capítulo 3

FERA

Tava de saco cheio das bocetas murchas do meu morro.

As mesma vadia de sempre, rebolando na esquina como se meu pau tivesse carência. Como se eu fosse um dos qualquer, desses que goza só com peito de fora.

Não sou. Nunca fui.

Já comi todas. Já caguei pra todas. Não tem mais gosto. Não tem mais graça. Tava tudo mofado.

Hoje, eu queria sangue novo. Cara nova. Alma suja, mas diferente. Vadia que cuspisse fogo, não que lambesse minha bota pedindo migalha.

Botei a Glock na cintura, camisa preta colada no peitoral, perfume barato com cheiro de pecado e o capacete no antebraço. Subi na moto, e deixei o escapamento cantar pela cidade.

A noite era minha cadela. E eu tava com fome.

Cheguei na boate do centro. Ambiente fedendo a ego e porra seca. Muita pose, pouca moral. Luz colorida. Música romântica de merda. Bar cheio de otário pagando bebida pra puta falsa que só sabe gemer com o PIX certo.

Pedi uma tequila braba. Daquelas que arde mais que traição. Acendi um cigarro e fiquei ali, encostado no balcão, olhando tudo com cara de desprezo.

Aí veio ela.

Morena, peito turbinado, riso fácil. Rebolado de quem pensa que tem o mundo na buceta.

Veio deslizando a mão no meu peito, se achando.

— Oi, gato... te vi aqui sozinho. Tava pensando em te fazer companhia...

Peguei a mão dela com força. Frio. Sem olhar.

— Me solta, porra. Não gosto de puta me encostando.

Ela arregalou os olhos.

— Calma aí... não tô aqui pra ser maltratada.

Virei de frente, encostando meu peito no dela.

— E eu não tô aqui pra ser lambido por cadela de balada. Alguém te chamou? Não, né? Então vaza. Some da minha frente antes que eu enfie tua dignidade no bolso da tua calcinha.

Ela recuou, tremendo. Dei as costas, larguei umas notas em cima do balcão e saí.

Nem aqui na cidade tem mulher que me dá tesão. Tô de saco cheio dessa raça de plástico.

Subi na moto, pronto pra voltar pro meu trono de escuridão. Mas foi aí que eu vi.

 

Um carro parado. Três motos cercando. Cinco homens armados cuspindo bala. Farol iluminando a guerra.

Lá dentro, uma mulher. Sozinha.

E ela não era qualquer uma.

Tava reagindo. Tava metendo tiro. Se abaixando, rastejando, se virando com os dentes cerrados.

De longe, dava pra ver o fogo no olho dela.

Mas aí… aí veio um dos filhos da puta pelas costas dela. Dedo no gatilho.

Eu atirei.

A bala comeu seco, explodiu a testa do cara. O sangue espirrou no parabrisa.

Ela virou.

Olhou direto pra mim.

E puta que me pariu... eu nunca vi um olhar igual.

Era raiva e gratidão. Era gelo e inferno. Era... minha próxima obsessão.

Mais três vieram. Meti bala. Um caiu com o peito aberto. Outro com a garganta furada. O último tentou correr, mas meu tiro comeu a coluna dele.

Ela ficou ali. Me olhando. E quando ela se virou eu sumi na noite.

Sem nome. Sem dívida. Sem rastro.

ÉRICA GONÇALVES

Já era noite alta e eu tava a dez minutos do meu apartamento. Dez minutos da minha cama, da minha garrafa de uísque, da minha solidão merecida. Mas a cidade tinha outros planos.

Vi as luzes surgirem pelo retrovisor. Três motos. Rente, milimétricas. O tipo de formação que não deixa brecha. O tipo de ataque que não é de ladrão comum — é de quem sabe exatamente o que tá fazendo.

O instinto falou antes da mente: freiei bruscamente, travei o carro e me abaixei, puxando a Glock. O blindado aguentava. Mas até quando?

Dei um tapa no rádio com a mão esquerda.

— Érica Gonçalves. Unidade Alfa-7. Emboscada! Rua Marechal Teodoro, próximo à padaria Canna. Três motos, cinco homens armados. Reforço urgente. URGENTE, caralho!

Silêncio.

Nem chiado.

Nem resposta.

Nem Deus.

O estômago gelou. A garganta travou. Fui largada.

E não foi erro. Não foi falta de sinal. Foi escolha.

Peguei minhas armas e me preparei. Eles estavam cercando meu carro como hienas. Um já vinha de fuzil erguido. Atirei direto no meio do peito dele, vendo o colete levantar fumaça vermelha.

Saí pela porta traseira, rastejando. O asfalto arranhando minha pele, os tiros zunindo como mosca em carniça.

Outro veio. Dei um tiro no joelho e outro no queixo. Ele caiu roncando sangue.

Não era assalto. Não era tentativa. Era execução. E os filhos da puta sabiam quem eu era. Sabiam o trajeto. A hora. A rota.

Alguém de dentro me vendeu.

Eu tava me movendo pro lado do carro quando senti: tinha alguém atrás de mim. O som do cano engatilhando. Era o fim.

Mas o fim não veio.

Veio o estrondo.

O estampido seco da morte.

O cara atrás de mim caiu com o crânio aberto igual casca de ovo.

Virei no reflexo. E lá estava ele.

Silhueta escura. Ombros largos. Máscara cobrindo o rosto. Glock na mão como se fosse extensão da alma.

Me salvou.

Vi mais três vindo. Ele derrubou os três. Sem hesitar. Tiro na garganta, no coração, na coluna. Pura execução. Sem misericórdia. Como quem faz aquilo por prazer. Ou por tédio.

Fiquei parada. Ofegante. Com o sangue de outro homem escorrendo na minha luva. E só conseguia pensar:

Quem é esse filho da puta?

Me virei pra procurar ele. Já tinha desaparecido. Sem nome. Sem marca. Sem dívida.

Só o rastro de pólvora e corpos quentes.

 

Um deles ainda respirava. O olhar piscando de dor. Fui até ele.

Me abaixei. Segurei ele pela garganta e com a outra mão apertei o saco dele com força. Com gosto. Com ódio.

Ele gritou. Um grito feio, molhado.

— Quem mandou vocês?! QUEM?!

— Vai… se foder… policialzinha de merda…

Cuspi na cara dele com raiva.

Raiva de tudo.

Raiva da traição.

Raiva de estar sozinha.

— Então fode com isso no inferno.

BANG.

A bala entrou seca e saiu molhada. O crânio espatifou no chão como fruta podre.

Me levantei. Limpei o rosto com o dorso da mão. O sangue secando no canto da boca.

E falei baixinho, só pra mim:

— Alguém quer minha cabeça. E se acha que vai conseguir... que venha rasgando. Porque agora eu tô indo até o osso.

E cada traidor fardado que tentou me apagar...

vai morrer pelado no beco. De joelho. Pedindo perdão.

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Comments

Rafael Javarini

Rafael Javarini

adorei ele sinceridade de milhões kkkk pior que tem umas mulheres que se acham mesmo te o mundo em baixo das pernas

2025-07-10

2

Leitora compulsiva

Leitora compulsiva

minha nova obsessão amei hahhahahaha,quero só ver quando ele descobrir que ela é a tal policial hahahhahaha

2025-07-12

0

Luiza Oliveira

Luiza Oliveira

Eita que agora o bicho vai pegar mais mais mais mais 😘

2025-06-19

1

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Atualizado até capítulo 73

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