Vamos para mais um dia naquela escola que eu odeio. Me chamam de “patinho feio”, mas não sou feia — só não gosto de me arrumar. Sou a melhor aluna da sala e tenho um melhor amigo, o Daniel, que considero como um irmão. Crescemos juntos; nossos pais são amigos desde pequenos.
Muita gente vive perguntando pra ele o que ele faz andando comigo. Ele é lindo, repetiu um ano e por isso está na mesma série que eu. Não vale nada, mas eu amo esse idiota, kkkkk.
Tomo meu café da manhã feito com carinho pela minha mãe. Ela trabalha fazendo faxina em várias casas e meu pai é segurança na Méndez Enterprise. Sempre tomamos café juntos. Me despeço deles e, assim que saio, já dou de cara com o Dani me esperando na frente de casa.
— Vamos, mala! Demora uma eternidade! — ele reclama.
— Vai à merda, Dani. Nem demorei. — Ele dá aquele sorrisinho debochado de sempre. Adora me irritar. Mas ninguém se engane: ele me defende de qualquer um, sempre.
Estamos no 8º ano. Assim que chegamos à escola, já começam as piadinhas. Seguro o Dani pelo braço antes que ele faça alguma besteira.
— Deixa pra lá, não liga. Já tô acostumada.
— Não devia se acostumar com isso. Você é linda. Por que não se arruma um pouco? Só pra mostrar pra essas patricinhas que você é muito mais bonita que elas. Vem sempre toda largada pra escola...
— Não preciso vir toda produzida. Eu venho pra estudar, não pra me aparecer.
— Tá, tá, tá... não falo mais — diz ele, frustrado, saindo na frente.
Mas não posso fazer nada. Não vou ser como os outros só porque querem. Sigo meu caminho de cabeça baixa, até que esbarro em alguém e... PÁ! Caio de bunda no chão, minha bolsa abre e o conteúdo se espalha.
— Ai! — reclamo.
— Desculpa! Não te vi — diz uma voz masculina.
— Imagina, eu que devia estar olhando pra frente...
Quando levanto os olhos, fico sem fôlego. O garoto é lindo. Ele estende a mão pra me ajudar a levantar e eu aceito, envergonhada.
— Caio Méndez — ele se apresenta, sorrindo.
— Beatriz Soares — respondo baixinho.
— Lindo nome, igual à dona. Posso te chamar de Bia?
— P... P... Pode — gaguejo. Nenhum menino tinha me falado isso antes... tirando o Dani, que não conta. Caio sorri de novo. E que sorriso.
— Sou novo aqui. Pode me mostrar onde é a secretaria? Preciso pegar meu horário.
— Claro, vem comigo — digo, tentando parecer calma.
Chegando lá, chamo a Gi, que trabalha na recepção.
— Oi, Gi. Esse é o Caio, aluno novo. Veio buscar o horário.
— Oi, Bia. Como sempre prestativa. Você é 10 — ela diz. Bufo por dentro. Pena que nem todo mundo acha isso.
Ela entrega o horário pro Caio e me olha:
— Bia, mostra pra ele onde fica a sala? É em frente à sua.
— Ok! Vamos.
No caminho, damos de cara com a Bianca e sua turma. Pronto. Respira, Bia.
— Olha o patinho feio tentando se amostrar pro aluno novo! — diz Bianca, com aquele sorrisinho venenoso.
Caio olha pra mim e abaixo a cabeça, morrendo de vergonha.
— Olá, gatinho. Sou a Bianca. Você devia evitar certas companhias. Isso pode acabar com sua reputação — ela continua, sem o menor senso.
Antes que ele possa responder, aponto rapidamente:
— Sua sala é aquela ali. Com licença.
Saio rápido, ouvindo risadas atrás de mim. Nem olho pra ver se ele riu também. Melhor assim. Já basta a humilhação do dia...
Mas, quando estou quase chegando na minha sala, ouço passos correndo atrás de mim.
— Ei, Bia! Espera!
Viro devagar. É ele.
— Obrigado por me mostrar tudo. E... você devia levantar a cabeça. Você não tem nada de patinho feio. Elas só falam porque se sentem ameaçadas.
— Você nem me conhece — digo, tentando conter o rubor.
— Ainda. Mas quero conhecer — ele responde, com um sorriso torto que faz meu coração disparar.
E pronto. A partir daquele momento, eu soube que as coisas iam mudar.
Entro na sala meio desnorteada, tentando entender o que acabou de acontecer. Sento na minha carteira ainda segurando os livros com força, como se fosse desmaiar se soltasse.
Dani entra logo em seguida, joga a mochila na cadeira e já manda:
— Que cara é essa? Aconteceu alguma coisa?
— Não... quer dizer... sim — falo, tentando parecer indiferente.
— Fala logo, Bia. Eu te conheço — ele me encara sério.
Olho pra ele, mordo o lábio e suspiro.
— Eu esbarrei no aluno novo... o nome dele é Caio. Ele é lindo, Dani. Tipo... muito lindo.
Ele me olha levantando uma sobrancelha.
— E?
— E nada! Eu só... achei ele bonito. Ele foi educado, me ajudou a levantar, disse que queria me conhecer...
— Ahh, já entendi — Dani ri, meio forçado. — Tá toda derretida por causa de um sorrisinho.
— Ai, Dani! Nem é assim... — Empurro ele de leve.
— Claro que não — ele responde irônico. — Mas olha só: fica esperta, Bia. Esses caras bonitos sempre têm um lado canalha.
Reviro os olhos.
— Você fala isso porque quer ser o único galã da escola.
— E eu sou — ele pisca.
Toco a cabeça com o caderno, tentando me concentrar na aula. Mas a verdade é que não consigo parar de pensar naquele sorriso.
No intervalo, eu e Dani vamos direto pro pátio. Como sempre, ele vai pegar um refrigerante e um salgado, enquanto eu fico esperando perto da quadra. É aí que ouço a gritaria.
— Ai meu Deus, ele é jogador! — grita uma das meninas do 9º ano.
— Caio! Vem pro nosso time! — um garoto chama.
Me aproximo, curiosa. E lá está ele: Caio, o aluno novo, no meio da quadra, chutando a bola com uma habilidade absurda. O professor de Educação Física parece impressionado.
— Esse garoto vai levantar nosso time! — diz ele, anotando algo.
— Ele vai entrar no time titular! — ouço outro garoto dizer empolgado.
As meninas já estão formando roda, algumas gritando, outras gravando vídeos, outras retocando a maquiagem ali mesmo. Vejo a Bianca mexendo no cabelo, toda animada.
— Óbvio que ele ia chamar atenção — murmuro pra mim mesma, sentindo um nó estranho no peito.
Dani volta, mordendo o salgado.
— O que foi? Por que essa cara?
— Nada... só... o Caio vai entrar pro time de futebol.
— Tinha que ser. Bonito, simpático e agora jogador. Vai virar rei da escola — ele fala meio seco.
— Relaxa, Dani. Nem ligo pra isso.
Mas a verdade é que eu ligava. Meus olhos não conseguiam sair dele. Tão à vontade ali, rindo, correndo, sendo elogiado...
Baixo a cabeça, como sempre faço.
— Ele foi educado comigo, só isso. Quis ser gentil. Aposto que já nem lembra meu nome... tem tanta menina linda aqui. Eu sou só a garota estranha, que ninguém nota. Não tem por que eu me iludir.
Digo isso pra mim mesma, quase como um lembrete. Uma regra pra não sair machucada.
Mas, mesmo assim, meu coração insiste em bater mais rápido toda vez que olho na direção dele.
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Atualizado até capítulo 52
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