O ano passou devagar e depressa ao mesmo tempo.
Entre provas, treinos, apresentações e fofocas de corredor, eu e Caio fomos nos esbarrando cada vez mais. Mesmo sendo de séries diferentes, era como se o universo conspirasse para nos manter próximos.
Às vezes, ele aparecia do nada na minha sala com uma desculpa qualquer, só pra me dar um bombom ou uma piadinha boba.
Outras vezes, Dani forçava encontros. Literalmente.
— Bia, me ajuda aqui com o treino, o Caio vai precisar também... — ele dizia com aquele sorrisinho safado.
Eu reclamava, mas ia.
Caio nunca desistiu de me tirar da toca. Sempre com jeitos discretos, mas cheios de intenção.
— Você vai fugir de mim até quando? — ele sussurrou uma vez, me encurralando entre a porta da biblioteca e a parede.
— Até você se cansar — respondi, com o coração acelerado.
— Isso pode demorar — ele disse antes de sair, deixando meu peito em chamas.
O tempo foi nos moldando. As meninas começaram a ver Caio como o “crush oficial” da escola. Não tinha uma que não comentasse sobre ele. Bianca, principalmente. A cada chance que tinha, jogava seu cabelo e se esfregava nele feito planta carente de sol. E ele? Sempre educado, mas nunca dava abertura.
Mesmo assim, meu medo só crescia.
Porque se até quem era bonita, arrumada e cheia de presença queria ele... o que Caio via em mim?
Mas ele via.
E eu sentia.
Foi no final daquele ano, na festa de encerramento, que tudo aconteceu.
A escola estava enfeitada com luzinhas, música alta, e gente rindo pra todo lado. Dani me arrastou à força, e eu fui só pra não ouvir ele reclamar por uma semana.
Estava de canto, observando tudo, quando Caio apareceu.
— Você tá linda — ele falou simples, como se dissesse “boa noite”. Mas meu coração entendeu como “eu esperei o ano inteiro por isso”.
— Você diz isso pra todas? — brinquei.
— Não. Só pra quem eu quero beijar.
Antes que eu pudesse pensar em uma resposta, ele se aproximou e encostou os lábios nos meus. Foi suave. Calmo. Como se o tempo parasse só pra nós dois.
Me entreguei por segundos, com os olhos fechados e a alma leve.
Mas o medo veio logo em seguida, feito corrente fria no peito.
Afastei-me.
— Isso não devia ter acontecido.
Ele ficou confuso.
— Por quê?
— Porque você... é você. E eu sou só... eu.
Ele suspirou, triste.
— Você nunca entendeu, né?
E foi embora, deixando só o gosto de um quase amor.
Os dois anos seguintes foram cheios de quasses.
Quase ficamos juntos em outra festa. Quase nos beijamos no intervalo. Quase demos certo.
Mas o medo sempre voltava. A Bianca também.
Ela fazia questão de lembrar onde era o “lugar” de cada um. Ela me chamava de patinho feio sempre que Caio se aproximava. E por mais que ele não ligasse, eu me encolhia. Porque no fundo, eu ligava.
De vez em quando, Caio ainda me roubava um beijo. No corredor vazio. Atrás da arquibancada. No fundo da sala durante algum projeto em grupo.
E Dani, claro, incentivava.
— Vai, Bia. Ele gosta de você! Você não vê?
Eu via. Mas fingia que não. Era mais fácil assim.
No último dia de aula do 3º ano, Caio passou pela minha sala com os olhos cansados e um sorriso triste.
— É hoje, hein. Acabou pra mim — ele disse, com a voz embargada.
— Vai deixar saudades... — foi tudo o que consegui dizer.
— E você vai continuar fingindo que a gente nunca foi nada?
Fiquei em silêncio. A resposta engasgada.
Ele se aproximou, me olhou nos olhos pela última vez.
— Você foi a melhor parte da minha vida escolar, Bia. Mesmo que tenha sido só em pedaços.
E se foi.
Sem mais beijos.
Sem promessas.
Sem adeus oficial.
Só ficou a lembrança dele.
Do garoto que tentou me amar, enquanto eu tentava me proteger.
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Atualizado até capítulo 52
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