Capítulo 3 – Entre Feridas e Orgulho
Na manhã seguinte, o sol dourava a paisagem de Salvador com sua luz ardente. O vento soprava suave, mas dentro de Bela havia uma tempestade. O encontro com Matteo no dia anterior a deixara inquieta. A gentileza inesperada, o olhar profundo, o modo como ele dissera seu nome... Como se tivesse gosto de verdade nos lábios dele.
Ela não conseguia parar de pensar nisso.
— Tá na hora de esquecer esse homem, Bela. — advertiu Solange, a amiga de sempre, sentada na barraquinha, cruzando as pernas. — Rico desse jeito, frio daquele tanto? Nem olha pra gente duas vezes.
— Mas ele olhou. — murmurou Bela, quase como uma confissão. — E falou comigo de um jeito… sei lá. Sincero.
Solange suspirou. — Sincero nada. Aqueles olhos verdes são armadilhas, amiga. Fica esperta.
Naquela mesma hora, Matteo caminhava com passos firmes pelo canteiro de obras. O celular tocava sem parar, mas ele recusava chamadas. Nada tiraria de sua cabeça o rosto de Bela. Por que ela ainda estava ali dentro dele, mesmo depois de uma noite com Giulia?
Falando nela...
— Buongiorno, cugino. — Giulia apareceu sem avisar, vestindo um vestido vermelho justo e óculos escuros, sorrindo de forma provocante. — Vim conhecer o tal canteiro de ouro. Onde pretende enterrar seu império tropical?
— Você ainda está aqui? — Matteo franziu a testa. — Achei que tivesse voltado pra Milão.
— Achei que queria companhia. — disse ela, colando o corpo ao dele. — E além do mais, preciso ver onde vai gastar nosso dinheiro de família.
— Nosso? — ele arqueou a sobrancelha. — Giulia, eu construí esse império sozinho.
— E ainda assim, se esquece de quem sempre esteve com você. Inclusive, na cama. — sussurrou ela, maliciosa.
Antes que ele respondesse, um aroma doce se espalhou no ar. Bela se aproximava, como sempre com sua bandeja simples, mas cheia de esperança.
— Bom dia. — disse ela, parando um pouco tímida. — Trouxe os doces de novo, se quiser…
Giulia virou-se devagar, observando Bela da cabeça aos pés, como se olhasse um inseto.
— Matteo… é essa a sua nova fornecedora? — disse com ironia. — Que gracinha. Vocês agora estão contratando… doces populares?
Bela engoliu seco, sem entender o tom.
— São artesanais. Faço com minha mãe. As pessoas costumam gostar.
— Imagino que sim. — Giulia sorriu, venenosa. — Tem gosto de pobreza, né? Às vezes, é exótico para os ricos.
Matteo ficou tenso. — Giulia… chega.
— Só estou sendo sincera. — respondeu a prima, rindo. — Mas que bom que você está apoiando o comércio local. Quem sabe ela te ensina a fazer brigadeiro quando cansar das suas joias de milhões.
Bela sentia o rosto arder. Mas não fugiu. Olhou nos olhos de Matteo, esperando qualquer reação. Um gesto. Uma palavra.
— Me desculpe. Eu… não quis atrapalhar. — disse ela, com voz firme, porém trêmula. — Só vim oferecer meu trabalho. Como ontem.
— Bela… — Matteo deu um passo, mas ela já estava virando as costas. O orgulho dela era maior que sua dor.
Giulia riu baixinho.
— Que espetáculo. Parece até novela mexicana. Você tá mesmo se interessando por essa coisinha, Matteo?
Ele não respondeu. Estava olhando para onde Bela desaparecera, sentindo algo que não sentia há muito tempo: raiva. Mas não de Bela. E sim de si mesmo por não tê-la defendido de forma clara.
Mais tarde, em sua cobertura luxuosa com vista para o mar, Matteo encarava o copo de uísque como se buscasse respostas no fundo âmbar do líquido.
O que diabos essa garota tem?
Ela era tudo que ele sempre desprezou: simples, humilde, transparente demais. Mas era também tudo que faltava nas mulheres que conheceu: verdade, dignidade, pureza. E aquela pureza mexia com algo nele que ele não sabia como lidar.
Enquanto isso, do outro lado da cidade, Bela chorava em silêncio no colo da mãe.
— Ele deixou aquela mulher me humilhar, mãe… como se eu fosse nada.
Dona Lourdes alisava os cabelos da filha.
— Você é muito mais do que eles conseguem ver, minha filha. E se esse homem for cego ao ponto de não te defender… então não merece uma lágrima sua.
Mas Bela sabia. Por um instante, Matteo quis dizer algo. Ela viu nos olhos dele. Só não teve coragem. E o que ela mais queria agora… era que ele a visse de verdade.
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Atualizado até capítulo 28
Comments
Maria Zelia
essa Giulia é pior que uma 🐍 narja.
2025-06-20
2
Jaque1escri
Eka😐
2025-06-16
2