Olhares Que Dizem Tudo

A semana passou mais devagar do que o normal para Mia. Cada aula parecia durar uma eternidade, cada intervalo era uma chance perdida de ver Dulce Maria. Desde a última conversa no jardim, as duas não haviam trocado mais do que alguns acenos tímidos. Mas os olhares… esses continuavam intensos. Quase como se gritassem tudo o que as palavras ainda não conseguiam dizer.

Na sexta-feira. Mia estava decidida a se aproximar de novo. Não queria mais fugir do que sentia, nem deixar Dulce sozinha com os seus medos. Então, ao fim da última aula, esperou na saída da sala de Dulce.

— Oi… — Mia disse, mexendo nas mangas do casaco, nervosa.

— Oi, Mia — respondeu Dulce, surpresa, mas com um pequeno sorriso nos lábios.

— Você… quer andar um pouco comigo? O sol tá?!bonito hoje.

Dulce hesitou por um segundo. Olhou para os colegas passando apressados, depois para Mia. E então, assentiu com um gesto leve de cabeça.

As duas caminharam em silêncio por alguns minutos até chegarem ao mesmo banco no jardim onde haviam conversado antes. A brisa era suave e as folhas faziam um som tranquilo ao balançar.

— Eu fiquei a pensar muito em você essa semana — Mia confessou, sentando-se ao lado de Dulce.

— Eu também pensei em você, Mia. Só que… — ela baixou o olhar — eu tenho tanto medo. Medo do que os outros vão pensar, medo de decepcionar minha família. Eu nem sei direito o que estou sentindo ainda.

Mia tocou de leve na mão dela, com cuidado, como se pedisse permissão.

— Tá tudo bem ter medo. Mas eu tô aqui. E não vou embora, Dulce. Nem que seja só pra te ouvir. Você não tá sozinha.

Dulce levantou os olhos e os encarou. Eram tão sinceros, tão gentis. Pela primeira vez, ela sentiu que talvez pudesse confiar em alguém de verdade.

— Você me faz querer ser corajosa — ela sussurrou, com os olhos brilhando.

Um silêncio doce formou-se entre as duas. Não precisavam dizer muito mais. Ali, naquele instante, entre o som das folhas e o calor tímido do sol, algo novo nascia. Uma conexão, um começo.

Elas ficaram ali por um tempo, lado a lado. Nenhuma se afastou.

E pela primeira vez, Dulce Maria sentiu que talvez amar alguém não fosse um erro — mas um caminho.

O sábado amanheceu com o coração de Mia acelerado. Ela mal havia conseguido dormir, pensando no convite que fez na noite anterior. Pela primeira vez, ia sair com Dulce Maria fora da escola. Só as duas. Um encontro.

Elas combinaram de ir à feirinha cultural do bairro — um lugar colorido, com barracas de artesanato, comidas típicas e música ao vivo. Nada muito formal. Mas, para Mia, era como um universo inteiro prestes a começar.

Dulce chegou pontualmente, vestindo uma jardineira jeans e uma blusa branca. Tinha feito tranças no cabelo e usava um batom clarinho que deixava seu sorriso ainda mais doce.

— Oi — disse, envergonhada.

— Oi! Você tá! Linda — Mia respondeu sem pensar, sentindo as bochechas esquentarem logo depois.

Dulce riu baixinho, surpresa, mas feliz. E, pela primeira vez, ela segurou a mão de Mia. Sem avisar, sem palavras — só sentiu que podia.

Elas andaram entre as barracas, experimentaram brigadeiro de colher, tiraram fotos juntas e até pintaram uma tela colaborativa de um projeto social local. Era como se o mundo inteiro tivesse diminuído o volume só pra ouvir as duas rindo.

— Sabe, eu nunca imaginei que um dia eu fosse… sentir-me assim — confessou Dulce, sentada com Mia num banquinho de madeira debaixo de uma árvore.

— Assim como? — Mia perguntou com carinho.

— Em paz. Leve. E… com vontade de não me esconder mais.

Mia apertou de leve a mão dela.

— Eu também. Eu morria de medo de me apaixonar. Até te conhecer.

O silêncio entre elas foi preenchido por um vento calmo e o som distante de um violão.

Dulce encostou a cabeça no ombro de Mia, pela primeira vez. E ali, no meio de uma feirinha qualquer, com cheiro de pipoca e corações acelerados, elas viveram sua primeira tarde como algo mais do que amigas.

Talvez o mundo ainda não estivesse pronto. Mas elas começavam ficar.

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