Nas catacumbas esquecidas sob Nova Orleans, onde a cidade moderna não ousa pisar, algo se mexe.
O silêncio se rompe com um sopro gelado, como se o próprio tempo respirasse de novo.
No centro da cripta, uma tumba de pedra selada com símbolos sangrentos começa a rachar. O cheiro de sangue seco e magia antiga preenche o ar.
Silas desperta.
Seus olhos se abrem, completamente pretos, como um vazio que engole a luz. A pele cinzenta se recompõe. Os dedos esqueléticos tocam o solo como se acariciassem a própria terra amaldiçoada.
— “Ele... voltou.” — sua voz é um sussurro e um trovão.
De pé, Silas observa os ossos ao seu redor. Muitos dos que o traíram foram enterrados com ele. Mas agora... o ciclo recomeça.
— “O híbrido respira. E com ele... o erro.”
Ele caminha pela cripta. As sombras se curvam diante dele. Ao alcançar o altar, Silas toca o espelho de obsidiana. Nele, vê Kate e Jack juntos, a conexão crescendo como fogo indomável.
— “O amor deles quase destruiu tudo antes. Não cometeremos o mesmo erro duas vezes.”
Silas estende a mão. Seus olhos brilham com fúria antiga.
— “A linhagem de sangue será purificada. Com ou sem consentimento.”
As runas do teto brilham em vermelho escuro. Uma nova guerra se prepara.
No alto de um edifício elegante no centro da cidade, o Clã Nocturne, liderado por vampiros políticos e estrategistas, se reúne em segredo. Nem todos os vampiros seguem Kate — e muitos a temem. Mas Silas? Silas ainda tem devotos.
A câmara é adornada com tapeçarias de guerras antigas. Dez cadeiras. Dez vampiros. Mas só sete estão ocupadas.
— “Ela comete o mesmo erro.” — diz Lucien, olhos pálidos, sorriso cruel. — “Apaixonar-se pelo inimigo. De novo.”
— “O híbrido deve morrer antes da próxima lua cheia.” — declara Veridia, envolta em véus negros. — “Ou a linhagem pura será corrompida. Para sempre.”
— “E se a profecia estiver errada?” — pergunta Alaric, o mais novo do conselho, mas também o mais inquieto.
— “Então morremos tentando impedir o fim.” — rebate Lucien.
— “A princesa não pode saber.” — sussurra Veridia. — “Kate ainda acredita que pode controlar o híbrido. Mas está sendo consumida por ele. Pelo mesmo amor que a fez trair o clã há séculos.”
Eles colocam um pergaminho antigo sobre a mesa: o Ritual da Quebra de Laço. Um feitiço proibido. Ele separa os corações ligados pela alma… com dor e sangue.
— “Vamos matar o elo... antes de matar o híbrido.” — diz Lucien, sorrindo. — “Vamos fazer com que ela o odeie antes que o mundo o veja como um salvador.”
A chama negra no centro da sala pulsa, viva. A decisão está tomada.
E a traição já começou.
Kate caminhava sozinha pelos corredores de pedra do Refúgio Vermelho — uma das bases secretas do seu clã em Nova Orleans. As paredes úmidas exalavam o cheiro de história, poder... e morte.
Ela sentia a tensão no ar, como se olhos invisíveis a seguissem.
— “Você está mais distraída do que devia, princesa.”
A voz veio de trás. Familiar. Gelada.
Kate se virou devagar. Veridia estava parada à sombra de uma coluna, envolta em véus pretos, como sempre. Seus olhos eram duas poças de veneno disfarçadas de sabedoria.
— “Diga o que quer e acabe com isso.” — Kate disse, fria.
— “O que eu quero... é proteger o nosso povo.” — Veridia deu um passo à frente. — “E você está prestes a condenar todos por um erro que já cometeu uma vez.”
Kate apertou os punhos.
— “Você não sabe o que aconteceu naquela vida.”
— “Mas sei o que está acontecendo nesta.” — Veridia sibilou. — “Você está deixando um híbrido confundir seu julgamento.”
— “Jack é mais do que isso.” — Kate rebateu. — “Ele é o equilíbrio.”
Veridia soltou uma risada baixa.
— “Ou o fim. E você... o canal por onde a destruição começa.”
Kate se aproximou, olhos flamejantes.
— “Está me ameaçando, Veridia?”
— “Não. Estou avisando.” — A vampira abriu a mão e revelou um pequeno frasco com um líquido escuro. — “Rompam o laço. Ou vamos fazer isso por você.”
Antes que Kate pudesse responder, Veridia desapareceu nas sombras como fumaça.
Sozinha, Kate tremeu por dentro. Pela primeira vez em séculos, ela não sabia se conseguiria proteger quem amava — nem a si mesma.
Jack estava sentado no telhado de um prédio antigo, observando a cidade adormecida. A lua cheia queimava sobre ele, como um farol. Ao lado, Elian se aproximava devagar.
— “Você está quieto.” — Elian comentou.
— “Não consigo tirar Kate da cabeça.” — Jack murmurou. — “Algo está errado.”
— “Ela está bem?”
Jack apertou os olhos. Sua cabeça latejava. Havia algo... rompendo dentro dele. Como uma corda sendo puxada aos poucos, prestes a arrebentar.
— “Parece que... algo está tentando me arrancar dela.”
— “Magia?”
— “Algo mais profundo.”
Jack colocou a mão no peito. Uma dor pontuda surgiu, como se seu coração estivesse sendo tocado por garras invisíveis.
— “Ela está com medo.” — ele sussurrou.
— “Você sente isso?”
— “Sinto... porque parte de mim ainda vive nela.”
O uivo de um lobo soou ao longe, mas Jack não reagiu. Ele estava sendo atacado de um jeito que não se defendia com garras.
— “Eles estão tentando quebrar nosso elo.” — ele concluiu.
— “O que vai fazer?” — Elian perguntou.
Jack se levantou devagar, os olhos negros fixos no horizonte.
— “Não vou deixá-los apagar o que ainda nos une. Nem que eu precise atravessar os próprios portões do inferno pra impedi-los.”
A lua parecia sorrir. O sangue da lua pulsava mais forte.
E o lobo dentro dele... estava prestes a rugir.
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Atualizado até capítulo 29
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