risada sem humor. — Então… eu dançava pra não sumir dentro de mim.
(...Michael)
Toquei o ombro dela… de leve… como quem toca um segredo.
— Isso é poesia… Você sabe disso?
(...Savena)
Sorri, tímida.
— E você… escreve como se estivesse tentando curar o mundo.
(...Michael)
— Eu tento curar a mim mesmo… E… se alguém escutar… já valeu a pena.
Um pouco mais tarde — Sentados no gramado dos fundos
(...Savena)
Já tinha escurecido. A mãe do Michael trouxe pra gente um lanche: biscoitos caseiros e suco de uva. Os grilos cantavam lá no fundo… e a gente estava deitado na grama, olhando o céu cheio de estrelas.
(...Michael)
— Tem dias que eu sonho em fugir de tudo isso… — confessei, olhando pro céu.
(...Savena)
— Mesmo da música? — perguntei, surpresa.
(...Michael)
— Nunca da música… Mas da pressão… do palco… de ter que ser perfeito o tempo todo. Às vezes, eu queria só… ser um garoto comum. Que volta da escola… toma um banho… e joga conversa fora com alguém que entende ele.
(...Savena)
Me virei de lado, olhando pra ele.
— Então vamos fazer isso. Fala qualquer bobagem. Me conta seu maior medo. Ou seu maior sonho. Vai.
(...Michael)
Ri da ousadia dela… mas parei pra pensar de verdade.
— Tá bom… meu maior medo… é perder quem me enxerga de verdade… Quem olha pra mim… e não vê só um produto.
Respirei fundo antes de continuar:
— E meu maior sonho… é cantar uma música que pare o tempo… Que faça o mundo fechar os olhos… e respirar mais devagar.
(...Savena)
Segurei a mão dele de novo… emocionada de verdade.
— Você já fez isso… Só talvez… ainda não percebeu.
(...Michael)
Sorri pra ela… um sorriso leve… quase de alívio.
— E você? — perguntei. — Qual é seu maior sonho?
(...Savena)
— Ser vista… Não pela roupa… nem pelas notas da escola… Mas por dentro… Por tudo que eu penso… e crio… quando ninguém tá olhando.
(...Michael)
Olhei pra ela de novo… com aquele olhar que… ela me disse um dia… que fazia o mundo dela parar.
— Eu te vejo, Savena… E te ouço… Mesmo quando você não diz nada.
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Atualizado até capítulo 248
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