Capítulo 4 – O Que Não Pode Ser Dito

Os dias seguintes à viagem foram um campo minado de silêncios. Dante mergulhou no trabalho como se buscasse fugir de algo — ou de alguém.

Aurora, por sua vez, tentou manter o foco, mas a noite no hotel… o “Aurora” sussurrado… não saía de sua cabeça.

Ela se perguntava se havia imaginado aquela tensão, se estava interpretando demais.

Até que o destino decidiu responder por ela.

Na terça-feira de manhã, enquanto digitava um relatório, ouviu a porta do elevador se abrir. Olhou, e seus olhos se arregalaram.

— Enzo?

Um homem de blazer cinza claro e sorriso encantador atravessou o saguão. Moreno, barba por fazer, olhos verdes, a elegância despretensiosa de quem não precisava provar nada.

Ele a abraçou sem hesitar.

— Então é aqui que você se esconde do mundo, hein?

Aurora riu, surpresa.

— Achei que estivesse em Nova York!

— Voltei ontem. Vim direto te ver. Precisamos conversar.

Ela sentiu os olhares da equipe sobre eles, e corou. Havia tempo que não via Enzo — seu amigo de infância, quase namorado por um tempo… e agora, aparentemente, um problema.

Dante saiu de sua sala nesse exato momento, falando ao celular. Parou ao ver a cena.

Enzo ainda com o braço em torno de Aurora.

Ela rindo.

O sangue de Dante gelou. O maxilar travou. Não entendeu por quê — mas sentiu algo estourar por dentro. Um tipo de raiva que não combinava com lógica.

Aurora percebeu. Sentiu o olhar dele pesar sobre sua pele.

Ela se afastou de Enzo, constrangida.

— Enzo, esse é o meu chefe. Dante Vasconcellos.

Enzo estendeu a mão com naturalidade.

— Muito prazer, senhor Vasconcellos. Ouvi falar bastante do senhor. Só elogios.

Dante apertou a mão, firme demais.

— Imagino que sim — disse, seco.

— Estávamos indo tomar um café — Enzo explicou.

— Aurora está em expediente — retrucou Dante, sem disfarçar a tensão.

Ela abriu a boca para protestar, mas ele já havia virado de costas, desaparecendo por trás da porta de vidro fosco de seu escritório.

Horas depois, Aurora entrou na sala dele com a pasta de contratos. Dante não olhou para ela. Digitava algo furiosamente no notebook.

— Trouxe os documentos do setor financeiro.

— Ótimo.

— O senhor quer que eu os leve à diretoria?

— Faça como achar melhor.

Ela hesitou.

— Está tudo bem?

Ele ergueu os olhos.

— Por que não estaria?

— Parece… irritado.

Ele fechou o notebook com força controlada.

— A empresa não é lugar para visitas pessoais. Nem para flertes no meio do expediente.

— Ele é só um amigo — disse ela, com a voz mais firme do que pretendia. — E não acho que minha vida pessoal seja da sua conta.

O silêncio entre eles foi cortante.

Dante se levantou, aproximando-se lentamente.

— Talvez não seja. Mas eu sou seu chefe. E você representa esta empresa. Quando está aqui, sua imagem importa.

— Minha imagem, ou o que o senhor sente vendo outra pessoa se aproximar de mim?

Ela não sabia de onde aquela frase veio. Saiu como uma flecha.

Ele a encarou. Tenso. Em silêncio. Uma respiração pesada.

Aurora virou-se para sair, mas Dante segurou seu pulso, suave, sem força.

— Não provoque uma guerra que você não está pronta para lutar — sussurrou, rouco.

Ela puxou o braço de volta, o coração aos pulos.

Saiu da sala sem olhar para trás.

Naquela noite, Dante não foi para casa.

Trancou-se na sala de reuniões do andar superior e ficou horas olhando gráficos que não conseguia processar.

Era ela. A presença dela bagunçava tudo.

E o pior: ele queria mais. Mais sorrisos. Mais respostas atravessadas. Mais dela.

Mas Dante Vasconcellos não sabia amar. Só sabia mandar.

E com Aurora, o controle estava escapando pelas mãos.

Enquanto isso, Aurora jantava com Enzo em um restaurante discreto.

— Então… o tal CEO — comentou ele, brincando.

— Um inferno de homem — disse ela, bebendo um gole de vinho.

— Mas mexe com você — observou ele, sem ironia.

Aurora não respondeu. Porque era verdade.

E mentir para Enzo — e para si mesma — seria inútil.

O jantar com Enzo transcorreu leve, divertido até. Eles riram, relembraram histórias do passado, mas havia algo diferente naquela noite. Algo que pairava entre as risadas e os olhares demorados.

Aurora não conseguia se entregar à leveza daquele reencontro. A sombra de Dante Vasconcellos estava presente em cada gesto, em cada pensamento.

Ela já não era mais a menina que sonhava com o Enzo de antigamente. Agora, havia alguém que a fazia sentir-se viva e à beira do abismo ao mesmo tempo.

No dia seguinte, Aurora chegou cedo ao escritório, como sempre. Mas havia uma agitação incomum no ar. Funcionários correndo, telefonemas constantes, passos apressados.

Ela se aproximou da mesa da assistente do RH.

— O que está acontecendo?

— Um jornalista recebeu informações confidenciais sobre os projetos da empresa — respondeu a moça, em tom conspiratório. — O Dante está furioso. Quer investigar tudo internamente antes que vaze para a imprensa.

Aurora engoliu em seco. Sabia que ele entraria em modo controle total. E, como sempre, ela seria arrastada junto.

Não demorou até que a voz dele surgisse no interfone:

— Sala de crise. Agora.

Na sala, estavam apenas os dois.

Dante andava de um lado para o outro, tenso. O paletó havia sido abandonado, as mangas arregaçadas, o cabelo um pouco bagunçado. Ele parecia… humano. E perigoso.

— Preciso que revise todas as mensagens enviadas na última semana. Internas e externas — disse ele, sem rodeios. — Quero saber de onde saiu o vazamento.

— Senhor Vasconcellos… são centenas de e-mails.

— Então comece pelos seus.

Aurora o encarou, surpresa.

— Está insinuando que eu—

— Não estou insinuando. Estou eliminando possibilidades. Inclusive a sua.

Ela se aproximou, sem medo.

— Sabe que jamais faria isso. Nunca colocaria meu trabalho — ou a empresa — em risco.

— Não estou em posição de confiar em ninguém.

— Nem em mim?

Os olhos dele cravaram nos dela. Um silêncio denso se formou. Algo entre eles se partia — ou se construía. Era difícil dizer.

Dante passou a mão pelos cabelos, impaciente.

— Está dispensada. Pode ir.

Mas ela não se mexeu.

— Não até o senhor admitir que o problema aqui não é o vazamento. É o que está sentindo e não consegue lidar.

Ele girou o rosto para ela, com raiva nos olhos — mas não era ódio. Era dor. E medo.

— Você acha que sabe alguma coisa sobre mim, Aurora? — sussurrou, a voz rouca. — Mas não sabe. Não faz ideia do que eu precisei controlar para chegar até aqui. Do que eu preciso reprimir todos os dias para não… ceder.

Ela deu um passo à frente.

— E por que reprimir?

— Porque você é uma distração. Uma maldita distração que não posso me permitir.

Ele avançou. Rápido.

E antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, a boca dele estava na dela.

Um beijo intenso, bruto, como se os dias de silêncio e tensão explodissem de uma vez. Como se tudo que ele guardou se derramasse em um só gesto.

Ela correspondeu. Com raiva, com desejo, com o alívio de quem também estava cansada de fugir.

Mas foi breve.

Dante se afastou tão rápido quanto a puxou.

— Isso não devia ter acontecido — disse ele, baixo, sem encará-la.

Aurora respirava com dificuldade.

— Mas aconteceu.

— E não vai se repetir.

Ele virou-se de costas, os ombros rígidos, a respiração descompassada.

Aurora recuou um passo, depois outro.

— O senhor pode fugir o quanto quiser, Dante. Mas o que sente… não vai desaparecer só porque ignora.

Ela saiu da sala, o coração em chamas. Sabia que cruzar aquela linha mudaria tudo.

E havia sido só o começo.

Capítulos
1 Capítulo 1 – Primeiras Impressões Ardentes
2 Capítulo 2 – Sob Pressão
3 Capítulo 3 – Território Pessoal
4 Capítulo 4 – O Que Não Pode Ser Dito
5 Capítulo 5 – Silêncio Que Fere
6 Capítulo 6 – Tudo Que Ele Não Diz
7 Capítulo 7 – Onde Arde o Silêncio
8 Capítulo 8 – Quando a Noite Revela
9 Capítulo 9 – Entre a Razão e o Desejo
10 Capítulo 10 – Verdades Que Queimam
11 Capítulo 11 – Ecos do Passado
12 Capítulo 12 – Portas Entreabertas
13 Capítulo 13 – Verdades que sangram
14 Capítulo 14 – Entre máscaras e verdades
15 Capítulo 15 – Entre a ruína e o renascimento
16 Capítulo 16 – O silêncio entre dois corações
17 Capítulo 17 – Sob o véu da traição
18 Capítulo 18 – Os lobos estão à espreita
19 Capítulo 19 – Verdades enterradas
20 Capítulo 20 – O Preço da Verdade
21 Capítulo 21 – Entre o amor e a verdade
22 Capítulo 22 – O Dia em Que Tudo Veio à Luz
23 Capítulo 23 – Entre Alianças e Escolhas
24 Capítulo 24 – A Sombra do Passado
25 Capítulo 25 – Entre a Verdade e o Silêncio
26 Capítulo 26 – A Hora da Verdade
27 Capítulo 27 – Condições da Esperança
28 Capítulo 28 – Máscaras de Ouro
29 Capítulo 29 – As Primeiras Fissuras
30 Capítulo 30 – Ataque Direto
31 Capítulo 31 – Linhas de Combate
32 Capítulo 32 – Limites de Controle
33 Capítulo 33 – Linhas Queimadas
34 Capítulo 34 – A Linha Tênue Entre o Desejo e o Caos
35 Capítulo 35 – Quando o Orgulho Desaba
36 Capítulo 36 – A Noite em Que Nada Foi Dito… Mas Tudo Foi Sentido
37 Capítulo 37 – Declarações Veladas, Inimigos Claros
38 Capítulo 38 – Linhas de Batalha
39 Capítulo 39 – A Tempestade Antes da Queda
40 Capítulo 40 – Debaixo da Pele
41 Capítulo 41 – Ecos do Passado
42 Capítulo 42 – A Escolha de Dante
43 Capítulo 43 – Entre o Medo e o Desejo
44 Capítulo 44 – Jogos de Poder e Sentimentos
Capítulos

Atualizado até capítulo 44

1
Capítulo 1 – Primeiras Impressões Ardentes
2
Capítulo 2 – Sob Pressão
3
Capítulo 3 – Território Pessoal
4
Capítulo 4 – O Que Não Pode Ser Dito
5
Capítulo 5 – Silêncio Que Fere
6
Capítulo 6 – Tudo Que Ele Não Diz
7
Capítulo 7 – Onde Arde o Silêncio
8
Capítulo 8 – Quando a Noite Revela
9
Capítulo 9 – Entre a Razão e o Desejo
10
Capítulo 10 – Verdades Que Queimam
11
Capítulo 11 – Ecos do Passado
12
Capítulo 12 – Portas Entreabertas
13
Capítulo 13 – Verdades que sangram
14
Capítulo 14 – Entre máscaras e verdades
15
Capítulo 15 – Entre a ruína e o renascimento
16
Capítulo 16 – O silêncio entre dois corações
17
Capítulo 17 – Sob o véu da traição
18
Capítulo 18 – Os lobos estão à espreita
19
Capítulo 19 – Verdades enterradas
20
Capítulo 20 – O Preço da Verdade
21
Capítulo 21 – Entre o amor e a verdade
22
Capítulo 22 – O Dia em Que Tudo Veio à Luz
23
Capítulo 23 – Entre Alianças e Escolhas
24
Capítulo 24 – A Sombra do Passado
25
Capítulo 25 – Entre a Verdade e o Silêncio
26
Capítulo 26 – A Hora da Verdade
27
Capítulo 27 – Condições da Esperança
28
Capítulo 28 – Máscaras de Ouro
29
Capítulo 29 – As Primeiras Fissuras
30
Capítulo 30 – Ataque Direto
31
Capítulo 31 – Linhas de Combate
32
Capítulo 32 – Limites de Controle
33
Capítulo 33 – Linhas Queimadas
34
Capítulo 34 – A Linha Tênue Entre o Desejo e o Caos
35
Capítulo 35 – Quando o Orgulho Desaba
36
Capítulo 36 – A Noite em Que Nada Foi Dito… Mas Tudo Foi Sentido
37
Capítulo 37 – Declarações Veladas, Inimigos Claros
38
Capítulo 38 – Linhas de Batalha
39
Capítulo 39 – A Tempestade Antes da Queda
40
Capítulo 40 – Debaixo da Pele
41
Capítulo 41 – Ecos do Passado
42
Capítulo 42 – A Escolha de Dante
43
Capítulo 43 – Entre o Medo e o Desejo
44
Capítulo 44 – Jogos de Poder e Sentimentos

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