Damon Lancaster
O mundo espera muito de quem nasce com um sobrenome estampado em prédios, jornais e taças de champanhe. Eu nasci Lancaster. Maldito nome de ouro que sempre pesou como uma maldição.
Meu berço foi uma suíte no hospital mais caro de Manhattan. Meu primeiro brinquedo foi um Rolex miniatura, presente do Ceo de uma multinacional. Cresci ouvindo que o mundo me pertencia, desde que eu fosse exatamente quem eles queriam.
Mas eu nunca fui.
Desde garoto, eu era problema. E não do tipo que se resolve com um cheque. Eu quebrava protocolos, regras, expectativas. Enquanto os filhos dos amigos dos meus pais sorriam para as câmeras e tiravam notas perfeitas, eu estava sendo suspenso por brigar, por dizer o que pensava, por transar com a filha do diretor no laboratório de química.
Meu pai, Thomas Lancaster, vive à base de aparências. Tem o coração mais duro que mármore italiano. Ele diz que me ama, mas ama mais sua reputação. Minha mãe, Margot, é o retrato da perfeição forçada. Fria, polida, sempre com um sorriso falso nos lábios, como se tivesse sido treinada por robôs suíços.
A única pessoa real naquela mansão é minha irmã caçula, Lana.
Lana sempre foi meu porto seguro. Quatorze anos mais nova, me via como herói mesmo quando eu não merecia. Ela sabia quando eu chegava em casa bêbado, cobria meus rastros e ria das minhas ironias. Enquanto o mundo me pintava como o rebelde mimado da elite, ela enxergava minhas rachaduras.
Aos vinte e cinco, decidi que não me curvaria. Não importava quantas reuniões de acionistas eu fosse obrigado a liderar, quantas festas de gala eu tivesse que comparecer, nunca seria o boneco que eles queriam moldar.
E quando completei trinta e nove, o inferno começou de verdade.
— Você vai se casar, Damon. E vai ser com alguém à altura dos Lancaster. — disse meu pai, diante de um whisky de quinze mil dólares.
— Eu não vou me casar com ninguém, principalmente com uma boneca de cera dessas que vocês chamam de esposa ideal.
— Está na hora de amadurecer. Sua imagem está desgastada, a mídia não perdoa mais suas extravagâncias. Precisamos de estabilidade. — completou minha mãe, sempre olhando meu pescoço tatuado com desprezo.
Minha resposta foi simples:
— Então vocês vão adorar o que preparei pra vocês.
Eles não sabiam, mas naquele momento, um plano nasceu. Um contrato. Um escândalo. Um jogo.
Eu não queria amor. Não queria laços. Queria liberdade. E, se para isso eu precisasse escandalizar o sobrenome Lancaster com algo fora do roteiro, era exatamente isso que faria.
Naquela noite, Lana entrou no meu quarto enquanto eu jogava sinuca sozinho, com um charuto na boca e um copo de rum na mão.
— Eles surtaram?
— Ainda não. Mas vão.
Ela riu, sentando na beirada da mesa.
— Posso saber qual é o plano?
— Vou fechar um contrato de exclusividade com uma mulher que eles odiariam ver ao meu lado. E vou levá-la a todos os lugares. Ela será o caos que escolhi para inferniza-los.
— Isso tem cara de loucura deliciosa. Já tem alguém em mente?
— Ainda não. Mas ouvi falar de uma boate em Manhattan. Red Temptation. Dizem que as mulheres de lá fazem homens perderem contratos, esposas e fé em Deus.
Lana gargalhou.
— E você pretende achar uma mulher que aceite um contrato lá?
— Eu só preciso que ela seja linda, selvagem e que não me suporte. O resto, eu resolvo com uma caneta e alguns zeros.
Peguei o celular, abri o GPS, ajeitei os botões da camisa preta e finalizei:
— Está na hora de conhecer minha nova arma. E ela, minha doce irmã... vai ter glitter, lábios vermelhos e uma alma que nem o diabo quis.
O mundo acha que minha frieza é charme. Que meu olhar de aço e meus silêncios calculados são coisa de gente poderosa. Eles não sabem. Ninguém sabe.
Porque não é charme. É cicatriz.
Eu nem sempre fui assim. Já fui alguém que acreditava. Sim, até eu. Aos vinte e três anos, conheci alguém que atravessou meu escudo com um sorriso. O nome dela era Katherine, filha de um diplomata e, ironicamente, completamente avessa ao jogo de aparências que nos rodeava. Ela ria das festas, fazia piadas em jantares importantes, dizia que eu era um leão enjaulado tentando parecer lobo.
Ela me amava. Eu achava que amava também. Mas a verdade é que eu precisava dela. Pela primeira vez, alguém não me via como herdeiro, como número, como estratégia. E eu me agarrei àquilo como quem se agarra ao último respiro antes do afogamento.
Eu comecei a mudar por ela. Tornei-me menos cínico, mais paciente, mais… humano. E foi ali que perdi tudo.
Não porque ela me traiu. Não no início.
Mas porque me usou.
Katherine nunca quis só a mim. Queria acesso. Queria contatos. Usava meu nome para fechar acordos. Vendia sorrisos em troca de informações. Eu descobri tarde demais. Foi quando meu nome apareceu envolvido em um escândalo de lavagem de dinheiro internacional, esquema onde ela era o cérebro.
Meus pais, claro, aproveitaram o momento para me chamar de fracasso. De decepção. De vergonha da família. E mesmo com provas da manipulação de Katherine, eles preferiram acreditar que eu estava envolvido por burrice ou fraqueza emocional.
A mídia me destruiu. Fui chamado de tolo. De idiota apaixonado. De playboy enganado por uma socialite oportunista. Eu quase fui preso. Só não fui porque a equipe jurídica da Lancaster Enterprises silenciou tudo… com dinheiro e ameaças.
E Katherine?
Ela desapareceu. Sem pedir desculpas. Sem olhar para trás.
Naquela noite, depois de tudo, fiquei em pé na sacada da mansão, segurando um copo de vidro com bourbon e desejando que ele se quebrasse contra o peito e me ferisse de verdade. Só para eu ter uma dor mais fácil de explicar.
Lana me encontrou ali. Ela tinha pouca idade na época. Me abraçou sem perguntar nada. E foi naquele silêncio que eu prometi:
Nunca mais.
Nunca mais abaixar a guarda.
Nunca mais acreditar.
Nunca mais amar.
Enterrei Katherine. Enterrei o homem que fui com ela. E, no lugar, nasceu esse que todos conhecem hoje.
Damon Lancaster: o bilionário de sangue frio, que sorri com cinismo e fala com veneno.
Damon Lancaster: que troca pessoas como se fossem ações voláteis.
Damon Lancaster: que transa, mas nunca beija. Que controla, mas nunca se entrega.
Eu me tornei o que precisavam que eu fosse. E, ao mesmo tempo, o que eu precisava ser para sobreviver.
Hoje, meu nome assusta. Minhas decisões fazem Ceo’s tremerem. E meus olhos, esses que já choraram por dentro, agora só ardem com raiva contida.
Mas há algo que nunca contei a ninguém: a dor não some. Ela só muda de forma. Às vezes, ela vira prazer. Vira controle. Vira vício em ver outros sofrerem no lugar que já foi meu.
E talvez… talvez seja por isso que essa ideia do contrato me fascina tanto.
Não é só sobre irritar meus pais. Não é apenas um jogo de status. É sobre olhar nos olhos de uma mulher e dizer:
— Você é minha. E não tem escapatória.
Porque no fundo, o Damon que morreu… ainda espera, enterrado sob toneladas de sarcasmo, que alguém o veja.
E o salve.
Mas até lá, eu prefiro ser o monstro.
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Atualizado até capítulo 42
Comments
Josigg Gomes Galdino
A golpista ainda vai voltar, o pior é que esse povinho pensa que é dona ( o ) da pessoa, espero que o Damon continue frio , arrogante, cruel, etc... com essa Katherine, que não lhe dê palco,nada de segunda chance, tomara que os pais dele não vá querer aceitá-la como futura esposa do Damon e que a golpista não lhe dê outro golpe com chantagens
2025-06-25
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Maria Sena
Nossa autora, estamos diante de um opressor, mas tenho infinita esperança que em um futuro breve esse leão feroz vire um gatinho pedindo por carinho. E sempre assim, já vi esse tipo, no fundo é um romântico inato.
2025-06-30
1
Naira Sousa
kkkkkkk ... até a fé em Deus.... o negócio é sério mesmo
2025-06-20
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