Scarlett Hayes
Saí do camarim VIP com o sangue fervendo e os saltos batendo no chão como batidas de tambor. Aquilo não foi uma conversa. Foi uma provocação. Um duelo. E eu deveria estar imune a esse tipo de homem.
Mas não estava.
Assim que entrei no camarim das dançarinas, Sasha levantou a cabeça do espelho e arqueou as sobrancelhas.
— Alguém voltou com cara de quem viu o diabo de terno.
Riley apareceu do outro lado com uma garrafa de prosecco na mão e um sorriso malicioso.
— Aposto minha coleção de salto alto que tem um homem envolvido nisso.
Joguei a bolsa no canto, arranquei os brincos e encarei os dois.
— Não. Foi só um bilionário mimado com complexo de Deus.
— Ah, então o rumor era real? — Sasha se animou — O tal cliente especial do camarote era o Lancaster?
— Damon Lancaster. Em carne, osso, ego e arrogância destilada.
Riley arregalou os olhos.
— O mesmo que mandou a assistente embora porque ela errou a marca da água importada?
— Exatamente esse. E ainda teve a audácia de me chamar pra conversar.
Sasha cruzou os braços, divertida.
— E deixou você assim... irritada, de verdade. — Aí veio a frase — Você tá com essa cara porque ele te deixou mexida.
— Quem? O Senhor Ego? Por favor. Já lidei com homens piores… e menos convencidos.
Eles riram. Mas só eu sabia o que estava pulsando por dentro. Ele me olhou como se já tivesse me possuído. Como se soubesse que minha resposta não importava, porque ele já tinha decidido por nós dois.
E pior... parte de mim sentiu. Algo. Não sei o quê. E odeio isso.
— Ele propôs um contrato. Exclusividade. Três meses ao lado dele como se eu fosse um bibelô de luxo pra esfregar na cara dos pais.
Riley levou a mão à boca num falso choque.
— Isso é sério? Ele queria comprar você como acompanhante de fachada?
— Sim. E teve a cara de pau de dizer que “ninguém rejeita” as propostas dele.
Sasha piscou.
— E o valor?
— Não cheguei a abrir. Não importa.
Ela e Riley se entreolharam. Eu rolei os olhos.
— Ah, parem com essa cara. Eu posso dançar sem roupa, mas ainda tenho dignidade.
— A gente sabe, Vênus. — disse Riley, fazendo referência ao apelido que ele não sabia que outro homem já tinha usado.
— Não me chama assim. Tô traumatizada.
Eles riram outra vez. E eu tentei rir também. Mas por dentro… o olhar dele ainda estava preso na minha pele como uma tatuagem recente.
Decidi ir embora mais cedo. Troquei de roupa, prendi o cabelo e peguei o metrô. A noite estava abafada, Nova York pulsava em neon e buzinas, mas tudo parecia mais... lento. Como se o mundo estivesse me obrigando a pensar.
E eu odeio pensar em homem arrogante.
Cheguei em casa e Evan estava no sofá, camisa sem manga, cerveja na mão e a cara fechada.
— Você chegou tarde.
— São duas da manhã, Evan. Normal.
— Vi que você saiu da boate mais cedo. Um segurança postou no stories. Aconteceu alguma coisa?
Revirei os olhos e joguei a bolsa sobre o sofá.
— Nada demais. Só um bilionário escroto tentando comprar minha presença.
Ele se levantou na hora.
— O quê?
— Calma. Eu mandei ele enfiar o contrato onde o sol não toca.
— Se esse cara aparecer de novo, você me avisa. Eu vou quebrar ele.
— Você sempre quer quebrar alguém, Evan.
— Porque eu sei como esses homens funcionam. Dinheiro, poder, controle. Você é o tipo de mulher que eles querem dominar só porque não conseguem entender.
— E é exatamente por isso que eu sou quem eu sou. Ninguém me compra. Nem o diabo.
Fui pro quarto e me tranquei. Tirei a maquiagem devagar, olhando minha própria imagem no espelho.
Scarlett Hayes.
A mulher que todos desejam.
A mulher que não deseja ninguém.
Até agora.
Odiava admitir, mas o olhar dele… aquilo me quebrou em algum lugar que eu jurava já ter fechado com tranca e cimento.
Não porque ele era bonito. Ele sabia que era. Isso o tornava pior. Era o modo como me desafiava, como se dissesse “você também vai ceder, cedo ou tarde”.
E eu? Eu sou teimosa. Mas não sou feita de pedra. Me joguei na cama, encarei o teto e sussurrei só pra mim:
— Senhor Ego… vai se arrepender de ter me escolhido.
Ou... talvez sejamos dois arrependidos muito em breve.
O sábado amanheceu lento. O tipo de manhã onde até a cidade parece respirar mais devagar. Mas minha mente, não. Minha mente rodava em círculos desde o momento em que deixei aquele camarim.
Passei o dia evitando pensar nele. No olhar. Na proposta. Na forma como ele me observava como se eu fosse um desafio vivo. Mas a verdade era que ele não me olhava como os outros. E isso me irritava mais do que eu gostaria de admitir.
Fui até o salão onde minha mãe trabalha. Ela não perguntou nada, mas me lançou um daqueles olhares que só mãe entende. O tipo de olhar que diz: “Você tá se metendo em confusão, né?”
À tarde, fui encontrar Sasha no nosso café preferido, aquele de esquina com nome francês chique e mesas pequenas demais pra nossa bagagem emocional.
Ela chegou atrasada, como sempre, com óculos escuros e aquele batom vermelho que grita “problema”.
— Você ainda tá com a cara de ontem. — ela disse, puxando a cadeira — O Senhor Ego te deixou mexida mesmo.
Revirei os olhos.
— Não vamos falar dele.
— Por isso mesmo que vamos. Você só foge de assuntos que realmente te abalam.
Suspirei, mexendo a colher no cappuccino.
— Ele me ofereceu um contrato. Três meses. Fingir que sou a namorada perfeita. Sorrisos em jantares, aparições em eventos. Tudo pra irritar os pais. E, claro, pelo show de ter uma stripper ao lado dele.
— E você vai dizer não?
— Claro que sim.
— Scarlett...
— O quê?
— Você está endividada. Eu te conheço. Só quer dizer não porque é orgulhosa. E porque ainda sangra por dentro.
Fiquei em silêncio por um instante. O som das xícaras e risos de outros clientes parecia distante. Sasha me encarava com paciência, como quem já sabe a resposta antes mesmo de ouvir.
— Eu não confio em homem nenhum. — sussurrei.
— Por causa do Brett?
Engoli seco. Só o nome ainda era um tiro no coração. Sasha sabia. Ela foi a primeira a me encontrar naquela noite. Com o vestido rasgado, o choro preso e a alma em carne viva antes de eu ir para casa chorar no colo da minha mãe.
— Ele disse que eu era a única. Que queria me tirar daquela vida. Que me amava.
— E sabemos o depois.
— Depois me usou. Me manipulou. Me controlou. Dizia que queria me proteger, mas só queria me prender. Cada beijo vinha com uma nova exigência. Cada “eu te amo” era uma coleira invisível.
— E quando você descobriu que ele tinha amor por outras, ficou com o coração em pedaços.
— É. Me fez sentir como se fosse lixo.
Sasha segurou minha mão. E eu não chorei. Já não tinha lágrimas pra ele. Só cicatrizes. Grossas, feias, e permanentemente minhas.
— Então, não é sobre Damon. É sobre não querer voltar a sentir aquilo.
— Exato. Eu me reconstruí sozinha. Pedra por pedra. Não vou me render por um olhar cinza e uma proposta escrita em papel caro.
Ela assentiu, mas sorriu de leve.
— Ainda assim... você está pensando, não está?
Dei de ombros.
— E se... eu aceitar? Mas do meu jeito. Com minhas regras. E fizer esse jogo virar contra ele?
Sasha arqueou uma sobrancelha.
— Você quer virar o jogo?
— E por que não? Ele quer me usar como peça num tabuleiro da alta sociedade? Ótimo. Mas eu também sei jogar. E eu aprendi com os piores.
Ela inclinou-se pra frente, empolgada.
— Vai usar seu veneno com glamour?
— Vou usar meu veneno com salto agulha e batom vermelho.
O plano começou a se formar ali, entre goles de café e a sombra do passado. Eu não ia me apaixonar. Isso era fato. Mas... e se eu o fizesse se apaixonar por mim? Para mim será por dinheiro, mas para ele… o que vem depois?
E se eu mostrasse que ele não tem controle sobre tudo, nem sobre mim?
Voltei pra casa com essa ideia queimando sob a pele. Subi pro meu quarto, sentei diante do espelho e encarei a mulher refletida.
Scarlett Hayes.
A stripper.
A sobrevivente.
A mulher que vai ensinar o Senhor Ego o gosto amargo da derrota.
Ainda não tenho o número dele. Mas tenho algo melhor: a certeza de que ele vai me procurar de novo.
E quando vier… vai encontrar a minha proposta, não a dele.
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Atualizado até capítulo 42
Comments
Josigg Gomes Galdino
Que crueldade, ela quer fazê-lo se apaixonar por ela, ele só quer usá-la para irritar os pais dele,e ela quer seduzí-lo para ele se apaixonar por ela,se ela sofreu por amar quem não a merecia, porque ela quer fazer o mesmo com Damon, só porque ele é rico, egocêntrico, etc... isso não se faz
2025-06-25
3
Maria Sena
Oh Scarlett, não vá com muita certeza do que quer fazer achando que o resultado será propício a você. Já ouviu falar quer o feitiço pode virar contra o feitiço? Se liga garota, o senhor gelo pode também ser muito cruel.
2025-06-30
2
Marli Santos
eita que ela é dura na queda mais pensa nele
2025-06-21
3