Interior de um contêiner escuro. Frio. Cheio de metal e medo.
Selena acorda por segundos. O mundo está turvo, o corpo pesado como chumbo. Tenta levantar o braço, mas ele mal responde. A cabeça dói, a garganta está seca.
Ao redor, vozes baixas. Algumas choram. Outras rezam.
Ela tenta falar, mas a boca mal abre. Consegue apenas soltar um sussurro:
— Tem… alguém aí?
Uma mão encosta de leve na dela. Trêmula. Feminina.
— Você tá viva… graças a Deus. — A voz é de uma mulher jovem, mas rouca, consumida pelo pânico.
Selena tenta focar, mesmo que não veja nada. Apenas ouve. Sente.
— Onde estamos?
— Num contêiner. Fechado. Já fazem dias… ou horas, sei lá. Eles… eles soltam uma fumaça, um gás. Apaga todo mundo. Ninguém consegue ficar acordada por muito tempo.
Selena tenta sentar, mas o corpo falha. Desaba.
— Por quê?
Silêncio. E então, a resposta que quebra o chão.
— É tráfico. Tráfico de mulheres. Vão vender a gente. Entendeu? Pra onde, eu não sei. Mas ouvi um deles falando russo. Isso não é coisa pequena. É máfia.
Outra voz grita no fundo. Um soluço. Alguém vomita.
— Se for virgem… pior ainda. Eles pagam mais. Te guardam pra porco rico que quer "produto puro".
Selena congela. Não diz nada. Não treme. Mas por dentro, o coração martela no peito como se quisesse fugir sozinho.
Ela não chora. Nem grita.
Apenas sussurra para si mesma, como se Deus ainda estivesse ouvindo:
— Só me protege. Eu não sei como lutar… Eu sou cega…
As palavras morrem quando um chiado enche o contêiner. A fumaça começa de novo. Um cheiro adormecedor, como anestesia crua.
Selena tenta prender a respiração. Dura dois segundos. Depois, o mundo afunda. As vozes somem. O corpo cede.
E mais uma vez, ela cai.
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Selena está viva.
Mas por quanto tempo, e em que condições — isso ainda não está nas mãos dela.
Dias depois, Rússia. As docas.
O contêiner chegou. Passou pelas barreiras sem qualquer alarde.
Porque alguém do lado de dentro quis que fosse assim.
Um homem com acesso, posição média, respeitado o suficiente para ter códigos, horários e rotas. Ele apagou o nome do carregamento dos registros da máfia. Alterou o dia real da chegada. Quando os homens de Nikolai foram verificar, já era tarde.
As mulheres foram movidas em silêncio para um barracão afastado, escondido entre galpões velhos e campos abandonados. Segurança armada. Nenhuma placa. Nenhuma câmera.
Ali, uma por uma, elas foram tiradas do contêiner. Fracas. Trêmulas.
Selena mal conseguia andar. Cada passo era guiado por empurrões.
Dentro do barracão, o cenário era grotesco.
Gaiolas.
De ferro.
Com números pintados em branco.
Cada mulher era colocada em uma. Como mercadoria viva. Produto à venda.
Comida? Um prato raso por dia.
Água? Um copo de plástico.
Algumas, mais fracas ou machucadas, não resistiram. Morreram nas primeiras 48 horas.
Os corpos?
Não foram enterrados.
Foram queimados.
Reduzidos a pó.
“Sem corpo, sem problema”, diziam os homens que riam enquanto limpavam as cinzas.
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Sede da máfia – Gabinete do Boss
O traidor está amarrado, ensanguentado. Um olho fechado, dentes quebrados. Respiração irregular.
Nikolai está em pé diante dele, camisa suja de sangue, sem pressa.
— Você mentiu pra mim — diz com a calma de quem segura uma bomba por dentro.
— Eu só... eu precisava do dinheiro...
Nikolai agacha, encara o homem de perto.
— Você vendeu meu território. Protegeu tráfico de mulheres nas minhas docas.
Você assinou sua morte quando encobriu isso.
O homem cospe sangue.
— Vai matar mesmo assim? Mesmo eu te dando o local?
— Claro — Nikolai responde seco. — Mas primeiro você vai falar.
O traidor cede. Dói até respirar.
— O leilão… vai ser sábado… à noite… num armazém privado. Saída leste da cidade. Zona neutra. Os chefes vão estar lá. Até ele…
— Ele quem?
— O cabeça do esquema. O dono das garotas. O filho da puta vai estar lá também.
Nikolai sorri. Um sorriso de puro ódio.
— Ótimo.
Ele se levanta, pega a pistola. Encosta na testa do traidor.
— As portas do inferno se abriram.
Você é o primeiro a atravessar.
O tiro ecoa. Seco. Final.
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Agora Nikolai tem um destino. Um lugar. Um alvo.
E quando ele chegar lá…
Vai fazer o inferno parecer misericordioso.
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Atualizado até capítulo 74
Comments
Renata
autora ninguém sentiu falta da serena
ninguém vai procurar por ela
2025-06-16
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