02

Primeira vez

Hoje é minha primeira consulta com o ginecologista. Confesso que estou nervosa. Ansiosa. Nunca fui a um, então optei pelo posto aqui perto de casa mesmo. Melhor algo prático, pensei.

Entrego meus documentos, sento na recepção e fico esperando ser chamada. Na minha cabeça, tinha certeza de que seria uma médica. Uma mulher. Estava preparada para isso.

Mas quando chamam meu nome e eu entro na sala, quase tropeço nos próprios pés.

Um homem. Um médico. E não qualquer médico — um verdadeiro galã digno de novela. Alto, elegante, com os olhos mais intensos que já vi. As pernas tremem no mesmo instante.

— Ah… me desculpa, acho que entrei na sala errada — gaguejo, tentando disfarçar a surpresa.

— Seu nome é Sophia? — ele pergunta com um meio sorriso.

— Sou sim.

— Então está no lugar certo. Pode entrar.

Sinto o rosto esquentar. Entro devagar.

— Bom dia — ele diz com gentileza. — Meu nome é doutor Bruno Brito. Sou ginecologista e vou te atender hoje.

Assinto, ainda sem graça. Mas conforme a consulta avança, começo a relaxar aos poucos.

— Me conta, o que te trouxe até aqui? — ele pergunta, abrindo a ficha.

— É minha primeira consulta com um ginecologista — respondo. — Queria saber como está minha saúde íntima, se tem algo que eu deva me preocupar, se preciso fazer exames…

— Perfeito — ele diz, anotando. — Vou te fazer algumas perguntas, tudo bem?

— Claro.

— Você tem notado mau cheiro, corrimento, menstruação irregular ou muito intensa? Como anda sua vida sexual? Usa algum método contraceptivo?

— Não tenho mau cheiro. Às vezes aparece um corrimento claro, meio esbranquiçado, mas sem odor. Minha menstruação é mais forte nos três primeiros dias. E… bom… minha vida sexual não é ativa.

Ele levanta os olhos para mim, atento.

— Não é ativa? Por escolha ou porque faz tempo?

Engulo seco. Talvez por vergonha, talvez por hábito, respondo direto:

— Nunca tive relações. Por isso também não uso anticoncepcional.

Vejo os olhos dele se estreitarem levemente. Ele continua, focado na ficha:

— Me confirma seus dados, por favor.

— Sophia Delmont, 25 anos. Primeira vez ao ginecologista. Sem queixas. Sem uso de anticoncepcional.

Ele confirma com um aceno.

— Tudo certo. Bom, então concluo que essa é sua primeira experiência nesse universo adulto de autocuidado. Já pensou em algum método contraceptivo, caso decida iniciar sua vida sexual?

— Talvez o anel vaginal, o implante ou o DIU… mas dependeria dos efeitos colaterais. O senhor indicaria algum?

— Isso varia de mulher para mulher. Nenhum método é 100% eficaz sozinho, por isso a proteção sempre é importante — ele explica. — E... você namora? Já introduziu algo na região vaginal? Algum tipo de brinquedo, por exemplo?

Sinto o rosto queimar. Desvio o olhar.

— A única coisa que toca minha região íntima são meus próprios dedos — confesso, baixinho.

Percebo um sorriso discreto nos lábios dele, que logo finge disfarçar.

— E durante a menstruação, sente dor?

— Sinto cólicas na parte baixa da barriga e dores nas costas, próximo à cintura.

Ele anota mais algumas informações.

— Tudo bem. Vou pedir alguns exames de sangue, urina e um ultrassom pélvico. Se achar necessário, farei o papanicolau. Já ouviu falar?

— Sim, já ouvi.

— Ótimo. Pode ir até o banheiro, tem um roupão limpo lá. Se vista e volte, por favor.

Faço o que ele diz. Quando volto, ele me orienta a deitar na maca e começa o ultrassom.

Passa o gel em minha barriga, concentrado.

— Olha, Sophia… até agora está tudo normal. Mas, por precaução, quero fazer o papanicolau. Tudo bem pra você?

— Tudo bem.

— Só pra confirmar: você é virgem, certo?

— Sim.

— Você é evangélica? — pergunta, parecendo curioso.

— Não. — Ele me encara, surpreso. — Por quê?

— Desculpa se pareço invasivo, mas é que é raro atender uma mulher da sua idade que ainda é virgem e que vem à consulta sem sintomas ou pedidos de contraceptivos.

— Tudo bem. Até eu me surpreendo às vezes. Como diz minha mãe: “Você não é todo mundo”.

Ele sorri, encantado. Sinto algo diferente em seu olhar. Um tipo de respeito... e um interesse que não é só clínico.

— Posso te chamar de “Soph”? Já que estou tratando de algo tão íntimo, achei que podia usar um apelido.

— Pode — respondo, com um sorriso tímido.

— Licença... abre as pernas pra mim — diz com delicadeza. — Vou introduzir o dedo, tudo bem?

Assinto. Ele realiza o exame com cuidado, mas percebo quando resmunga algo baixinho. Quase como se estivesse surpreso com a confirmação de que, sim, eu era mesmo virgem.

— Vou fazer o exame com Swab — avisa. — É apenas uma coleta de secreção vaginal. Nada invasivo, mas pode ser desconfortável.

Tudo acontece com muito profissionalismo. Logo ele termina.

— Pode se trocar, por favor.

Volto com o roupão em mãos, ajeitando os cabelos. Ele fecha a ficha e me entrega a solicitação dos exames.

— Aparentemente, está tudo certo. E, sinceramente? Seus dedos estão dando conta do recado — brinca, com um sorriso sugestivo.

Eu rio, envergonhada.

— Doutor… qual sabonete íntimo você indicaria? Já ouvi que o pH da vagina precisa estar equilibrado.

— Depende da sensibilidade. No seu caso, notei que sua pele é delicada. Alguns sabonetes podem ser abrasivos demais. Quais costuma usar?

— Sabonete de bebê. Já usei outros, mas me causaram coceiras e uma sensação de que não limpavam direito.

— Que marca?

— Granado, Baruel.

— Ótimos. Pode continuar com eles. Se em algum momento notar algo diferente, como corrimento ou irritação, pode fazer um banho de assento com camomila ou aroeira. Alivia bastante.

Assinto, satisfeita com a atenção. Me preparo para me despedir, mas ele me olha nos olhos, com uma pausa carregada de intenção.

— Posso te fazer uma pergunta fora do consultório?

— Claro.

— Você acharia estranho... ou até assédio, se eu te convidasse para sair? Comer alguma coisa?

— Você está me chamando pra sair porque sou virgem?

Ele ri, surpreso.

— Não. Estou te chamando pra sair porque gostei de você.

— Mas você é comprometido?

— Solteiro. Recém-chegado à cidade. E, sinceramente? Preciso de companhia. E você chamou minha atenção desde que entrou aqui.

Dou um sorrisinho de canto. Algo nele me instiga.

— Pode me passar seu WhatsApp? Que dia estaria disponível?

— Hoje — digo. — Essa semana, minha agenda está uma loucura.

— Hoje? Está muito cheia assim?

— Se deixar pra depois, posso mudar de ideia. Não é todo dia que aceito convites.

— E por que aceitou o meu?

— Porque você me atraiu. Não sei explicar por quê… só senti.

Ele respira fundo, como se confirmasse a própria intuição.

— Que bom. Eu também senti. Me manda o endereço que passo aí.

— Pode deixar. Te vejo mais tarde, doutor.

— Doutor só no consultório. Hoje à noite… só Bruno.

Saio do consultório sentindo meu coração disparar. Diagnóstico? Ansiedade em estado febril. Prognóstico? Algo me diz que essa história mal começou..

Ele me acompanhou até a porta, ainda sorrindo.

Eu saí com um misto de vergonha, alívio... e uma dúvida: será que foi só impressão minha ou esse médico era mais que profissional?

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