Olhares no Corredor

O colégio parecia o mesmo de sempre: alunos apressados, professores com pilhas de provas nas mãos e o barulho característico dos corredores antes do primeiro sinal. Mas, para Mia Park, algo havia mudado.

Ela não conseguia parar de olhar para Dulce Maria.

Desde aquele trabalho em grupo de Artes, em que passaram uma tarde pintando cartazes lado a lado. Mia percebeu uma coisa estranha: o seu coração batia mais rápido quando Dulce sorria. E Dulce... tinha um sorriso tímido, quase escondido, como quem carrega segredos que não ousa confiar a ninguém.

Na manhã daquela terça-feira, elas se cruzaram no corredor. Mia, sem pensar muito, murmurou um "oi". Dulce arregalou os olhos por um segundo, como se não esperasse ser notada. Mas respondeu, quase num sussurro:

— Oi, Mia.

E seguiu o seu caminho.

Foi um simples cumprimento. Mas, para Dulce, foi como um furacão silencioso. Seu peito se apertou com uma mistura de alegria e pânico. Ela nunca havia falado com alguém sobre o que sentia. Nem mesmo com sua melhor amiga. Como contar ao mundo que se apaixonou por meninas? Como explicar que a presença de Mia mexia com ela de um jeito novo, assustador?

Naquele dia, ambas se observaram de longe durante as aulas. Entre os cadernos, os olhares se cruzavam rápido, como se o universo inteiro pudesse desabar se alguém percebesse.

À tarde, Mia escreveu no diário que não mostrava a ninguém:

"Acho que estou gostando dela. De verdade. Mas... e se ela nunca sentir o mesmo? E se for só eu?"

Enquanto isso, Dulce deitava na cama, encarando o teto. Pensava em mil formas de fugir daquilo que sentia, mas nenhuma parecia funcionar. Fechou os olhos e desejou, só por um segundo, ser corajosa o bastante para ser quem ela era — para talvez, um dia, segurar a mão de Mia no meio do pátio.

O trabalho de História era em dupla. E, como sempre, Mia Park deixava tudo para a última hora. Quando o professor anunciou a entrega para a semana seguinte, todos se apressaram para escolher seus parceiros. Mia, no entanto, só conseguia olhar para uma pessoa: Dulce Maria.

Ela estava sentada na terceira fileira, com os auscultadores pendurados no pescoço e os olhos baixos, rabiscando o canto do caderno. Como sempre, discreta. Como sempre... encantadora?

Mia se virou para a amiga do lado e cochichou:

— E se eu chamasse a Dulce pra fazer o trabalho comigo?

— A Dulce? — a amiga arqueou a sobrancelha. — Vocês quase não conversam, né?

— ... — Mia mordeu o lábio. — Mas queria mudar isso.

Enquanto isso, Dulce fingia estar concentrada na folha, mas ouvia cada palavra que Mia dizia. Seu coração deu um pulo ao ouvir seu nome, seguido por um arrepio de ansiedade. E se Mia a chamasse? E se ela dissesse sim? E se alguém percebesse?

O sinal tocou. Era o intervalo. Dulce arrumou o material lentamente, torcendo para que Mia falasse com ela. Mas também torcendo para que não falasse. Era um conflito constante: o desejo de se esconder lutando contra o desejo de ser vista.

Mia se aproximou.

— Dulce?

A garota levantou os olhos devagar, como quem caminha na beira de um precipício.

— Oi...

— Você já tem dupla pro trabalho de História?

Dulce hesitou por um segundo. Queria dizer que sim, que já tinha alguém. Fugir seria mais fácil. Mas, pela primeira vez em muito tempo, ela deixou o coração responder:

— Não... ainda não.

Mia sorriu, aliviada.

— Então... quer fazer comigo?

Dulce sorriu de volta. Pequeno. Cauteloso. Mas verdadeiro.

— Quero, sim.

Elas saíram da sala lado a lado. Não conversaram muito, só frases curtas sobre o tema do trabalho. Mas, naquele silêncio, algo começou a nascer. Um espaço onde talvez fosse possível ser sincera. Um lugar seguro entre dois mundos que ainda não sabiam se encaixar, mas já se reconheciam.

E, pela primeira vez, Dulce não quis se esconder.

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