As montanhas a oeste de Nova Orleans, onde o concreto cedia espaço para as florestas antigas, eram o lar do clã de lobos há séculos. Eles não viviam entre os humanos — caçavam à margem deles.
Na clareira central, ao redor de uma fogueira azulada, os líderes estavam reunidos. O ar pulsava. Algo antigo, algo esquecido, havia despertado.
O primeiro a falar foi Gideon, o alfa, olhos cor de âmbar, barba cerrada e marcas de batalha cruzando o peito.
— “Vocês sentiram?” — sua voz soou como trovão abafado.
Todos assentiram.
— “Um sangue híbrido corre novamente entre nós.” — disse Lua Branca, a mais velha da alcatéia, seus cabelos grisalhos trançados em símbolos de guerra. — “O herdeiro. O renegado. O maldito.”
— “Ou o escolhido.” — murmurou Elian, o segundo em comando, mais jovem, olhos intensos como tempestade.
Gideon olhou diretamente para ele.
— “Você acredita nisso, Elian? Que ele é o ‘Lobo da Lua Escarlate’? Que vai unir os clãs e destruir a Ordem de Sangue?”
— “A profecia diz que o híbrido trará equilíbrio... ou caos.” — Elian se ergueu. — “Se Jack despertou... precisamos encontrá-lo antes dos Daevon.”
— “Eles já o encontraram.” — interrompeu Lua Branca.
Silêncio. O som dos galhos estalando no fogo foi tudo o que se ouviu por alguns segundos.
— “Kate.” — rosnou Gideon. — “A princesa vampira. Aquela que foi jurada inimiga do nosso povo desde os primórdios.”
— “E amante dele, em outra era.” — completou Lua Branca.
Gideon se levantou com fúria nos olhos.
— “Então será como da última vez. Ele vai escolher o lado errado. Vai se perder entre o sangue e o desejo. E todos pagaremos o preço.”
— “E se dessa vez ele nos escolher?” — desafiou Elian. — “E se... for diferente?”
Lua Branca fitou o céu, onde a lua tingida de rubro já nascia por trás das árvores.
— “Dessa vez... não há garantias. A maldição foi quebrada. E o tempo corre contra todos nós.”
Gideon estendeu a mão e cravou suas garras na árvore ancestral ao centro da clareira. Sangue escuro brotou da madeira.
— “Convocaremos todos. Da fronteira norte até os pântanos. O Clã do Uivo Sagrado marcha esta noite.”
Enquanto isso, no subsolo de Nova Orleans, Jack sentia algo em sua pele — um formigamento, como uma cicatriz invisível queimando. Ele parou de andar.
— “Você sentiu isso?” — perguntou a Kate.
— “Eles acordaram.” — ela respondeu, sombria. — “E vêm atrás de você.”
— “Eles querem me matar?”
— “Ou te seguir.”
Jack fechou os olhos. Dentro de si, o uivo ecoava. Um chamado. Uma lembrança.
— “Eles estão vindo... porque acham que eu sou o fim. Ou o recomeço.”
Kate segurou seu braço.
— “A questão é: quem você quer ser, Jack?”
A floresta parecia segurar a respiração quando Jack adentrou a trilha marcada por garras e sangue seco. Kate o seguia em silêncio. Ela sabia que o momento era dele — o peso, o medo, a escolha.
Ao longe, uivos curtos e graves ecoavam. Eram chamados, respostas… avisos.
— “Eles sabem que você chegou.” — disse Kate.
— “Eu sei.” — Jack murmurou. — “Porque algo dentro de mim… também os chama.”
A clareira se abriu diante deles. Mais de vinte lobos os cercavam, em forma humana — corpos fortes, olhos brilhando com luz primal, e uma aura antiga como as raízes da terra. No centro, Gideon.
— “Jack.” — ele rosnou. — “Você ousa pisar em solo sagrado, ao lado de uma inimiga.”
Jack respirou fundo. Estava calmo por fora, mas dentro dele, a fera já rosnava.
— “Não vim para lutar.”
— “Então veio pra quê?” — perguntou Elian, surgindo ao lado de Gideon. Havia algo diferente em seus olhos — esperança contida, fé quebradiça.
— “Eu vim... porque algo me chama. Porque não quero ser usado por ninguém. Nem lobos. Nem vampiros. Eu quero entender o que sou.”
Gideon deu um passo à frente. Os olhos âmbar analisaram Jack.
— “Você é um erro. Um nascimento proibido. Um híbrido forjado do desejo entre duas raças que deveriam se destruir.”
— “Ou uma chance de recomeço.” — disse Elian.
Kate observava em silêncio. Os lobos a desprezavam, mas não a atacavam. Eles sabiam: ela fazia parte da maldição. E da resposta.
— “A profecia diz que ele escolherá.” — Lua Branca se aproximou. — “Mas o que poucos lembram... é que essa não é a primeira vez que ele escolhe.”
Jack franziu a testa.
— “Como assim?”
Lua Branca ergueu uma pedra negra e a encostou na testa de Jack. Um clarão branco tomou sua visão.
Kate gritou seu nome, mas ele já não estava mais ali.
Jack abriu os olhos. Estava em outro tempo.
O céu era roxo. As estrelas, mais próximas. Vampiros marchavam como realeza. Lobos corriam em bandos entre colinas verdes. E ele... ele estava entre os dois.
Jack era diferente. Os olhos dourados, o corpo envolto numa armadura feita de pedra lunar. Ao seu lado, uma vampira de cabelos vermelhos — Kate, em outra versão de si mesma. Mais selvagem, mais divina.
— “Eles não vão aceitar.” — ela dizia, olhando o anel que Jack colocava em seu dedo.
— “Não precisam aceitar. Só precisam sobreviver.” — ele respondeu.
Na visão, o antigo Jack caminhava até os dois clãs reunidos. Um em cada lado. O silêncio era cortante.
— “Unam-se.” — ele disse. — “Ou morrerão sozinhos.”
Mas os gritos vieram. Os ataques. E o caos começou.
Vampiros voavam com as presas abertas. Lobos uivavam enquanto rasgavam carne. Jack tentou impedir. Gritou. Mas foi traído.
Uma lança atravessou seu peito. E atrás dela… Silas. Um vampiro com olhos vazios como a morte.
— “Você nunca deveria ter existido.” — ele disse.
Kate gritou. A antiga Kate. Ela correu até Jack, segurando-o nos braços.
— “Nosso amor vai voltar. Em outro tempo. Em outro corpo.”
— “Mas vai sangrar.” — ele sussurrou.
Jack acordou.
A floresta. A clareira. Os lobos.
Kate se aproximou.
— “Você viu?”
— “Tudo.” — ele respondeu. — “Eu já morri por essa escolha.”
Gideon observava em silêncio.
— “E agora?” — perguntou Elian. — “Qual será sua escolha?”
Jack olhou ao redor.
— “Dessa vez... não vou morrer. Nem por vampiros. Nem por lobos.”
Ele virou-se para Kate.
— “Mas talvez... por amor. Se for a única forma de salvar os dois.”
A lua cheia surgia entre as nuvens.
E Jack... estava pronto para ser mais do que apenas um legado.
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Atualizado até capítulo 29
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