Duas semanas atrás...
Algumas horas depois de me recompor da conversa com Selene, liguei para Max. Pedi que voltasse mais cedo — precisava falar com ele. Era urgente. Trinta minutos depois, ele respondeu dizendo que estava a caminho. Agora só me resta esperar.
Olho para minha mão envolta em gaze. A lembrança do que minha filha acabou de me contar ainda pulsa na minha mente.
A raiva foi tanta que esmaguei a xícara sem perceber.
Precisei lavar a ferida na pia da cozinha e enrolar um pano por cima. Lena não podia ver. Não podia ver como a ferida estava se curando depressa demais.
O tempo está acabando.
Selene nunca havia falado sobre seus sonhos. Nunca. E agora, quando finalmente contou, o que vi em seus olhos me deixou petrificada. Eu não previ isso. Não vi esse caminho se formando diante dela — como não vi o nascimento de Ariadne e Maya.
É cedo demais.
Ela está sofrendo... e não há nada que eu possa fazer para impedir. As ervas já não surtem efeito. E se o que temo for verdade... o potencial dentro dela está despertando. Antes dos trinta anos. Antes da hora.
A transição está próxima.
Selene mal come. Mal dorme. Está perdendo peso, forças, cor... a cada dia ela some um pouco mais diante de mim. E tudo isso é culpa minha. Minha filha está pagando pelas minhas escolhas.
O que vejo nela são os primeiros sintomas — sinais claros do que vem a seguir. Mas tudo está acontecendo rápido demais. Cinco anos adiantado. E se continuar assim... ela pode não sobreviver.
Pior do que isso: ela pode descobrir a verdade.
E eu não posso deixá-la descobrir.
Fiz uma promessa a Elena, no seu leito de morte. Prometi que não contaria. Mesmo que parte de mim implore para revelar tudo, não posso. Não é meu papel.
Selene precisa descobrir sozinha.
É assim que o destino determinou.
E ninguém desafia o destino impunemente.
Aqueles que tentaram... morreram. Ou coisa pior.
Desde o nascimento, eu sabia que Selene não era como os outros. Ela carregava uma luz diferente. Um brilho antigo nos olhos. Eu a chamava de meu anjinho, mas no fundo... sabia que havia algo mais.
Aos cinco anos, tive a confirmação.
Ela era especial. Especial o suficiente para o seu nascimento ser sentido... aqui, e no Outro Mundo.
E se eles já souberem... não vai demorar.
Ela será caçada. Pelo que é. Pelo que representa.
E eu a protegerei. Nem que isso me custe a vida.
Maya e Ariadne também estão envolvidas. Elas são parte disso, mesmo sem saber. Sempre foram espertas, impulsivas... mas há algo nelas que vai além da intuição. Elas têm um papel a cumprir. Um papel que o destino já escreveu.
— Mo bheatha, onde você está? — a voz de Max ecoa ao abrir a porta da frente.
— Estou aqui na sala — respondo, com o coração apertado. O segredo que carrego há tantos anos começa a me sufocar. Tudo o que temia está prestes a se revelar.
Selar meu destino foi inevitável quando fugi daquele lugar. Elena pagou por isso. Ela foi punida por ter me ajudado. Mas nunca me culpou. E eu... nunca me perdoei.
— O que aconteceu? — pergunta Max, nervoso. — Você me ligou desesperada, mas não disse nada. O que houve?
Me viro e corro para os braços dele. É ali que encontro alívio. Seus braços fortes, seu cheiro quente, aquele toque que me lembra o dia em que nos conhecemos. Max é meu lar.
E eu choro.
Choro por tudo. Pela minha irmã. Pela minha filha. Pela culpa que me acompanha como uma sombra há vinte anos.
— Max... é a Selene. Estou com medo. Ela está piorando. Está fraca demais. Os sintomas vieram cedo demais... — minha voz falha entre as lágrimas.
— Não se preocupe, meu amor. Ela vai superar. Selene é forte. Mas você tem certeza que são mesmo os sintomas? Ainda não falta cinco anos?
— Ela é diferente de nós, Max. Você sabe disso.
Ele me olha, hesitante.
— Você não acha que Selene merece saber a verdade?
— Eu também acho. Mas você sabe que não posso. Prometi. Se eu contar, posso mudar o destino. E você sabe o que acontece com quem tenta.
Afasto-me e vou até o sofá, tentando respirar.
— Mentir para elas... está me matando. Mas não é só isso. Antes de sair, Lena me contou sobre o sonho que teve. Max... é pior do que eu imaginava.
— Como assim pior?
— Ele apareceu para ela.
O silêncio entre nós pesa como chumbo.
— Você está dizendo que... ele? — a voz de Max vacila.
— Exatamente quem você está pensando.
— VOCÊ ESTÁ ME DIZENDO QUE AQUELE MALDITO AINDA ESTÁ VIVO?! — Max explode. Os punhos cerrados, os olhos cheios de fúria. Eu o conheço. Ele está a um passo de atravessar a parede.
— Sim, temo que sim.
— Mas eu vi... eu tinha certeza que ele...
— Com ele, nada é impossível. Se sobreviveu, alguém o alimentou no último instante.
— Se está aparecendo nos sonhos da Selene, só significa uma coisa... — Max diz, a voz tensa.
— Ele acha que Lena é...
— Sim. E mais: acho que ele ainda está procurando por Elena.
Meu estômago se revirou. A possibilidade me envenena.
— Não pode ser. Elena morreu. Ele teria sentido...
— Não se eles não fossem destinados. E mesmo que fossem, ela já estava fraca demais. Talvez... ele não tenha sentido nada.
— Então ele ainda está procurando — concluo, olhando para a foto de Selene, com sua boneca no quintal, aos três anos.
— Jean, me diga a verdade... Selene não é...?
— Não. E você sabe que não posso te dizer mais do que isso. Prometi a Elena. Esse segredo morre comigo. E se for o preço para destruir aquele monstro que arruinou a vida da minha irmã... então é um preço que eu pago com gosto.
Max se aproxima devagar.
— Você foi a única a quem Elena contou. E mesmo depois de tudo, ainda carrega esse fardo. Não precisa fazer isso sozinha.
— Não é tão simples. Selene não pode saber o que é. Nem como veio ao mundo. Precisa descobrir sozinha. Maya e Ari são as guias dela. Faz parte do que foi escrito.
Fechei os olhos por um segundo.
— Às vezes... vejo as três juntas e parece que estou diante de fantasmas.
— Eu sei. Mas pelo menos... Selene não é a reencarnação de Diana, certo?
— Não. Ela é o oposto disso. Se fosse Diana, eu teria sentido. O Outro Mundo também teria. O nascimento dela alterou o equilíbrio da natureza, e isso... isso é proibido. Por isso será caçada. Como um troféu raro.
— Odeio tudo isso — murmura Max.
— Eu também. Odeio colocar esse peso sobre nossas filhas. Mas não posso voltar atrás. E se algum dia elas me odiarem... que odeiem. Eu aguento.
— Elas não vão odiar só você. Vão odiar nós dois. Mas fizemos isso para protegê-las.
Max me envolve em seus braços de novo.
— A culpa é dos nossos pais. Aquele acordo maldito... se não fosse por eles...
Max nunca fala sobre o pai. Eu sei o que aquele homem fez com ele.
— Ela era minha irmã mais nova, Max. Eu devia ter protegido ela. Era pra Elena ter vindo conosco... mas ela ficou. E pagou o preço.
— Jean... se suas suspeitas estiverem certas, você sabe o que precisa fazer, não é?
— Sei. Mas estou com medo. Desfazer o que fiz há vinte anos vai colocar as três em perigo. Eles vão sentir. Vão saber. E virão. Lena é a chave. E as ervas... não fazem mais efeito.
— Quando Selene nasceu, eles sentiram. Sentiram também com Maya e Ari. Por isso sempre mudávamos de país. Mas chegou a hora. Temos que dar a elas uma chance. Se vierem atrás... nós lutaremos.
Ele segura meu rosto, com ternura.
— Por favor, não chore, Elaine...
A voz de Max invadiu minha mente. Não ouvia meu nome verdadeiro há tanto tempo.
Elaine Nymerel morreu junto com Elena. Enterrei esse nome. Jamais irei o reivindicar.
Por favor, não me chame assim. Dói demais.
Pra mim, ela nunca se foi. Está bem aqui, nos meus braços. E se tiver que morrer ao seu lado... partirei feliz.
Eu te amo, Elaine. Te amarei até o último suspiro.
Não duvidei.
— Você sabe o quanto eu te amo? — perguntei, olhando nos olhos cor de grama do homem que sempre foi meu sol.
— Eu sei. Eu também te amo. E aconteça o que acontecer... enfrentaremos juntos.
Ele me beijou com intensidade.
Naquele momento, eu me senti viva como há muito tempo não me sentia.
Max é o meu paraíso.
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Atualizado até capítulo 22
Comments
NHS CH
😍 Não consigo parar de sorrir como uma boba depois de ler essa história...
2025-06-14
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Lucy Sue French
e o meu primeiro livro que publico, Então estou meio apreensiva.
2025-06-17
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