(...Savena)
A manhã seguinte chegou com um sol tímido entre as nuvens. Eu acordei antes do despertador, com o estômago cheio de borboletas. Nunca fui do tipo que se empolgava com fama ou artistas… mas o Michael… ele era diferente. Tinha um jeito de tocar as pessoas… sem nem encostar.
Durante o café, minha mãe, Lúcia, me olhou com aquele olhar de quem enxerga tudo.
— O que aconteceu com você? Tá toda animada... — ela comentou, mexendo o café.
Mordi um pedaço do pão, tentando disfarçar.
— É só que… tô começando a gostar daqui, só isso.
Ela sorriu com aquele jeitinho dela, meio sabendo, meio respeitando meu silêncio.
(...Michael)
Na escola, o dia passou voando. Cada vez que eu cruzava com a Savena nos corredores, lançava um sorriso rápido. Em sala, ela me pegava rabiscando versos nas margens do caderno de matemática. No intervalo, a gente dividiu um suco de maçã e rimos juntos quando o Tito jogou um bilhete na cabeça do Jermaine.
Quando a aula terminou, fui até a mochila dela e falei com uma naturalidade que eu tinha ensaiado mentalmente umas cinquenta vezes:
— Tá pronta pro ensaio?
(...Savena)
Meu coração disparou.
— Tô… quer dizer… acho que sim.
(...Michael)
— Vamos passar lá em casa, pegar um lanche e já seguimos, tá bom?
Ela assentiu e, por dentro, eu comemorei.
Casa dos Jackson – Início da tarde
(...Savena)
Chegar na casa dos Jacksons foi uma surpresa. Por fora, parecia simples… mas por dentro… tinha uma energia diferente… vibrante. Muitas vozes, risadas, instrumentos e o cheiro de comida no ar.
A mãe do Michael, a dona Katherine, apareceu na cozinha com um sorriso tão acolhedor que me senti bem-vinda de imediato.
— Você deve ser a vizinha nova, né? A Savena?
— Sim, senhora. Muito prazer. — respondi, toda sem jeito.
— Que menina educada… — ela disse, limpando as mãos no avental. — Michael falou bem de você. Disse que você é diferente.
(...Michael)
Fiquei vermelho na hora. Baixei a cabeça, morrendo de vergonha.
(...Savena)
Desviei o olhar, mas não consegui segurar um sorriso bobo.
(...Michael)
— Vamos lá pro porão… é onde a mágica acontece. — falei, chamando ela com um gesto de cabeça.
No porão – Ensaio
(...Savena)
O porão era tipo um santuário da música. Microfones, instrumentos, caixas de som… e num canto, folhas de papel com anotações meio amareladas. Os irmãos do Michael já estavam lá, aquecendo as vozes e se alongando.
Então... ele apareceu: Joe Jackson. O olhar firme, postura rígida, presença que fazia todo mundo prestar atenção.
— Quem é essa? — ele perguntou, sem rodeios.
(...Michael)
Respirei fundo e respondi com firmeza, mas tentando manter a calma:
— É minha amiga… a Savena. Convidei ela pra assistir ao ensaio. Ela é nossa vizinha.
(...Savena)
O olhar dele me atravessou de cima a baixo e eu senti um frio na espinha.
— Desde que não atrapalhe. — ele disse, seco.
(...Michael)
Por sorte, minha mãe apareceu atrás, igual a um anjo protetor:
— Joseph... ela só veio ver. Seja gentil. — E ainda piscou discretamente pra Savena.
(...Savena)
Enquanto os meninos afinavam os instrumentos e marcavam as posições no palco improvisado, Michael veio até mim e sussurrou:
— Ele não é fácil... mas você vai se acostumar.
(..Savena)
— Ele te pressiona muito? — perguntei, com cuidado.
(...Michael)
Dei de ombros.
— Às vezes… mas ele quer o melhor pra gente… eu acho. Só não sabe amar do jeito certo.
(...Savena)
Me encostei na parede e fiquei observando enquanto eles começavam a ensaiar “I Want You Back”. A música ganhava vida na minha frente. Michael… era outro ali. Parecia um furacão no palco… intenso, arrebatador… dono de cada nota.
(...Michael)
Quando o ensaio terminou, meu pai subiu sem dizer muita coisa. Os meus irmãos começaram a brincar entre si. Ofegante, suado e com o coração disparado, fui até ela.
— E aí? O que achou?
(...Savena)
— Eu… tô sem palavras. Você vira outra pessoa. Parece que… brilha.
(...Michael)
Ri, tentando esconder a felicidade com brincadeira:
— Você diz isso como se eu não brilhasse agora.
(...Savena)
— Agora você brilha… diferente. — disse, com um sorriso. — Mas no palco… é como se você fosse feito de música.
(...Michael)
Sentei ao lado dela, ainda recuperando o fôlego.
— Quer ver uma coisa que nunca mostrei pra ninguém?
(...Savena)
Arregalei os olhos.
— O quê?
(...Michael)
Tirei um caderno escondido debaixo do banco, abri numa página marcada e mostrei pra ela uma letra inacabada.
“You’re the page I never wrote,
The note I never sang,
But now you’re here and I wonder...
What took me so long?”
Tradução:
"Você é a página que eu nunca escrevi,
A nota que eu nunca cantei,
Mas agora você está aqui e eu me pergunto...
O que demorou tanto?"
(...Savena)
Meu coração parou por um instante.
— Michael… isso é pra mim?
(...Michael)
Não respondi com palavras. Só olhei bem fundo nos olhos dela. Por longos segundos. Depois, baixinho, falei:
— Eu nunca tive alguém que me escutasse assim.
(...Savena)
Segurei a mão dele com cuidado, como se aquele momento fosse de vidro.
— Eu sempre vou te escutar.
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Atualizado até capítulo 248
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