Primeira vez
Hoje é minha primeira consulta com o ginecologista. Confesso que estou nervosa. Ansiosa. Nunca fui a um, então optei pelo posto aqui perto de casa mesmo. Melhor algo prático, pensei.
Entrego meus documentos, sento na recepção e fico esperando ser chamada. Na minha cabeça, tinha certeza de que seria uma médica. Uma mulher. Estava preparada para isso.
Mas quando chamam meu nome e eu entro na sala, quase tropeço nos próprios pés.
Um homem. Um médico. E não qualquer médico — um verdadeiro galã digno de novela. Alto, elegante, com os olhos mais intensos que já vi. As pernas tremem no mesmo instante.
— Ah… me desculpa, acho que entrei na sala errada — gaguejo, tentando disfarçar a surpresa.
— Seu nome é Sophia? — ele pergunta com um meio sorriso.
— Sou sim.
— Então está no lugar certo. Pode entrar.
Sinto o rosto esquentar. Entro devagar.
— Bom dia — ele diz com gentileza. — Meu nome é doutor Bruno Brito. Sou ginecologista e vou te atender hoje.
Assinto, ainda sem graça. Mas conforme a consulta avança, começo a relaxar aos poucos.
— Me conta, o que te trouxe até aqui? — ele pergunta, abrindo a ficha.
— É minha primeira consulta com um ginecologista — respondo. — Queria saber como está minha saúde íntima, se tem algo que eu deva me preocupar, se preciso fazer exames…
— Perfeito — ele diz, anotando. — Vou te fazer algumas perguntas, tudo bem?
— Claro.
— Você tem notado mau cheiro, corrimento, menstruação irregular ou muito intensa? Como anda sua vida sexual? Usa algum método contraceptivo?
— Não tenho mau cheiro. Às vezes aparece um corrimento claro, meio esbranquiçado, mas sem odor. Minha menstruação é mais forte nos três primeiros dias. E… bom… minha vida sexual não é ativa.
Ele levanta os olhos para mim, atento.
— Não é ativa? Por escolha ou porque faz tempo?
Engulo seco. Talvez por vergonha, talvez por hábito, respondo direto:
— Nunca tive relações. Por isso também não uso anticoncepcional.
Vejo os olhos dele se estreitarem levemente. Ele continua, focado na ficha:
— Me confirma seus dados, por favor.
— Sophia Delmont, 25 anos. Primeira vez ao ginecologista. Sem queixas. Sem uso de anticoncepcional.
Ele confirma com um aceno.
— Tudo certo. Bom, então concluo que essa é sua primeira experiência nesse universo adulto de autocuidado. Já pensou em algum método contraceptivo, caso decida iniciar sua vida sexual?
— Talvez o anel vaginal, o implante ou o DIU… mas dependeria dos efeitos colaterais. O senhor indicaria algum?
— Isso varia de mulher para mulher. Nenhum método é 100% eficaz sozinho, por isso a proteção sempre é importante — ele explica. — E... você namora? Já introduziu algo na região vaginal? Algum tipo de brinquedo, por exemplo?
Sinto o rosto queimar. Desvio o olhar.
— A única coisa que toca minha região íntima são meus próprios dedos — confesso, baixinho.
Percebo um sorriso discreto nos lábios dele, que logo finge disfarçar.
— E durante a menstruação, sente dor?
— Sinto cólicas na parte baixa da barriga e dores nas costas, próximo à cintura.
Ele anota mais algumas informações.
— Tudo bem. Vou pedir alguns exames de sangue, urina e um ultrassom pélvico. Se achar necessário, farei o papanicolau. Já ouviu falar?
— Sim, já ouvi.
— Ótimo. Pode ir até o banheiro, tem um roupão limpo lá. Se vista e volte, por favor.
Faço o que ele diz. Quando volto, ele me orienta a deitar na maca e começa o ultrassom.
Passa o gel em minha barriga, concentrado.
— Olha, Sophia… até agora está tudo normal. Mas, por precaução, quero fazer o papanicolau. Tudo bem pra você?
— Tudo bem.
— Só pra confirmar: você é virgem, certo?
— Sim.
— Você é evangélica? — pergunta, parecendo curioso.
— Não. — Ele me encara, surpreso. — Por quê?
— Desculpa se pareço invasivo, mas é que é raro atender uma mulher da sua idade que ainda é virgem e que vem à consulta sem sintomas ou pedidos de contraceptivos.
— Tudo bem. Até eu me surpreendo às vezes. Como diz minha mãe: “Você não é todo mundo”.
Ele sorri, encantado. Sinto algo diferente em seu olhar. Um tipo de respeito... e um interesse que não é só clínico.
— Posso te chamar de “Soph”? Já que estou tratando de algo tão íntimo, achei que podia usar um apelido.
— Pode — respondo, com um sorriso tímido.
— Licença... abre as pernas pra mim — diz com delicadeza. — Vou introduzir o dedo, tudo bem?
Assinto. Ele realiza o exame com cuidado, mas percebo quando resmunga algo baixinho. Quase como se estivesse surpreso com a confirmação de que, sim, eu era mesmo virgem.
— Vou fazer o exame com Swab — avisa. — É apenas uma coleta de secreção vaginal. Nada invasivo, mas pode ser desconfortável.
Tudo acontece com muito profissionalismo. Logo ele termina.
— Pode se trocar, por favor.
Volto com o roupão em mãos, ajeitando os cabelos. Ele fecha a ficha e me entrega a solicitação dos exames.
— Aparentemente, está tudo certo. E, sinceramente? Seus dedos estão dando conta do recado — brinca, com um sorriso sugestivo.
Eu rio, envergonhada.
— Doutor… qual sabonete íntimo você indicaria? Já ouvi que o pH da vagina precisa estar equilibrado.
— Depende da sensibilidade. No seu caso, notei que sua pele é delicada. Alguns sabonetes podem ser abrasivos demais. Quais costuma usar?
— Sabonete de bebê. Já usei outros, mas me causaram coceiras e uma sensação de que não limpavam direito.
— Que marca?
— Granado, Baruel.
— Ótimos. Pode continuar com eles. Se em algum momento notar algo diferente, como corrimento ou irritação, pode fazer um banho de assento com camomila ou aroeira. Alivia bastante.
Assinto, satisfeita com a atenção. Me preparo para me despedir, mas ele me olha nos olhos, com uma pausa carregada de intenção.
— Posso te fazer uma pergunta fora do consultório?
— Claro.
— Você acharia estranho... ou até assédio, se eu te convidasse para sair? Comer alguma coisa?
— Você está me chamando pra sair porque sou virgem?
Ele ri, surpreso.
— Não. Estou te chamando pra sair porque gostei de você.
— Mas você é comprometido?
— Solteiro. Recém-chegado à cidade. E, sinceramente? Preciso de companhia. E você chamou minha atenção desde que entrou aqui.
Dou um sorrisinho de canto. Algo nele me instiga.
— Pode me passar seu WhatsApp? Que dia estaria disponível?
— Hoje — digo. — Essa semana, minha agenda está uma loucura.
— Hoje? Está muito cheia assim?
— Se deixar pra depois, posso mudar de ideia. Não é todo dia que aceito convites.
— E por que aceitou o meu?
— Porque você me atraiu. Não sei explicar por quê… só senti.
Ele respira fundo, como se confirmasse a própria intuição.
— Que bom. Eu também senti. Me manda o endereço que passo aí.
— Pode deixar. Te vejo mais tarde, doutor.
— Doutor só no consultório. Hoje à noite… só Bruno.
Saio do consultório sentindo meu coração disparar. Diagnóstico? Ansiedade em estado febril. Prognóstico? Algo me diz que essa história mal começou..
Ele me acompanhou até a porta, ainda sorrindo.
Eu saí com um misto de vergonha, alívio... e uma dúvida: será que foi só impressão minha ou esse médico era mais que profissional?
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Atualizado até capítulo 107
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