^^^"Há pecados tão agradáveis que, ^^^
^^^se os confessasse, cometia^^^
^^^ o pecado do orgulho".^^^
^^^Sophie Arnould^^^
Desde que entrei na igreja, não ousei olhar para o rosto de ninguém, mantendo os olhos no chão lustroso do altar. Porém, fico curiosa com os burburinhos que vão aumentando. Olho para o lado e constato, com horror, que vários olhares curiosos estão em mim. Não consigo controlar meu coração que dispara frenético em meus peitos, espremidos pelo espartilho do meu vestido de dama de honra. É incômodo estar sob tantos olhares. Acho que, por eu não participar dos eventos e reuniões, a maioria dos convidados que são da famiglia**¹** estão surpresos por estarem finalmente me vendo depois de tanto tempo. Após a morte do papai, mamãe não me permite sair de casa, muito menos chegar perto de algum membro da famiglia. Quando têm visitas, mamãe ordena que me tranque em meu quarto e não saia até que me avisem.
Meu pai sempre dizia carinhosamente: sou uma boa menina. Não há porque desobedecer a mamãe.
Rapidamente desvio os olhos do aglomerado de pessoas e retorno a encarar minhas sandálias. Graças as aulas de etiqueta da Sra. Giordano, consigo equilibrar-me nos saltos altos e andar com eles, mesmo não estando acostumada e meus pés doerem. Ela é uma signora² gentil, mas seus olhos são frios e parecem acobertar suas inúmeras dores e demônios. Sra. Giordano me ensinou tudo que eu precisasse saber sobre a Cosa Nostra, as histórias, as regras, os crimes, o sangue abundante e o cargo importante do meu falecido pai, o consigliere. E contou-me recentemente que, daqui alguns dias, quando completar meus dezoito anos, terei que me tornar uma mulher e assumir minhas responsabilidades na famiglia. Não compreendi o que ela queria dizer com aquilo e recusou-se a contar mais detalhes, deixando-me ansiosa.
Sobressalto quando a música alta da noiva começa a tocar, como um casamento tradicional, mas sei que não se trata disso. Sra. Giordano disse-me que o casamento na máfia é só um contrato, um termo que beneficia os laços da famiglia.
Acanhada, olho para a entrada da igreja e fico boquiaberta com a beleza do vestido branco da mamãe e a elegância que ela caminha até o altar. Ela é alta, possui uma linda pele cor de creme e, mesmo com seus trinta e cinco anos de idade, poucas rugas são visíveis. Seus cabelos são longos e escuros, assim como seus olhos gélidos como cubos de gelo. Mamãe sempre anda de cabeça erguida, confiante e altivez. Ela me lembra algum tipo de realeza ibérica. O luxo e a riqueza combinam com mamãe.
Acompanho cada passo da minha mãe, encantada. Ela sobe os poucos degraus do altar com a graça de uma rainha e vira-se de costas para mim. E é quando meus olhos são atraídos para o homem enorme de frente para mamãe. O mundo parece parar, assim como minha respiração. Aquele homem é portador da beleza mais perigosa e viril que eu já havia visto. Seus olhos intensos são da cor de mil florestas, tão verdes que eu quase não encontrava o resto ali dentro. Seu rosto é perfeitamente desenhado, seu queixo grande e anguloso. O seu maxilar é firme e coberto por uma barba bem aparada. O nariz é erguido, arrebitado e ocupa perfeitamente todo o resto. Seus cabelos negros são curtos e brilham, sedosos, fazendo-me ter uma vontade insana de passar os meus dedos pelos fios. A pele bronzeada, seus ombros fortes e largos, contribuíam para seu peitoral grande e forte, que estava nítido mesmo com seu terno cinza. Ele é extremamente alto, talvez mais de 1,90 cm de puro músculo bem trabalhado. A postura dele exalava poder e perigo. Eu conseguia enxergar o sinal de uma tatuagem no seu pescoço, que escondia-se em suas roupas.
Meu corpo congela quando volto meus olhos claros para os seus e percebo que eles estão grudados em mim, intensos, predatórios. Ele desce seus olhos quentes pelo meu pescoço, pelos meus seios apertados pelo decote do vestido, minha cintura e minhas pernas que estavam nuas. Estremeço, sentindo minhas bochechas arderem e um arrepio estranho atravessar minha espinha. Tenho a sensação de que aqueles olhos famintos são capazes de devorar até a minha alma, ver os meus pensamentos e desejos mais sombrios.
Mamãe não me contou que iria se casar e nem com quem, o que não era uma surpresa para mim. Ela não me contava nada. Se não fosse pela amável Sra. Giordano — avisando-me uma semana antes, e me fazendo prometer que não falaria que fora ela a me contar —, ficaria sabendo do casamento somente no mesmo dia, como aconteceu hoje quando mamãe acordou-me cedo e disse simplesmente, sucinta e distante que iria se casar novamente naquele dia. Além de ordenar que me queria impecável ao seu lado na igreja, sem questionamentos.
Mamãe ficou viúva muito cedo e ainda é uma mulher jovem e bonita, que chama a atenção por onde passa com sua beleza. Não há motivo para ela não se casar novamente. Porém, a minha professora de etiqueta não quis contar-me muito do homem que mamãe estava se comprometendo. Pela primeira vez, conseguia ver medo em seus olhos. Ela disse apenas que ele assumiu o cargo de Don da famiglia recentemente, após o assassinato do seu pai pela nossa máfia rival, a Bratva³. Alessandro Ferri Martinelli. Já ouvira muito aquele nome pelos corredores da minha casa. Escutei os funcionários murmurando que Alessandro é extremamente habilidoso com armas e facas, que tortura seus inimigos por semanas à finco. Sussurraram, amedrontados e admirados, que ele é ainda mais brutal e intimidador que seu pai, e não mede esforços para conseguir o que quer com seus aliados ou seus vários inimigos declarados. Todos temem ele, mesmo muito antes de subir ao cargo de Don.
O sacerdote em sua batina branca comprimenta todos presentes com um suave gesto de cabeça, e então os convidados sentam, antes de começar a oração de abertura. Envergonhada e com medo do olhar penetrante de Alessandro, volto a olhar para o chão, contorcendo as mãos suadas de apreensão. Por que ele está me encarando desse jeito?
Tento me conectar nas orações que o sacerdote proclama com tanta fé, mas falho miseravelmente. Tento não pensar no olhar daquele homem, nas sensações estranhas do meu corpo, mas quando fecho os olhos por alguns segundos, só vejo um par de olhos verdes penetrantes. Engulo em seco e repreendo minha mente. O que há de errado comigo, afinal? Parece que não tenho controle do meu corpo. Não quero sentir essas coisas por esse homem por inúmeros motivos. Ele é perigoso, volátil, e meu futuro padrasto. É errado, muito errado.
Volto a prestar atenção quando o sacerdote convida os noivos a expressarem o seu consentimento. Mamãe proclama, firme:
— Prometo ser fiel, te amar e respeitar, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, todos os dias da nossa vida.
Sinto um desconforto incomum no meu estômago ouvindo suas palavras firmes. As mãos magras da minha mãe estavam unidas com as enormes de Alessandro. De repente, sinto-me doente, enjoada.
Alessandro repete as mesmas promessas que mamãe. Sua voz é forte, grossa, profunda como seu portador.
— Confirme o Senhor, benignamente, o consentimento que manifestastes perante a sua Igreja, e se digne enriquecer-vos com a sua bênção. Não separe o homem o que Deus uniu — o sacerdote recita, segurando firmemente a bíblia em suas mãos enrugadas.
O padre faz uma bênção e começa a troca das alianças. Mamãe estende a sua mão esquerda e Alessandro passa a aliança brilhante em seu dedo anelar fino. Em seguida, ela faz o mesmo com a mão esquerda de Alessandro.
— Pode beijar a noiva — o padre declara com um manejo suave de cabeça.
Engulo a bile grossa que se na minha minha garganta. Alessandro se curva um pouco para ficar na mesma altura que a minha mãe e aproxima o rosto do dela. Meu coração da um salto frenético quando encontro seus olhos cravados em mim enquanto aqueles lábios macios e tentadores estão sob os da mamãe. Seus olhos são como brasa quente, mesmo quando ele se afasta. Sua mensagem era clara e direta para mim: *você é minha*. E vou fazer da sua vida um inferno sedutor e sujo.
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Atualizado até capítulo 22
Comments
SGhostter
Já quero reler tudo de novo! 🤗
2025-06-13
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