A manhã no palácio ainda carregava o frio restante da tensão da noite anterior. No entanto, no quarto de Clarisa, os raios do sol que entravam pela janela criavam uma luz quente e reconfortante. Ela acordou mais cedo do que o normal, talvez por ter muita coisa em sua mente. O encontro com Madam Ruri do Clã dos Pássaros, o aviso sobre o grupo extremista e a promessa de proteção de Chifuyu tudo ecoava em seus pensamentos, formando uma melodia inquieta que não se calava.
Clarisa saiu do quarto, seus passos mal faziam barulho sobre o tapete espesso. No corredor silencioso, seus ouvidos captaram vozes suaves vindo da pequena biblioteca, não muito longe da ala leste do palácio. A curiosidade que muitas vezes a levava a novas aventuras guiou seus passos. Ao se aproximar, viu Chifuyu e Kazutora conversando seriamente, com um mapa antigo estendido sobre a mesa de madeira. Um ponto vermelho brilhava entre rabiscos de tinta desbotada, ao lado de letras antigas difíceis de decifrar, conferindo um ar misterioso ao objeto.
“O que é isso?” perguntou Clarisa com voz cautelosa, rompendo o silêncio que pairava sobre a biblioteca.
Kazutora se virou, seu olhar, normalmente bem-humorado, agora estava sério.
“Um túnel secreto, Clarisa. Conectado ao subsolo do palácio. Era usado antigamente como rota de fuga em caso de invasão. Passagens antigas quase esquecidas.”
Chifuyu explicou enquanto enrolava o mapa, seus movimentos ágeis e calculados.
“Descobrimos isso hoje cedo. Se a ameaça externa se intensificar, precisamos conhecer todas as rotas seguras. E pode ser que esse túnel esconda algo sobre sua origem. Pistas que podem responder às perguntas que te atormentam há tanto tempo.”
Clarisa engoliu seco, sentindo o coração apertar.
“Minha origem?”
Essa pergunta era um fardo que ela carregava há muito, uma peça do quebra-cabeça que sempre faltava em sua vida.
“Este mapa vem da região central,” acrescentou Kazutora, apontando para a mesma área do ponto vermelho.
“Assim como Inupi. E segundo ele, o sobrenome da sua família está registrado em um pergaminho antigo guardado lá embaixo. Uma árvore genealógica que talvez contenha as respostas que você procura.”
Clarisa não hesitou. Seu sentimento era urgente, um impulso incontrolável por descobrir a verdade.
“Então me deixem ser a primeira a abrir isso.”
Chifuyu hesitou, o olhar preocupado evidente em seu rosto.
“É perigoso demais. Não sabemos o que nos espera lá.”
Clarisa o encarou com firmeza, seus olhos brilhando com determinação.
“Koko Chifuyu, isso é sobre mim. Eu não posso mais ficar para trás. Preciso saber quem eu sou. Preciso encontrar essas respostas por mim mesma.”
Por fim, Chifuyu suspirou resignado.
“Tudo bem. Mas eu vou com você. Vamos enfrentar isso juntos, Clarisa.”
Naquela noite, levando apenas uma lanterna e roupas leves, Clarisa, Chifuyu, Kazutora e Mitsuya adentraram o túnel estreito escondido atrás de uma estante empoeirada da biblioteca. O ar úmido e o cheiro de terra dominavam seus sentidos, mas o grupo se manteve calmo, tomados pela expectativa. Seus passos ecoavam suavemente, quebrando o silêncio da noite.
Após quase meia hora caminhando, chegaram a uma sala mal iluminada. As paredes de pedra áspera e baús antigos alinhados criavam uma atmosfera misteriosa, como se o tempo tivesse parado ali.
“Aqui está,” disse Kazutora em voz baixa e respeitosa, ao abrir o maior dos baús. Dentro, havia diversos pergaminhos com selos antigos, relíquias de um passado esquecido. Clarisa pegou um deles e o abriu com cuidado, as mãos ligeiramente trêmulas. O pergaminho continha uma árvore genealógica antiga, com caligrafia elegante, embora desbotada pelo tempo. Seus olhos se arregalaram ao ver seu nome entre os nobres menores da região central. Uma linhagem que ela jamais imaginara.
“Eu sou da família Nemuri?” sussurrou, quase inaudível. “Mas por que fui criada numa aldeia? Por que eu nunca soube disso?”
De repente, passos apressados ecoaram do túnel atrás deles. Um aviso que despertou todos os sentidos. Mitsuya se levantou de imediato, sacando a espada com agilidade. Seus olhos vasculharam a escuridão.
“Silêncio,” disse em tom baixo e tenso.
Segundos depois, um grupo de homens mascarados emergiu das sombras. Usavam trajes escuros, suas silhuetas dançavam nas paredes e empunhavam pequenas adagas que brilhavam à luz tênue.
“Capturem a garota,” ordenou um deles, a voz rouca e fria.
Chifuyu se colocou imediatamente à frente de Clarisa, tornando-se seu escudo.
“Só por cima do meu cadáver,” disse, com raiva vibrando em sua voz.
Kazutora e Mitsuya agiram rápido, formando uma linha defensiva ao redor de Clarisa. O combate estourou em meio ao silêncio sufocante do subsolo. Espadas se cruzaram, o som do metal enchia o ambiente, lanternas caíram e se quebraram, pergaminhos voaram. Clarisa recuou para um canto, o coração disparado, até que alguém a puxou por trás, com destreza.
Era um jovem de olhos penetrantes, sem máscara. Ele sussurrou em seu ouvido com urgência, mas em tom calmo.
“Se você confiar em mim, venha agora. Aqui não é mais seguro.”
Clarisa o olhou por um instante, seus olhos encontrando os dele. Ela reconhecia aquele olhar. Era o mesmo que via em seus sonhos, nas visões que a perseguiam à noite. Uma conexão inexplicável. Ela assentiu uma decisão tomada em frações de segundo, guiada por instinto e pressentimento.
Fugiram por um túnel lateral, uma fenda quase imperceptível. Atrás deles, os sons da batalha diminuíam aos poucos. O jovem a guiou por passagens estreitas e tortuosas, até saírem além dos muros do palácio, em meio à escuridão de uma floresta silenciosa.
“Quem é você?” perguntou Clarisa, ainda ofegante, o corpo tremendo.
Ele se virou, o olhar fixo e sério.
“Meu nome é Izana. Sou do Clã das Sombras. Mas não sou como aqueles que querem te machucar.”
Clarisa ficou em silêncio, ainda sem fôlego.
“Por que está me ajudando?”
Izana respirou fundo, e uma expressão de tristeza e firmeza atravessou seu rosto.
“Porque eu devo isso ao seu pai.”
“Meu pai?” Clarisa sussurrou, o coração acelerado.
“Sim. Ele me salvou quando eu era criança. Arriscou tudo para proteger muita gente inclusive você.” A voz de Izana estava cheia de reverência e sinceridade.
“Seu pai era um homem extraordinário, Clarisa. Ele viu potencial em mim, mesmo quando ninguém mais via.”
Clarisa ficou em silêncio. Lágrimas escorreram pelo seu rosto, lembranças vagas de um abraço quente, da voz suave de seu pai contando histórias, do riso acolhedor tudo voltou como se estivesse ali, ao alcance da mão.
Izana tocou seu ombro, o gesto suave, mas firme.
“Eu sei que tudo isso é confuso. É muita coisa de uma vez. Mas você não está sozinha. Nós eu vamos te ajudar a descobrir a verdade. Juntos, vamos revelar todos os segredos. Mas agora, você precisa voltar ao palácio. Koko Chifuyu deve estar te procurando, preocupado.”
Clarisa ergueu o olhar para o céu estrelado. Ela sabia que aquilo era apenas o começo. As perguntas sobre sua origem, sobre o Clã das Sombras, e sobre Izana giravam em sua mente.
“Tudo bem,” disse ela suavemente, com voz decidida.
“Mas eu voltarei não como uma criança assustada. Mas como uma mulher pronta para descobrir quem realmente é e enfrentar a verdade.”
Izana sorriu de leve, um sorriso raro, mas cheio de significado.
“Eu acredito nisso. E sempre estarei aqui para você, Clarisa. Mais do que um aliado. Serei a sombra que te protege, se você permitir.”
Havia um brilho misterioso em seu olhar uma promessa silenciosa por trás das palavras.
Caminharam juntos de volta para o portão lateral do palácio, os passos sincronizados entre as árvores. Ao longe, ouviram o apito de um guarda, e logo a figura de Chifuyu surgiu entre os arbustos, o rosto pálido e tomado de preocupação.
Ao ver Clarisa, ele correu até ela e a abraçou forte, como se nunca mais quisesse soltá-la. O abraço era apertado, carregado de alívio e temor.
“Nunca mais faça isso de novo,” disse ele, com voz rouca, quase um sussurro, enterrando o rosto nos cabelos de Clarisa.
Clarisa sorriu suavemente e se afastou um pouco.
“Desculpa, Mano mas eu precisava saber. E agora, sei um pouco mais.”
Ela lançou um olhar para Izana, um sorriso de gratidão surgindo nos lábios. Izana assentiu levemente, como se compreendesse o que as palavras não disseram.
Chifuyu suspirou, olhando para Izana com um olhar cheio de perguntas, mas decidiu não dizer nada por ora. Em vez disso, tocou a testa de Clarisa com delicadeza, acariciando-a.
“Vamos encontrar o resto juntos. Seja o que for, enfrentaremos lado a lado.”
E naquela noite, não foram apenas segredos que vieram à tona mas também um coração que começava a confiar, e uma semente de romance que silenciosamente germinava em meio à tempestade, prometendo proteção e força nos dias que viriam. Clarisa sabia: sua jornada estava apenas começando, e ela não a enfrentaria sozinha. Izana, o homem de olhos intensos, era parte de um destino recém-revelado um mistério que começava, pouco a pouco, a se revelar.
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Atualizado até capítulo 40
Comments
Otavio Pónzi
Qué bonita kkk 😹
2025-06-14
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