03

O Jantar com o Doutor

Saio de casa com o coração aos pulos. Não sei exatamente o que vestir — ele não disse onde iríamos, e isso só aumentava o mistério. Opto por um vestido preto longo, justo, com um trançado nas costas e um decote discreto, mas fatal. Sexy sem ser vulgar. Nos pés, uma plataforma que me dá confiança, já que salto agulha não é meu forte.

Separo os acessórios prateados, pego minha bolsa e deixo tudo preparado. Tô nervosa, não vou mentir. Fico rodando pela casa, tentando me ocupar, mas de olho no celular a cada cinco segundos. Já tinha até me convencido de que ele não ia ligar... um homem daquele, lindo e todo doutor, devia ter mulheres de sobra.

Mas às 17h em ponto, a mensagem dele chega:

“Passando para avisar que às oito estarei te esperando no Bottino Ristorante Italiano.”

Meu coração dá um pulo. Um misto de alívio e empolgação toma conta do meu corpo.

Roupinha preta aprovada.

Aviso à minha mãe que vou sair. Às 18h30, estou na rua. O restaurante não é perto, então pego um ônibus — sob olhares e comentários. Ninguém nunca me viu tão “gata” numa segunda-feira. Mas hoje não sou todo mundo.

Chego ao centro, troco de condução e, finalmente, desço em frente ao restaurante. Mando mensagem:

— Acabei de chegar. Estou na recepção.

Enquanto espero, encontro Cássio, um conhecido que me distrai com conversa fiada. Ia até pegar o celular pra ligar pro doutor, quando ouço uma voz inconfundível, aveludada, com aquele final rouco de mexer com o corpo todo:

— Boa noite... te achei linda. Mas linda mesmo. Quase não te reconheci, Sophia.

Ele me beija o rosto com carinho e firmeza. Me despeço do Cássio e sigo com Bruno até uma mesa charmosa no meio do salão, perto do fundo.

— Posso escolher o drink? — ele pergunta com aquele sorriso que deixa qualquer uma sem fôlego.

— Pode, mas sem álcool pra mim.

— Vai me deixar bebendo sozinho?

— Não, só vou te deixar mais sóbrio amanhã. — dou uma piscada provocante.

Ele ri, encantado.

— Você é mesmo uma caixinha de surpresas...

Pedimos duas caipirinhas — a minha, sem álcool. De entrada, uma tábua de queijos. Depois, Fettuccine ao Funghi pra mim, filé ao molho roquefort pra ele. E, pra fechar, um pavê de doce de leite que já chega derretendo.

A conversa flui. Ele é leve, elegante, mas tem aquele jeito firme que instiga. A cada olhar, sinto meu corpo reagir — e ele também percebe.

Em determinado momento, duas mulheres se aproximam. Roupas justas demais, olhares mal disfarçados.

— Doutor Bruno, queria só tirar uma dúvida sobre aquele exame...

Ele se ajeita, mas mantém o tom calmo:

— Agora não, meninas. Estou fora do hospital... com minha mulher.

Sinto o impacto. Elas também. Me olham com desprezo e saem.

— Que isso, doutor? Me chamando assim...

— Foi a forma mais rápida de afastar curiosas. E proteger nosso momento.

— Esperto.

— Ou só apaixonado por uma mulher de vestido preto e olhar de perigo.

Solto uma risada e pego o garfo, tentando esconder o rubor.

— Teve dificuldade pra chegar aqui?

— Só peguei dois ônibus. Achei que vinha de Porsche?

Ele para, surpreso.

— Como você sabe que tenho uma Porsche?

— Ué, foi só um palpite. Acertei?

— Sim... uma vermelha. Tá parada aí fora.

Dou uma risada debochada.

— E eu achando que tava ofendendo.

Ele se inclina, abaixa o tom:

— Não vou deixar você voltar sozinha... com esse vestido. Seria um pecado.

A bebida chega. Ele brinda:

— A nós. Às surpresas da vida.

Bebemos. Ele me observa como se quisesse decorar cada parte do meu rosto, do meu corpo, da minha pele.

— Topa ir a um lugar mais reservado depois? — ele solta, direto.

Levanto a sobrancelha.

— Que tipo de lugar?

— Calma, nada que você não queira. Só... algo mais tranquilo. Com menos olhos em cima de nós.

— Se for o que eu tô pensando... não rola. Posso te oferecer amizade.

— Quero mais do que sua amizade, Sophia. Mas respeito seu tempo. Só... não consigo tirar você da cabeça desde que entrou no consultório.

Sorrio de canto.

— E por que eu?

— Porque você me desconcerta. Me provoca... sem esforço. E eu sou viciado em desafios.

— Cuidado, doutor. Às vezes, os desafios mordem.

Ele se aproxima, segura minha mão e diz num sussurro:

— Adoro quando mordem.

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