Desde aquele primeiro dia, Caio sempre arruma um jeito de falar comigo. Às vezes é só um “Oi, Bia”, outras vezes ele se senta do meu lado no intervalo, como se fosse a coisa mais natural do mundo.
— Você sempre se senta sozinha? — ele perguntou ontem, enquanto mordia um pedaço de pão de queijo.
— Eu gosto de ficar quieta — respondi sem nem olhar pra ele.
Ele não pareceu se importar. Só continuou ali, falando sobre como a escola é diferente da que ele estudava antes, e como ainda se perde nos corredores. Eu ria por dentro, mas por fora… mantive a mesma expressão neutra.
Por que ele continua tentando?
Dani, claro, percebe tudo. E não gosta.
— Ele tá te dando mole, Bia. Tá na cara — ele disse na quarta-feira.
— Você vê coisa onde não tem, Dani.
— Você vê menos do que devia — ele resmungou, levantando-se e indo embora.
Dani ficou mais distante essa semana. Não sei se é ciúmes, preocupação ou só drama dele mesmo. Mas agora, com Caio por perto, parece que o mundo tá me olhando mais do que nunca. E eu não gosto disso.
Eu... tenho medo.
Não de Caio. Mas de mim. De me apegar. De me machucar.
Já vi meninas como eu se iludirem com garotos como ele. E no fim, são sempre as “patinhas feias” que ficam chorando no banheiro.
Hoje, na hora do intervalo, estava encostada perto da árvore grande do pátio, lendo um livro qualquer, só pra fingir que estava ocupada. Ele apareceu do nada.
— Hey, Bia. Tá fugindo de mim? — ele perguntou, sorrindo.
— Eu? Claro que não... só gosto de ficar no meu canto.
— Engraçado... porque toda vez que chegou perto, você sai.
Fechei o livro e respirei fundo.
— É só impressão sua.
— Então me deixa ficar aqui — ele pediu, sentando-se no chão, do meu lado.
Olhei pra ele, sério. Por que ele tava fazendo isso? Por que eu?
— Tem tanta menina atrás de você... mais bonita, mais interessante. Por que tá perdendo tempo aqui?
— Porque eu gosto de falar com você. Porque você é diferente. Verdadeira.
Aquela resposta me travou. Fiquei quieta. Olhei pro chão. Senti meu coração bater acelerado, como se quisesse escapar do meu peito. Mas minha boca, teimosa, soltou:
— Você vai enjoar. Sempre enjoam.
Ele franziu a testa, confuso.
— Eu não sou “eles”, Bia — ele disse com aquele tom firme, mas calmo.
Fiquei olhando pro chão. Não sabia o que responder. Só queria desaparecer naquele momento. Meu coração estava uma bagunça, minha cabeça, pior ainda.
— Você tá no 1º ano... — soltei do nada, só pra mudar o rumo da conversa.
— Sim. E?
— Eu tô no 8º. Você tem outras pessoas, da sua turma. Por que tá perdendo tempo aqui comigo?
Ele deu uma risada curta, quase irônica.
— Então é isso? Você acha que a série muda quem eu gosto de conversar?
— Não é só isso... você é popular, Caio. Já entrou no time da escola, tá sempre cercado de gente. Eu... eu sou invisível aqui. E gosto assim.
Ele me olhou por alguns segundos, como se tentasse entender cada palavra que eu disse, como se quisesse ler o que estava escondido atrás dos meus olhos. A verdade é que eu queria gritar: "Não se aproxima, eu me machuco fácil." Mas fiquei calada.
— Eu não tô tentando te deixar famosa, Bia. Nem tô aqui por causa de quem você é pros outros. Tô aqui por quem você é pra mim.
Minha garganta fechou. O que ele quer de mim, afinal? Nenhum garoto fala assim comigo. Ninguém nunca falou.
Me levantei devagar, limpando o uniforme da poeira.
— Eu preciso ir... ainda tenho prova depois do intervalo.
Ele se levantou também, sem insistir.
— Ok... mas só pra constar: eu não vou parar de falar com você só porque você finge que não se importa.
Fingi um sorriso.
— Eu não finjo. Eu realmente não me importo.
Mentira. Eu me importava.
Demais.
Depois daquele dia, comecei a evitá-lo mais ainda. Mudava o caminho até a sala, almoçava em horários diferentes, e sempre inventava desculpas pra não conversar. Só que o problema era: quanto mais eu fugia, mais ele aparecia. Em pequenos gestos. Um bilhete na minha mochila. Um “bom dia” tímido no corredor. Um sorriso quando nossos olhos se cruzavam por acaso.
E cada uma dessas pequenas coisas ficava gravada em mim como se fosse tinta permanente.
Mesmo sendo de séries diferentes, ele sempre dava um jeito. E eu? Continuava escondida atrás do medo. Atrás da certeza de que ele era tudo o que eu nunca seria: confiante, popular, querido. E eu... só era a Bia.
Mas à noite, deitada na minha cama, olhando pro teto, meu coração gritava uma verdade que minha boca jamais deixaria escapar:
"Eu queria que ele não desistisse de mim."
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 52
Comments