Capítulo 3

Julian Pereira

Ainda a frente do apartamento, recebo uma ligação de um número desconhecido e resolvo atender.

— Sim, quem é?

— Senhor Pereira, aqui é a senhora Clara, eu sou uma assistente social e recebi algumas queixas de que a sua irmã vive em condições precárias e ainda não foi a escola.

— Oh! - Eu não sabia o que dizer, pois, infelizmente isso é verdade. Eu tento dar uma vida melhor para ela, mais tudo está difícil.

— Como a situação não é de risco imediato e eu tenho várias coisas para fazer, eu ti dou um prazo de duas semanas para melhorar a situação ou terei que tomar medidas drásticas e isso quer dizer levar a criança. E também peço que me envie os vossos dados, porque até agora eu não encontrei nada.

— Tudo bem. - Ela desliga e a minha vontade era de chorar, ali mesmo, mais a minha irmã abri a porta e tive que engolir o choro e dar-lhe um grande sorriso.

— Sofia! - A abraço forte e tento disfarçar ao máximo a preocupação que me sufoca.

— Eu estava esperando por você. - Ela diz retribuindo um sorriso meigo e lindo. Entro em casa e estar com a minha irmã, faz o stresse e a pressão se dissipar por uns instantes. Apesar das dificuldades, ela sempre esteve do meu lado com os olhos brilhando de esperança e pura alegria.

Lembro que nem foi difícil convencê-la a fugir comigo e recomeçar do zero. Ela veio comigo sem hesitar, sem olhar para trás e eu sinto muito orgulho dela.

— Como foi o seu dia? - Pergunto e vou mudar de roupa na casa de banho, e coloca uma mais casual.

Saio de lá e encontro ela bem animada.

— Correu bem, irmão. Vem ver o que eu aprendi hoje! - Ela dá uns pulinhos no sofá e eu fico com medo que o sofá velho não aguente.

Esse apartamento, além de ser muito pequeno, está em péssimas condições, com móveis velhos e desgastados. A tv, que ficava no canto da sala, mal funcionava, com a imagem tremida e som crachado. A geladeira da cozinha, fazia um barulho estranho de tão velha que é.

Reclamei uma vez com o dono sobre as péssimas condições do lugar e o valor absurdo que tenho que pagar, mais ele apenas disse que se eu não estava satisfeito, era só procurar outro lugar.

— Olha isso. - Ela mostra uns passos de balé que havia aprendido durante o dia. Eu não pude deixar de sorrir ao vê-la tão feliz e cheio de vida.

A sua dança é graciosa e cheio de entusiasmo.

— Eu quero dançar com as outras meninas, como as que eu vejo na tv. - Ela disse com os olhos brilhando e eu sinto um aperto no meu peito. — Podemos fazer isso, irmão? Podemos dançar juntas?

Eu sinto um nó na minha garganta ao vê-la cheia de esperança. A situação atual é muito desafiante, e a possibilidade de perder a guarda dela é real. Mais eu não a quero desapontar e com certeza eu faria tudo o que fosse possível para realizar o seu sonho.

— Claro, Sofia. - Digo, tentando soar confiante e ela se anima ainda mais. — Nós vamos encontrar uma maneira de fazer isso acontecer. Você vai dançar com as outras meninas, e eu vou estar lá para te apoiar.

Depois da dança, fui fazer o jantar e ela se ofereceu para ajudar. Juntos preparamos uma simples refeição de sopas de legumes, acompanhado de pães que eu comprei mais cedo.

O apartamento era pequeno, mais cheio de amor. Enquanto cozinhávamos, conversamos e rimos-nos de coisas aleatórias.

Ao comer, não pude parar de pensar em tudo. Eu sei que preciso encontrar um emprego e proporcionar uma vida mais digna a minha irmã.

— Eu amo você, irmão. - Ela diz de repente e abraça-me. Esse gesto era exatamente o que eu precisava e penso até que ela advinhou isso.

— Eu também te amo, minha querida. Nós vamos superar tudo juntos, não é? - Nos entreolhamos com um sorriso e ela acena a cabeça.

— Sim, nós vamos superar tudo juntos. Aconteça o que acontecer, eu vou estar sempre contigo, meu irmão.

Sorrio e sinto a minha motivação renovada. Amanhã vou continuar a procura de emprego e espero conseguir desta vez.

.........

Dias depois

Após dias de procura, a única resposta que tive foi um grande "não". Eu não percebo e as vezes até sinto que o mundo está contra mim e a minha vontade de sobreviver.

Alguns lugares nem aceitaram a minha candidatura para a entrevista e me olham torto, como se eu tivesse feito algo.

Enquanto eu estava sentado no parque, pensando sobre a minha situação, um homem se aproximou de mim e parou de pé a minha frente.

— Julian, certo? - Perguntou com uma cara neutra.

— Sim, sou eu. - Eu respondo, sentindo um pouco desconfiado.

— Eu trabalho para o senhor Victor e sou o seu segurança. - Apenas o encaro e não sei de quem ele se refere, mais o nome me é familiar. — Ele pediu-me para falar com o senhor sobre um contrato de trabalho.

— De trabalho? - Sinto um pingo de esperança brotar em meu coração, mais a situação em si, é muito estranha. O normal seria eu ir atrás de um emprego e não ele vir atrás de mim. — Que tipo de contrato?

Ele sorriu, mais eu não gostei desse sorriso. Parecia falso e calculista.

— Um contrato de trabalho muito... especial. -Ele disse, parecendo procurar o melhor termo para falar. — O senhor Victor está disposto a oferecer ti um emprego, mais com certas... condições.

Sinto um alerta interno. Algo não parecia certo.

— Que condições? - Eu pergunto, tentando manter a calma. Ele se aproximou mais de mim e sua voz baixou para um tom conspiratório.

— Condições que garantirão que você seja bem cuidado e... protegido. Mais o senhor precisa estar disposto a cooperar.

Eu sinto um arrepio percorrer a minha espinha. Eu não gostei da forma que o segurança falou, e não parecia ser uma boa ideia trabalhar para esse tal de Victor.

— Eu acho que não estou interessado. - Eu disse e tento levantar-me, mais o segurança colocou a mão sobre o meu ombro e impediu-me de o fazer.

— Eu suponho que você deveria reconsiderar. ‐ Ele disse com a sua voz agora mais dura. — O senhor Victor não é alguém que você quer desagradar.

Eu sinto um medo crescente e tirei a sua mão do meu ombro, saindo dali o mais rápido possível.

Após correr por um tempo, olho para trás e percebo que ele não veio atrás de mim e respiro mais aliviado.

— Isso foi estranho.

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