capítulo 4

O sol já se despedia quando Selena saiu de casa com as flores.

Ana a ajudou a descer as escadas, como sempre. Apertou a mão dela e a puxou num abraço rápido, apertado.

— Bom dia de trabalho, minha flor. Vê se come alguma coisa.

Selena sorriu, sentindo o conforto daquele gesto. Não sabia que seria a última vez.

 

Na floricultura, Diana estava animada.

— Tá quente hoje. As flores vão voar — disse, entregando os arranjos frescos.

E voaram mesmo. Selena vendeu bem. As pessoas pareciam mais generosas naquele calor grudado na pele. Ela decidiu ficar um pouco mais tarde. Talvez pagar uma conta extra, talvez só evitar a volta pra casa.

Quando se deu conta, o céu já estava roxo, tingido de sombras. Começou a caminhar pela rua menos movimentada, uma atalho que conhecia bem. O barulho da cidade diminuía à medida que ela se aproximava de um beco que costumava atravessar.

Foi ali que tudo desabou.

 

Mãos surgiram do nada. Fortes. Frias. Uma puxou o braço dela com brutalidade. Ela tentou reagir, virou o corpo, bateu com a bengala no ar.

— Не трогай лицо! Не порти товар! — disse alguém, voz grossa, em russo.

Não toque o rosto! Não estrague a mercadoria!

Selena chutou com força. Um golpe certeiro na canela de um dos homens. Ouviu um grunhido, depois sentiu o gosto metálico do sangue. Um tapa violento atravessou seu rosto, derrubando-a no chão.

A bochecha queimava. O nariz sangrava.

Ela tentou se levantar, as pernas tremendo.

— Дай мне пистолет! — gritou um deles.

Me dá a arma!

Outro respondeu, mais calmo.

— Нет. Просто усыпим её. —

Não. Só vamos sedá-la.

Ela não entendia as palavras, mas entendia o tom.

Pavor puro.

Tentou correr. Um, dois passos — e então uma picada no braço, seca e precisa.

O mundo ficou pesado. A bengala caiu com um som oco no asfalto.

Selena sentiu o corpo perder a força. O calor nas pernas virou gelo. A cabeça girava, os sons sumiam.

E então, a escuridão.

 

A rua ficou silenciosa.

O beco vazio.

As flores espalhadas no chão.

E ninguém viu mais nada.

Rússia. Moscou. Um antigo galpão industrial refeito em fortaleza.

O ar ali dentro é denso. Silencioso, mas carregado de tensão. Ninguém respira alto. Ninguém fala sem ser chamado.

No centro, de pé, o homem que todos temem — Nikolai Volkov.

Tem cerca de 30 anos. Cabelos loiros, curtos, perfeitamente penteados. Os olhos, de um verde frio, parecem mudar de cor quando ele está furioso — e agora, estão quase vermelhos.

Veste uma camisa escura, impecável sobre um corpo forte e definido. Com 1,91m de altura, a postura dele domina qualquer sala. Não precisa gritar. A presença já é ameaça.

E hoje, a presença dele está furiosa.

— Кто, сука, продаёт женщин на моей земле? — a voz sai baixa, cortante.

(Quem, caralho, está vendendo mulheres no meu território?)

Os capangas não ousam responder.

Ele anda de um lado ao outro. Os passos são pesados, precisos.

— Eu mexo com armas, com drogas, com política... — cospe no chão — mas mulher e criança, não.

Ele olha direto pro rosto de um dos homens.

— Quem fizer isso aqui dentro, assina a própria sentença. E eu mesmo vou executar.

Uma pasta é jogada sobre a mesa. Dentro, documentos, registros de chamadas, fotos borradas de containers e possíveis rotas. Há movimentação fora do país. Discreta, mas clara.

— Tem uma remessa vindo. De fora. Estão tentando entrar por baixo do meu nariz. Gente que acha que pode usar meu território como lixo sem pedir licença.

Ele fecha a pasta com um tapa seco.

— No momento em que essa carga tocar o solo russo... nós vamos estar lá.

Os olhos verdes dele brilham com raiva.

— Quero todos vivos. Principalmente o líder. Se tiver mulher no meio, tirem da linha de fogo. O resto… é meu.

Ele gira o pescoço, o maxilar travado.

— Eu vou descobrir quem está por trás disso. E quando eu descobrir...

Uma pausa.

— Que Deus ajude. Porque eu não vou.

 

No silêncio que se segue, até os criminosos mais brutais da sala se encolhem.

Nikolai Volkov pode comandar o inferno.

Mas até o inferno tem regras.

E alguém acabou de quebrar uma delas.

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Renata

Renata

isso aí coloca ordem no inferno

2025-06-16

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